Capítulo 02

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É um sentimento desconhecido, mas eu o conheço tão bem
Você sabe a verdade, eu prefiro te abraçar
Do que este celular na minha mão
Car's outside - James Arthur

⚜️

— Uma curiosidade, Anya. — Joe começa enquanto preparava meu café atrás do balcão.

Eu estava me perguntando como se tira a cafeína do café olhando para o nada.
Para não correr o risco de repetir o atraso de ontem, cheguei um pouco mais cedo, mesmo lutando contra uma dor de cabeça terrível graças à última taça de vinho, e acabei pegando Joe em seu horário mais tranquilo, pouco antes desse lugar virar uma loucura com a chegada dos funcionários.

Ele se tornou a primeira pessoa com quem tenho contato dentro da empresa. Assim como eu, Joe não é funcionário direto da Archer, portanto podíamos falar mal sem correr o risco de sermos pegos por algum supervisor ou responsável. Bem, não tinha muito o que falar, já que a remuneração é ótima e os benefícios são vários. — Minha saúde bucal que o diga. — Então, nosso único assunto da manhã era falar mal de Cohen Archer.

Especialmente o Joe.

Ele adora ressaltar diariamente que, apesar de todos os requisitos físicos, Cohen é uma péssima escolha.

— Ele ressarce os cafés que caem no seu salário? — Perguntou, passando meu crachá no leitor de comandas. Meu cérebro não estava a todo vapor, por isso demorei um pouco para raciocinar a sua pergunta.

— Joe, depois de todo esse tempo, você me diz agora que passa os dois cafés na minha comanda, sabendo que um deles é para o dono deste prédio inteiro?!  — Ele sorriu, mas não de um jeito animado.

— Eu preciso lançar de alguma forma, e você nunca me deu outra comanda senão a sua. — Explicou-se receoso. Outros longos segundos antecederam meus cálculos mentais de quanta grana eu perdia para alguém que pode ter uma cafeteria inteira por dia.

— Ele nunca me deu um crachá, ele só me deu uma ordem, e eu achei que ser o dono era suficiente pra você descontar em sei lá... no aluguel.

— Ele pode ser o dono, mas eu não.
Riu depois de me empurrar dois cafés e meu crachá de volta.

— Eu vou pedir o ressarcimento. Joe, são quase dois anos bancando o café diário de um cara que ainda precisa de uma colher do meu café, para ter o seu adoçado. — Mais uma vez ele sorriu, riscando algo que eu sabia ser seu número de telefone na luva de copo. Ele faz isso todos os dias.

— Veja pelo lado bom, você fez uma economia.

— Tem razão. Se ele me devolver com juros e correção monetária eu ainda posso pagar pela minha formatura. — Acrescentei com falso entusiasmo.

— Você não vai pedir de volta, não é? 
Neguei com um sorriso tímido.

— Preciso desse trabalho. É bem capaz dele dizer, tudo bem, aqui está seu ressarcimento e suas prestações de contas. — Tentei imitar seu jeito presunçoso de dizer que não precisava das pessoas.

— Até parece. — Desdenhou, apoiando seus cotovelos no balcão entre nós. — O cara lá de cima não vive mais sem você.
Era assim que nós o chamávamos. Quase como um código secreto.

Dama de Prata - DISPONÍVEL NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora