vii · você não tem medo?

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10 de junho de 1912

maxine se sentou no parapeito da janela. uma corrente luminosa atribuiu aos fios castanhos um tom levemente dourado ao impôr a calidez de seu reflexo nas delicadas mechas da jung ao que via - ainda magoada pelo incidente da semana anterior - sua irmã, a única estudante de balé naquele vago estúdio, a ensaiar arduamente; martha tinha uma paixão talvez doentia pela dança, e os rodopios afiados deixavam isto mais do que claro.

estavam adiantadas, então maxine se levantou. não atraindo a atenção da mais velha, saiu do aposento - não podia ainda sentir o cheiro fresco da tinta a óleo ou da argila úmida; estava ainda cedo demais.

dois caminhos agora se cruzavam: diante das orbes avermelhadas, passava uma jovem de fios de fogo já familiares a quem jung eventualmente dirigiria a palavra.

− bom dia, hildegard.

hilde acenou com a cabeça, empunhando na destra o que parecia ser um rosário.

− bom dia.

maxine continuou vagando. agora via beatrice, alguns metros distante da ruivinha solitária; fora cumprimentada muito mais alegremente pela mais velha, que mostrava um humor alegre. agora não lhe restava mais nenhum lugar - uma jung entendiada sentou-se num dos degraus da escada do estabelecimento tão avidamente frequentado; assim, via o movimento aumentar assim que o tempo passava, as folhas das árvores caíam e os pássaros cantarolavam.

o vento quase que tentava trançar os cabelos amarronzados de tão forte que se encontrava. então max apoiou o rosto sobre a destra, vendo as pessoas eventualmente chegarem perto. entre elas, estava hugo, que reagiu à presença de jung com um sorriso; este devolvido por parte de maxine.

fora convidada a entrar e aceitou, indo direto para as aulas de pintura. sua tarde foi boa, mas martha estava prestes a arruiná-la com suas birras ultrapassadas, chateada por não ter a espectadora por perto para invejá-la ou algo parecido.

− você não podia e não devia ter saído da sala, maxine! ― martha reclamou ― eu não estava dançando "pro ar" e sim para alguém ver e falar alguma coisa!

− balé é chato. ― maxine afastou-se de martha.

− não, não é! ― antes que sua irmã não mais se fizesse presente dentro do que seus olhos podiam ver, martha contestou a irmã ― idiota...

[...]

martha saíra correndo do centro cultural. maxine se entretinha através de um balanço preso a uma árvore perto da edificação - ainda assim, seus movimentos para frente e para trás eram lentos e demasiado enfadonhos, comprovando que a espera pela irmã que gostaria de ter deixado no centro à própria sorte tinha sido longa demais. o problema é que martha quase sempre saía acompanhada de casa, o que significava que ela encontraria dificuldade ao locomover-se por weinfurt e voltar para casa sozinha, além de que max muito provavelmente ficaria de castigo caso o fizesse.

− max, eu consegui!

maxine apenas girou-se no balanço de forma que agora olhasse para martha.

− tá.

e depois se virou de costas.

− não vai querer saber o que eu consegui?

− não.

− nossa... vai, max, pergunta o que eu consegui, por favorzinho!

− não.

− eu nunca te pedi nadinha de nada, max!

− já pediu um monte de vezes.

− por favor...

− quinze marcos de ouro.

martha ficou em silêncio. mesmo assim, dava para ver seu descontentamento.

[...]

era bastante óbvio que na hora do jantar martha denunciaria ao pai o tratamento alegadamente injusto que recebera da irmã mais nova. e é óbvio que maxine seria repreendida - a esse ponto, ela não estava nem aí. martin exigiu que maxine questionasse a irmã a respeito do que tinha conseguido; maxine resistiu às ordens de primeira, mas depois acatou e percebeu que não devia ter perguntado quando a resposta tinha a ver com balé.

− eu, martha karoline jung, hoje declaro que serei a prima ballerina da apresentação de 'o lago dos cisnes' de tchaikovsky!

maxine apenas soltou um suspiro. não estava gostando nada desse assunto de balé, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito a não ser aguardar até que lhe permitissem deixar a mesa.

este momento finalmente chegou. maxine caminhou até a biblioteca, e agora sentada atrás do velho piano, dedilhou as teclas, evidenciando seu talento através de uma agradável melodia.

passou um bom tempo tocando o instrumento. se cansou e viu que era melhor sentar-se no chão próximo à janela e absorver um pouco da luz que dava adeus junto do sol poente. as pálpebras pesaram e eventualmente caíram devido ao cansaço ― maxine acabou dormindo na biblioteca naquela noite.

[...]
16 de junho de 1912

usando roupas quase que intocadas em seus tecidos caros que denotavam a posição social da família jung e demasiado formais para o uso diário, as irmãs martha e maxine atenderam a missa, como era de praxe todo domingo. ouviam melhor o padre, estando à frente junto de outros filhos de aristocratas; maxine sabia bem o que estava sendo dito, mas não se importava uma vez que não acreditava no conteúdo dos salmos e palavras do clero. sentada na borda do banco, se virou e viu ellie atenta aos verbetes em latim que o padre discorria habilmente; pensou em acenar mas decidiu falar com ela depois.

quase caindo de sono, era forçada a compreender cada palavra do que dizia o católico diante das pessoas; tentava manter os olhos abertos mas andava muito sonolenta.

até que o padre a chamou, o mesmo ainda de pé sobre o altar, e maxine pôde sentir toda a igreja em silêncio a observando.

aquilo tinha sido bem vergonhoso.

[...]

maxine e ellie agora conversavam fora da igreja. quando a missa acabara, suzanne disse a jung que devia pedir desculpas a deus e ao padre; quando o fizera, sentiu que o padre a olhava de uma forna muito estranha e dizia coisas com um tom estranho, mesmo ela tendo apenas doze anos.

ellie parecia desapontada, mas não surpresa. o novo padre da cidade era um homem com comportamento estranho, que via a forte reprovação de alguns dos fiéis desde três semanas antes, quando assumira o posto do conhecido padre arthur.

elas passaram a conversar sobre algumas das palavras do padre, que envolviam guerra. ellie sentiu o coração doer quando ouviu as palavras xenofóbicas e ameaças do padre. não bastavam os ataques do padre, alguns xingaram a família fora da igreja.

a europa passava por mais tensões. pensando nisto, elena recolheu um jornal e viu que todas as notícias tinham a ver com política.

− você não tem medo dos ataques piorarem? ― dvoraková questionou.



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END OF ARC I
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SENSŌ GA OWATTA TOKIOnde histórias criam vida. Descubra agora