A Villa de Piratini

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Piratini, 1922.

O peão Anastácio tapeia o chapéu, ajeita com os dedos os tentos de corda ... olha a chuva torrencial que cai lá fora, ajeita dali, trança de lá e segue contando a menina Teresa as suas lembranças da Guerra...
A moça escuta atenta com os olhos em chamas...
'' Pois como lhe dizia a tal Revolução de 93, deixou uma poça de sangue e horror no Rio Grande ... matou uns dez mil viventes , e a maioria deles na flor da mocidade, uma sangria filha, uma sangria ... eu vi coisas que me tiram sono até hoje!"
Teresa põe as mãos no colo, aquele rosto corado pelo calor do fogo de chão
-Muita coisa de ruim deve ter acontecido...
Nastacio arregala os olhos - Muita morte, muita fome, muito medo, as amizades foram rompidas, as famílias despedaçadas, a Guerra tem dessas cosas, de semear ódios e paixões...
Teresa é surprendida pela voz dos criados chamando-a para o jantar...
Teresa adentra a sede da fazenda, aqueles casarões de adornos portugueses e muitos móveis antigos, a família a espera para a oração antes da comida ser servida;
Augusto Ferreira Salles e Mariana do Canto Salles casados há mais de quarenta anos, com uma prole de cinco filhos, três homens e duas mulheres, Joaquim, Amélia, Tenório, Francisco e a mais nova,Teresa.
Após o jantar Teresa senta-se ao piano onde toca uma ou duas canções a moda Francesa.
Mariana toca na filha - Eu e seu Pai decidimos que vamos ficar na Fazenda por um bom tempo...
-Mas e meus estudos mãe?
-Decidimos que você passe esta temporada de aulas com sua Madrinha Ana, desta forma se fazem companhia, ela anda mui solita desde que seu Padrinho Mariano saiu nas tropeadas... além do mais a sua loja de flores é um lugar muito movimentado, e você poderá ajuda-la!
Teresa percorre de carroça aquele pequeno trajeto de estrada, vê ficar ao longe a Fazenda, leva consigo a benção da mãe e os conselhos do Pai.
Naquelas terras montanhosas, de tão solitárias Fazendas, naqueles campos povoados de Gado, uma bonita pintura que tinha como moldura o arvoredo e a passarada.
Teresa chega na cidade de Piratini, bem perto do meio dia, a pacata cidadela, tem um ar de coisa mágica, ali nas redondezas da Igreja esta a Floricultura '' Roseira'' que traz variedades de flores e arranjos.
Tereza desce com um sorriso no rosto, os cabelos presos em um coque, o vestido com cadeirão baixo, bem a moda dos anos 20, leve e cheia de empolgação.
Sua madrinha Dona Ana, uma senhora alta de porte elegante, lhe abraça de forma demorada... andam por dentro da Floricultura, falam dos parentes, das plantações...
E assim se seguem os dias, da Escola para casa, da casa para Foricultura e depois de novo para casa.
Teresa vai até a missa, fica pensado na família, e na festa de seus 17 anos que de certo vem sendo preparada por seus pais, embora fosse muito discreta sempre lhe agradou a ideia de morar na cidade, ser mais livre, ouvir de música e de política.

 Amores Maragatos  - Série CaleidoscópioOnde histórias criam vida. Descubra agora