Sangria

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A Família do ex Intendente de Piratini, senhor Alcebiadis, faz um grandiosa festa para comemorar os seus oitenta e nove anos,  muito conhecido, ele convidou as vizinhanças para um dia festivo, com castração de animais, carreiras, jogo de osso e Churrasqueada. 
A família de Teresa é convidada de honra, chegam todos muito bem vestidos, carregados de presentes para o amigo Alcebíades.
Os homens envolvidos nas atividades, mais de cem convidados,  as mulheres nas tarefas da casa, doces, rodas de bordado e mate doce, debaixo dos parreirais, gaitas e violões choram xotes e milongas, uma verdadeira festa de campanha.
Antero Romulo, amigos desde a faculdade, também são convidados, eles e os amigos bebem e fazem apostas nos cavalos de carreira (corrida).
Rômulo faz um gesto com os olhos para Antero mostra que na casa chegam mais e mais convidados, Teresa está bonita em tons de azul, os cabelos soltos, de braço dado com a mãe, Teresa sorri cumprimentando o aniversariante.
-Aquele que chegou de colete marrom é o pai da Teresa... e os outros são os irmãos e tios dela,  não achas melhor irmos embora? Pergunta Rômulo.
-Não, não há necessidade! Teresa não quer me ver nem morto... eu não vou me aproximar... diz Antero
Aqueles bailes de campanha que se iniciam do nada e logo estão todos dançando, Antero e outros rapazes bebem e fazem apostas, Antero está corado pela bebida, a camisa branca o colete preto... riem dos causos do velho Alcebiades...
Os mais jovens dançam, as senhoras, tias e mães, olham tudo de perto, Teresa permanece sentada ao lado da mãe.
Moacir, é primo de Teresa, filho de Amadeu, um jovem arrogante, que nunca escondeu seu interesse por Teresa, estende a mão para ela, Teresa balança negativamente a cabeça, a mãe dela a corrige –Filha não faça essa desfeita... ele é seu primo, gente da nossa gente !
Teresa dança muito sem jeito, mal consegue olhar nos olhos de Moacir... sabia de suas más intenções.

Teresa é convidada pela mãe para juntar Laranjas frescas para o suco, ela desce na direção do pomar, não gosta quando de longe vê Rômulo de conversa com outros homens, não precisa se aproximar para avistar Antero debruçado na mangueira, a camisa branca arremangada, os cabelos claros agora revirados pelo vento, Antero põe os olhos em Teresa e vai cego na direção dela  fala baixo no ouvido dela – Estás linda assim de azul ... linda como o céu deste Rio Grande !
-Antero, por favor, os meus tios, meus irmãos estão aqui se eles se dão conta que você está na minha volta, vai dar uma confusão.
-Eu não devo satisfação para eles... mas entendo... em seguida, eu  monto a cavalo e me vou embora, só vim porque Seu Alceabides é pai do meu padrinho Nicolau, e vô do Rômulo, meu melhor amigo.
-Eu entendo Antero, se cuide...
As apostas em cavalos correm a solta, os homens apostam muito dinheiro no cavalo de Amadeu tio de Teresa, que corre contra outro cavalo de nome Sinuelo.
O cavalo Sinuelo um azulego forte e ligeiro, ganha de pescoço e meio a carreira do cavalo lubuno de Amadeu.
Amadeu fica enfurecido com a derrota, e indaga de quem é o cavalo, um dos gurizotes que ajuda na lida diz – É do Tenente Antero, aquele debruçado na mangueira.
Amadeu reúne os irmãos e os sobrinhos e pergunta
-Me digam!  quem é aquele diabo ali do lado do Rômulo? Pergunta ela aos homens
O pai de Teresa olha firme para Antero, com ódio e rancor
-olha bem a cara, a cara do infeliz, é filho do Leôncio, como se atreve vindo aqui...

Amadeu cochica com Moacir (  - pois é meu filho,  dizem que Antero , é  um galo de rinha, mas está desarmado e já bem embriagado, vamos provocar ele... vamos sangrar esse  infeliz, este maldito chimango)
-Aqui não é nossa casa, de certo que o puxa saco do Nicolau trouxe o tenente para ganhar apoio com o governo. Dessa gente quero distância! Diz Augusto, pai de Teresa.

Rômulo análisa  -Antero o Amadeu tio da Teresa está de olho em ti desde que o teu cavalo ganhou, não acha melhor irmos embora?
-Daqui a pouco nós já vamos...
Uma mesa grande com apostas, alguns homens jogam carta –Vamos ver se no carteado tu te garante como te garante na carreira guri, diz Nicolau para Antero.
Nesse momento Amadeu fala alto –Pois eu com esse tipo não jogo, quem não viu que esse cavalo dele deve estar entupido de beberagem para correr ... eu se fosse tu te sumia daqui, e deixava para trás o dinheiro das apostas...
Antero é humilde e procura ser Educado
-Eu não quero discutir senhor, eu não vou jogar padrinho, jogue vocês que já são conhecidos, eu vou procurar Rômulo.
Antero e Rômulo se ajeitam para irem embora, se despedem de alguns amigos, bem perto da porta, Antero já mais elevado pela bebida e pela situação se despede  de algumas senhoras, ele olha firme para Teresa, lhe pega pela mão, lhe dá um delicado beijo na mão,  - Passar bem Teresa... 
A atitude de Antero atiça a ira de Amadeu e de Augusto, Augusto vai rápido na direção dele, lhe mete o dedo na cara – Não ouse falar com minha filha.
Antero o enfrenta, os olhos verdes ficam avermelhados de raiva
-Eu não entendo a cisma de vocês comigo. Eu mal os conheço ...
-Mas eu conheço bem tipo da tua estirpe... diz o pai de Teresa
-Eu agradeço suas palavras ... Vamos Rômulo... diz Antero
Antero segura o cavalo pelas rédeas, fica de pé ao lado do animal, ajeita o colete, tira o lenço branco do bolso, colocando no pescoço... 
Amadeu grita – Veja se não é um afronte... usar o lenço para dizer que é contrário nosso!
-Por favor Sr Amadeu, deixe o rapaz ir embora ... diz Rômulo
-Você é um patife como seu pai... diz Amadeu
Antero se vira –Eu mandarei lembranças a meu pai...
Amadeu segura Antero pelo lenço
-Sabe porque esse lenço é branco ? para aparecer o vermelho do sangue de Chimango degolado...
-E também para servir de lençol para alguma donzela filha de Maragato... retruca Antero
Teresa fica pálida
-Borgista filho da puta, diz Augusto ...
Augusto salta em cima de Antero, o empurra, lhe soca no rosto... Antero apenas tenta se proteger... 
-Tem a mesma cara ruim do seu pai... diz Amadeu
Os irmãos de Teresa correm na direção de Antero, Francisco irmão de Teresa, afasta seu pai... e começa a defirir  em Antero socos e empurrão, antes que os filhos de Amadeu se metam na briga, Rômulo e seus primos já correm e começa uma briga generalizada.
Augusto surge no meio do campo de Espada na mão e convoca o rapaz para um duelo.
Antero grita –Eu não quero duelar ...
O pai de Teresa lhe dá algumas pranchadas nas costas, até que Antero empurra Augusto.
É uma briga horrível, algumas das mulheres se escondem na casa, homens mais velhos e pessoas mais pacíficas tentam acalmar ânimos.
Do lado de Augusto, os dois filhos, o irmão Amadeu, e seus filhos e empregados, e do lado de Antero, Rômulo, Nicolau e outros campeiros e amigos.
Antero já sangra no nariz, na boca, na altura da sombrancelha, resolve revidar  brutalmente e bate muito em um dos filhos de Amadeu.
Moacir não se envolve na briga, mas de longe fica fazendo apologias a violência.
Um dos empregados segura Antero, e Amadeu e Augusto os dois desferem socos nele.
Alcebiades pede encarecidamente –Augusto, Amadeu vocês estão em maioria,  o rapaz já mostrou que não tem medo, já chega. Ele está embriagado e desarmado, já está virando covardia.
-Devia matar esse canalha... diz Augusto
Teresa é amparada pela amiga Adelaide.
-Basta, não torne isso uma tragédia, meu deus... diz Teresa agarrando o pai...
A briga silência quando Teresa se joga em cima de Antero separando ele do pai  – Pelo amor de Deus meu Pai, estou lhe pedindo Pare! Pare! Vão mata-lo desse jeito... chega !
Anástacio acalma o patrão – Escuta sua filha Patrão...
Finalmente a briga cessa, Rômulo e Antero montam a cavalo...
Teresa olha ao seu redor, todos machucados, todos sujos... o seu primo Carlos filho de Amadeu, está sangrando muito pela boca...
-Acho que o Antero quebrou os dentes dele... diz Anástacio
A mãe de Teresa lhe pega pelo braço, lhe levando até um dos quartos –Porque esse desgraçado não lhe tirava os olhos?
-Não sei mãe...
-Teresa ... não minta para mim...
-Mãe eu estou dizendo a verdade...
A conversa é interrompida para dizer que estão indo embora....
Teresa estava aliviada pois iria para casa de sua madrinha e estaria livre das perguntas da mãe...
A viagem é silenciosa, dona Ana vez que outra fala – Que barbaridade, quase se mataram, era sangue e barro para todo lado...
Teresa chega na casa da madrinha já é final da tarde,um calor insuportável, a madrinha mal chega e já vai nas vizinhas fazer questão de contar da briga, Teresa aproveita a ocasião e vai na casa de Rômulo, um sobrado bonito de portas vermelhas e janelas de Guilhotina.
Na casa estão apenas os criados, o casal Henriqueta e Rômulo a recebem
-Eu sei que não devia estar aqui, mas vim saber de Antero...
-Passe aqui comigo, eles acabam de chegar  diz Henriqueta...
A empregada Palmira cuida de Antero... que está com o rosto quase destruído.
-Meu deus o que fizeram contigo... que vergonha da minha família diz ela...
Teresa se aproxima, faz uma cara de dor quando vê de perto os ferimentos, haviam atingido brutalmente Antero.

Antero sentado em um sofá de madeira...
-Rômulo quem sabe vocês o banham, ele está muito empoeirado... pode pegar uma infeccção... diz Henriqueta.
Henriqueta e Romulo grandes amigos de Antero, se mostravam leais e carinhosos.
Rômulo apoia Antero no braço e com ajuda de Palmira o levam para o lavabo.
-Agora a Palmira lhe dá banho... diz Henriqueta
-Nem sei como ele aguentou chegar até aqui, botou sangue a perder de vista... diz Romulo
-Eu lamento muito por tudo Rômulo... eu fiz o que pude para impedir... diz Teresa
- Seu tio Amadeu provocou, ofendeu de todas maneiras, ele é muito covarde, se não estivessemos lá Antero estava morto, ainda que seja um homem forte mas estava sem condições de brigar ... diz Rômulo...
-Eu nunca vi algo parecido... diz Teresa em lágrimas
Henriqueta e Teresa bebem um chá,  Antero é levado para o quarto...
-Eu faço questão de cuidar dele, diz Teresa...
Senhora Palmira e Teresa fazem curativos e limpam machucados, Antero faz cara de dor –Ai...
-Antero sente dor em algum outro lugar?
-Não... mas sinto dor em saber que sua família me quer morto, sua culpa teresa você não quer saber de mim...
-Não dá bola ele bebeu tudo que podia hoje... diz a empregada
-Beba esse chá vai lhe fazer bem, diz Teresa...
Teresa dá um chá de cidrão com limão a Antero,um calmante poderoso, fica lhe vigiando até que ele pegue no sono... lhe afaga os cabelos...
Rômulo e Henriqueta comentam – Ela enfrentou o pai para defender ele... ela o ama, diz Henriqueta ...
Naquele final de Tarde, na pacata cidade de Piratini onde somente os grilos ensaiam seu canto.
Antero adormeceu no amparo de Teresa, um amor sofrido, eles jovens e cheios de vida, sucumbindo as desavenças antigas de duas famílias Intolerantes ... Ah se eles soubessem que Antero e Teresa morreriam um pelo outro ...

 Amores Maragatos  - Série CaleidoscópioOnde histórias criam vida. Descubra agora