Ressábios

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Teresa resolve não ir mais ao Sarau não quer encontrar com a moça, e tampouco com Antero.
Teresa ajeita as flores no vaso de cobre, as mãos tremem quando ouve aquela voz rouca lhe dizer –Precisamos conversar!
Teresa está magoada –Não entendo o que de tão importante queres me dizer Antero.
-Tereza eu não era noivo de Branca, eu a conheço desde a escola, ,mas nunca sequer fomos amigos. Minha mãe arranjou esse noivado as pressas para poder evitar que eu me aproxime de ti.
-Eu entendo, é o mesmo que meus pais fizeram comigo e moacir...
-Eu não vou me casar com Branca, não vou!
-E nem comigo Antero !  Teresa começa chorar
-Não, eu não aguento de ver assim (Ele a abraça)
-Meus pais vão adiantar o noivado!
- Teresa eu não vou deixar que te forçem a casar, não vou!
-Não piore as coisas Antero.
Antero saiu desamarrando o lenço branco, tinha um semblante triste, os olhos alagados na dor que iria perder a mulher que amava... e tudo por uma inimizade que não era dele.
Teresa chegou na fazenda, já foi recebida por muitas pessoas, o churrasco tem um cheiro forte,  de carne e de gordura, antes de descer da carruagem já é ampanhada por Moacir que lhe estende a mão –Minha noiva... eu estava ansioso...
Teresa entra na casa e vai direto a mãe –Para que esse monte de gente?Para que? Essa extravagante festa? Para meu noivado? Gostaria de saber!
-Sim para seu noivado Teresa... agora se arrume e seja gentil com os convidados!
-Eu não amo Moacir, nem nunca vou amar! 
-Vá se ajeitar... prefere que eu chame seu pai?
Teresa não consegue esconder sua insatisfação durante a festa, mas algo conseguia lhe alegrar... Adelaide e seu irmão Francisco estavam encantados um pelo outro e isso a enchia de esperança, Francisco dança com Adelaide.
A mãe de Moacir, Dona Odete faz um comentário –Mas Francisco não combina com essa moça....
Teresa sabia que a tia se referia ao fato de Adelaide de ser uma moça muito simples, e de descendência negra, sabia que seria mais um amor proibido.... as vezes desejava não ser daquela família.
-Na sua pequena visão de mundo, que só casou por interesses, eles não combinam... o que não combina é a senhora ir na missa todo dia e aqui pregar tanto ódio minha tia! Diz Teresa.
Na volta a cidade, as aulas mais longas, os dias  de verão, Teresa vê correr a chuva na janela de guilhotina, já corre na vila, o boato do casamento dela.
Rômulo e Antero tocam uma ponta de gado na mangueira... Henriqueta surge corada na varanda para servir o almoço...
-Parece que os do canto Salles vão ter grande festa no mês de Junho...
Rômulo sorri – mas porque desse assunto minha esposa?
Henriqueta estremece – sinto muito Antero
Mostra o convite de casamento com as inicias de Teresa e Moacir...
Antero se levanta da mesa – eu não vou permitir esse casamento... eu vou roubar Teresa se for o caso...
Antero monta a cavalo para voltar a cidade, tão logo Henriqueta e Rômulo saem atrás do amigo para que ele não cometa nenhum desatino;
Chegam na casa de Henriqueta, Rômulo se reúne com Antero, Jeremias e Abel, amigos de longa data, proporciona o encontro para animar a cabeça de Antero, ora desolado pela notícia do casamento de Teresa...
Os rapazes jogam cartas, bebem e fazem algumas trovas... Branca surge ... se aproxima de Antero –meu noivo...
Antero está amargo... irritado
-Não sou teu noivo... não lhe pedi em casamento... vá procurar henriqueta ... me deixa ter paz!
Não tarda,para que os homens começem a falar de política, de ódios.
Antero já alterado –Se houver outro levante... os primeiros que eu vou lastimar serão os do Canto Salles,  a família de Teresa eles me odeiam! 
-Mas claro são maragatos não é, diz Abel
- E eu, Eu amo a filha deles...
Já escurece lá fora , Rômulo pede a Henriqueta – Dê jeito em ajeitar uma comida e não tire os olhos de Antero... já está embriagado ... eu preciso ir ver se meu avô está melhor daquele cobreiro...
Antero e os outros seguem proseando, rindo ... Antero olha na janela –Vejam como Rômulo monta a cavalo pelo lado contrário...
Antero vê Teresa entrar na casa ao lado... seus olhos ficam em chamas...
Dona Zilá, mãe de Henriqueta, mora naquela casa, a velha é uma  costureira de mão cheia, e responsável pelo vestido de Teresa ...   Teresa de pé na frente do espelho Dona Zilá lhe ajusta o vestido com alfinetes, ela calada e chorosa....
-Esperem aqui ... tenho uma questão a resolver...
Antero saí depressa... quase correndo na direção da casa de Dona Zilá....
-Mas onde ele foi .... questiona Henriqueta
-Não sei acho que em sua mãe...
Teresa caminha provando o vestido com os sapatos... dona zilá fica na volta analisando.
Antero entra depressa –Não perca seu tempo fazendo vestido, não vais casar...
-Mas o que isso rapaz, que atrevimento, diz Zila
-Saia daqui Tia zila. Eu quero conversar com ela...
-Antero amanhã conversamos...
-Agora Teresa... vamos agora!
Zilá corre para chamar Henriqueta
-Desista desse casamento, eu e você vamos para Uruguay...
-Antero... me deixe ao menos ...
-Não... não deixo... tira esse vestido Teresa... tira!
-Eu vou me trocar... espere...
-Não vai casar entendeu... não vais...
Antero pega ela do braço...
-Antero se acalme está fora de sí... assim não podemos conversar... Está estragando meu vestido... pare!
-O branco é pela sua pureza Teresa!
Teresa para ... fica olhando ... ela lhe dá uma bofetada no rosto... –Basta... eu não vou conversar contigo... não nesse estado!
Nesse instante já entram Henriqueta e os outros... inclusive Branca...
Branca dispara -Só podia ser por causa dessa desavergonhada que Antero veio aqui...
-Por favor Branca, diz Henriqueta...
-Não me importa o que pensa de mim... diz Teresa
- sim, é uma desavergonhada, uma libertina...
Elas gritam ...
-Cale a boca diz Teresa
Branca grita – Uma Pecadora, uma qualquer...uma vadia
Teresa segura Branca pelo cabelo, lhe dá um tapa no rosto, Branca quase cai nos braços de Henriqueta...
-Eu não quero mal de Antero, por isso irei me enterrar em uma união infeliz... eu não preciso passar por tantas ofensas... diz Teresa.
Teresa sai caminhando, Antero atrás dela
-Não vai ter casamento.... diz Antero
-Me deixe em paz
-Acalme-se Antero, diz Henriqueta...
Antero desmancha algumas flores da mesa de Zilá, atira o vaso na parede,  as mãos sangram pelos cacos de vidro – Vão embora daqui me deixe falar com ela...
Antero pega do braço de Teresa –Você não pode me trocar... eu a amo...
Num ataque de fúria... Você não vai casar de branco, não vai... ele  segura o vestido começam os dois em uma quase luta corporal, ele a empurra.  Antero lhe puxa o vestido, abrindo no meio do decote.... vai rasgando o tecido acetinado... puxa com força –Para está me machucando...
Os outros tentam parar Antero...
Caem os dois no chão de madeira... Antero bebâdo, Teresa quase desnuda... o tecido branco sujo de sangue das mãos dele...  ela ofegante chora... como sempre chorosa... 
Teresa é arrumada com ajuda de Henriqueta. 
Antero se levanta, pega Teresa, lhe coloca o paletó por cima, segura Teresa pelo braço- você vem comigo!
-Antero... Pense bem o que vai fazer, diz Rômulo
Antero monta a cavalo e coloca Teresa em sua frente.
Henriqueta junta o vestido de noiva de Teresa , pede a todos –todos vocês... o que houve aqui deve ficar em segredo... por favor...

Antero cavalga depressa, tem um diabo nos olhos...
-Antero para onde vamos?
- Para a  Estância da Pintagueira...
Por sorte os pais de Antero estavam para Pelotas em razão do avó de Antero, senhor Plautino estar acamado.
Antero desce do cavalo, cambaleando, a empregada Palmira sempre ao lado deles,  Antero sobe a escada, entram ele e Teresa no quarto, ela ainda assustada...
Antero beija Teresa, aquele cheiro de alcool, ele beija suas costas, de cima a baixo, a barba roçando na pele, Teresa é colocada em seus braços –Eu te amo Teresa... 
Eles se beijam, quente, mordiscado, ele a coloca sentada em seu colo, ficam naquele vai e vem de corpos, se tocam fundo na carne, ele a firma em cima dele, ficam mexendo depressa, até se entregarem...
Teresa, o leva até a banheira, a água gelada, ela o ensaboa, enxuga depressa, leva Antero para cama.
Palmira o cobre, ela e Teresa ficam ali, vendo Antero pegar em um sono pesado, dormia um sono dos justos, ressonando de  debruços na enorme cama de colchas em rendas...
Antero e Teresa retornam bem cedo para a Villa, Teresa limpa a casa da madrinha não imagina mais seus  chegam cedo na casa de Zila
-Temos pressa é  pegar o vestido e pagar o serviço e ir embora, diz Augusto
Mariana entra na casa da costureira, de certo Zilá estava na filha, iria chamar, Augusto fica esperando,  anda um pouco na casa, olha em cima da mesa de costura o vestido rasgado e manchado de sangue...
Quando Mariana e Zilá retornam Augusto tem o vestido nas mãos –Oque significa isso?
-Foi um acidente ... diz Zilá
-Acidente não, foi Antero que rasgou o vestido... diz Branca debruçada na janela
Augusto joga o vestido no chão –Eu mesmo vou matar esse rapaz... esperem  !

 Amores Maragatos  - Série CaleidoscópioOnde histórias criam vida. Descubra agora