Capítulo 09

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Se eu tivesse apenas sentido o calor em seu toque
Se eu tivesse apenas visto como você sorri quando fica vermelha
Ou como você faz biquinho quando está muito concentrada
Eu saberia pelo que eu estava vivendo esse tempo todo
Pelo que eu estava vivendo
Turning page- Sleeping at last

⚜️

Quando foi que minha vida começou a dar tão errado assim?

Em um momento eu era apenas uma assistente responsável, com trabalho estável, futuro certo, estudo em dia e agora... estou no banco do passageiro do carro do Cohen a caminho do Ateliê, rezando para que Holly não me entregue. Nem ela, nem ninguém que esteja lá. 

O caminho até o carro já foi absurdamente humilhante. As pessoas abriram espaço para o Cohen como se a qualquer mínimo olhar, elas fossem se desintegrar. 

— Desculpe pelo meu irmão. — Cohen diz de repente. Perdida em pensamentos, eu mal digeri sua voz. 

— O que disse? 

— Casper, ontem. Ele nunca sabe a hora de parar, e pode ser bem desagradável às vezes. 

— Ah, sim. Estou acostumada com o humor dele. Apesar de nunca saber quando ele está brincando ou falando a verdade. 

— Como eu disse. 

Assenti suspirando por um momento. E voltamos aquele silêncio. A sensação era a de que eu não tinha aguentado um dia completo. 

Estava a caminho do ateliê, então Casper Archer é a menor das minhas preocupações.

Estar em um carro sozinha com Cohen, também não deveria ser grande coisa comparado ao que estávamos indo fazer, no entanto, parecia faltar aquela distância segura e ar fresco.

— Algum problema com sua família? — Cohen irrompeu o silêncio novamente.
 
— Como?

— Sua família. Longe de me intrometer, mas a porta ainda não tem acústico.  Ouvi você chorando e achei que pudesse ter algum problema. — Não tive muito tempo para pensar se deveria ou não responder. 

— Nada que eu consiga resolver. — Ele buscou meu olhar rapidamente. — Era um choro de… saudade e raiva. 

— Raiva de quem? — Ignorei a quase preocupação na sua voz. 

— De mim mesma. — Fui sincera, direcionando meus pensamentos na voz cansada e aparência exausta da minha mãe. Nas dores que papai sentia no fim do dia, e na empolgação do Tom que eu morreria se alguém ousasse tirar aquele brilho esperançoso dos seus olhos. — A impotência é uma merda… desculpe!

— Não precisa se desculpar! — Disse em um sorriso franco. — Eu sei exatamente como é! 

Anui reprimindo o ímpeto de debochar. Cohen não faz ideia do que é se sentir impotente diante de uma situação como essa. Não quando, para começo de conversa, ser quem ele é, elimina qualquer chance de passar por problemas como os que minha família estava enfrentando. 

— Que cara é essa? — inquiriu ofendido, mas um sorriso de canto nasceu ali. Na minha tentativa de esconder o que estava sentindo, devo ter criado uma careta que dizia por si só. — Acha que eu não sei o que é se sentir impotente? 

— Não é isso. Quem sou eu pra dizer o que o que já sentiu ou não, mas… as situações são bem diferentes, acredite.

— Então você acha que alguém como eu não tem o direito de se sentir impotente? 

— Me diga o que o seu dinheiro não compra, Archer. — O desafiei. Um silêncio perdurou por longos minutos, ele perdeu seus olhos na estrada, calando-se sem pretensão alguma de me dar uma resposta.

Dama de Prata - DISPONÍVEL NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora