7 de maio de 1912
a castanha da mira azulada fustigava o que outrora fora madeira brilhante distribuída em bonitas tábuas limpas e novas. rue sentiu que a mira das crianças ao redor escrutinizava-lhe a ponto de sentir vergonha. os rutilantes olhos das sete da manhã que previamente se encontravam à frente dos seus próprios passos agora estavam quietos, atirados ao chão.
− rue, de onde veio? ― peter questionou a novata.
− quebec, canadá. ― a menina murmurejou ― mas meu pai era daqui, então sou metade canadense e metade alemã.
− canadá não é um país de verdade! ― diehl mentiu aos risos.
− peter, já não se recorda do que lhe passou ontem? ― a senhora ühlmann questionou, apontando para a palmatória.
− recordo sim, senhora. ― peter meneou a cabeça, assustado.
− pois então cale-se! ― a mestra esbravejou.
− sim, senhora ühlmann. ― diehl acatou à ordem.
− esse peter é chato, né max? ― valentin tentou conversar com a melhor amiga, mas foi ignorado. ― max... eu vou contar para a professora que eu tinha perdido o livro e a esther achou.
~ onde está com a cabeça, valentin? ― não lembra-se do incidente com a joaninha?
~ sempre que eu quero que você não fique triste você me xinga, max... ― valentin estava muito, muito triste.
maxine não sabia o que responder. apenas ajeitou-se na cadeira e manteve as mãos sobre a mesa amadeirada; contemplou com o coração vazio e um sentimento soturno a bandeira rubro-alvinegra do império alemão, estendida em seu suporte enferrujado a meio passo de distância do quadro-negro, sobre onde exibia-se a bandeira alvi-azulada do reino da baviera, à frente mais elevada da sala de aula, onde alunos eram postos para humilhar-se, na melhor das hipóteses, com os risos de toda a classe.
e assim, percebeu que as espreitadelas das outras crianças pairavam sobre si.
− senhorita maxine, o que eu acabei de dizer? ― a professora gertrude questionou.
não bastou mais de um segundo para que jung batesse as orbes avermelhadas num papel que valentin discretamente exibia-lhe: nele, com a letra confusa e garranchuda, porém costumária, e a gramática revirada e destruída ao avesso, lia-se a frase "ispero que você mim perdoe se souber que a professora falo sobre quem era william shekespere". valentin estava tentando evitar que ela fosse repreendida, e max conhecia o amigo: ele realmente estava tentando se redimir.
− levante-se e diga a resposta em alto e bom tom. ― ordenou a espartana mestra.
− s-sim senhora, a senhora estava a falar sobre quem era william shakespeare, senhora ühlmann. ― jung afirmou.
− e sobre o que eu estava falando?
− sobre... a vida dele. ― a jovem das tranças avelãs hesitou, mas sabia que sua fala devia percorrer toda a sala para evitar ser punida severamente.
− qual parte? ― interrogou gertrude.
− a... morte de hamnet, filho de william? ― maxine arriscou: essa parte ela não sabia ao certo.
− errado! ― em uma fração de segundos, maxine já estava sendo arrastada para a frente da sala.
~ maldito seja! ― maxine murmurejou.
− o que disse, jung? ― a mestra questionou.
− nada, senhorita ühlmann.
− disse algo por trás de minhas costas, não foi? ― gertrude perguntou.
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SENSŌ GA OWATTA TOKI
Ficção Históricaalemanha, 1912. maxine jung é uma jovem menina alemã que vive no sudeste da baviera; com sua personalidade estoica, ela tem total certeza de que as tensões na europa podem gerar algo pior; infelizmente, ela está certa. ― ficção histórica, romance e...