Do mesmo Sangue

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As palavras duras de Augusto, soam como juramento, ele queria por fim a Antero.
Augusto vai apressado na casa de Rômulo e Henriqueta
-Senhor Augusto, não esperava ve-lo  ... o que posso ajudar...
-Doutor Rômulo, não estou aqui para consultas mas para falar com seu amigo Tenente Antero...
- Antero saiu hoje cedo para Bagé, parece que tinha de atender alguma ocorrência
-Eu quero lhe deixe um recado... Se ele chegar perto de Teresa pode se preparar para receber uma bala nos peito...
-Senhor Augusto, Antero ama sua filha, me perdoe eu me envolver nisso, mas ele é um bom rapaz...
-Se ele é bom não sei... mas não quero que ele chegue perto de minha família.
Antero partira ainda cedo para o Quartel em Bagé, devia trabalhar alguns dias por lá...
Os pais de Teresa ordenam que seja feito outro vestido, mas nem falam com a filha...
Os finais de semana na casa dos Pais,  tornam ainda mais amargos sem a presença de Antero, sem os afagos daquele que querendo ou não era seu homem.
Teresa arruma as suas coisas para irem de volta cidade, sua mãe finge estar tudo bem, Teresa puxa o vestido com força de dentro da pequena mala, cai o brochê que Antero lhe deu...
-O que é isso? Diz sua mãe
-É um presente que madrinha me deu...
Mariana olha o brochê e chega sentir –se mal, lembra que a tantos anos o jovem Antônio derá um igual a falecida Teresa....
Mariana segura a filha do braço – Mentirosa, foi aquele infeliz que lhe deu isso... esse broche é um símbolo da família deles... todos usam !
-Como a senhora sabe disso! Conheces tão bem seus inimigos... seria porque foram um dia uma só família!
-O que dizes... tu que sabes... porque ironizas...
- Eu sei de  Maria Teresa minha tia... que morreu a mingua nessa casa! Porque meu avô e o tio amadeu com apoio de vocês mandaram matar antônio, que ficou inválido em uma cama! Eu tenho pena  de vocês mamãe...
Os ânimos se alteram...
-Cale a boca, cale a boca... eu amava Teresa, como se fosse minha irmã, ela era minha melhor amiga... é por ter ajudado a ela com a ideia de fugir com Antônio que tudo deu errado! E não quero que se repita! Eu não acredito que você aceitou presente de Antero... ele é inimigo de nossa gente!  Grita Mariana ...
- Eu amo Antero minha mãe.... eu amo! Eu pertenço a ele...
-Você não se atrevou a se encontrar com ele... me diga Teresa...
-Por mim eu fugia com ele... eu só não faço porque não quero arriscar a vida.... a dele... porque a minha não mais importa !
Mariana empurra filha - sem vergonha ! você não merece o amor que lhe demos...  Me diga ! Como você teve coragem de tocar em um homem que usa o lenço branco símbolo daqueles que mataram tua gente.... diga !
- Ele estava sem lenço quando nos acostamos!
Mariana voa na direção da filha, lhe segura pelos cabelos lhe esbofetiando –eu não acredito que se entregou assim ... não posso ... seu pai vai lhe matar ... vai matar esse infeliz que ousou lhe tocar...

Teresa chora, a mãe sai depressa e se tranca no quarto, naquela tarde Mariana também chorou escondida no quarto, mas guardaria em segredo a desventura da filha.
Teresa se dedica para cumprir as aulas, odiava Frânces mas se valia do conhecimento do idioma para trocar cartas com Antero, de uma maneira segura que os bilhetes não caissem em mãos erradas, já que agora seu Pai o jurava de morte.
O bilhete enviado atráves de Henriqueta dizia em bonita grafia.
''Chère Teresa, Demain je serai dans le vieux hangar t'attend ... un baiser''
Lê ela em voz baixa,   "Querida Teresa Amanhã estarei no velho Galpão a sua espera um beijo"

E tão logo após o almoço Teresa monta a cavalo vai até o Galpão...  um percurso de uns três quilômetros, uma caminho bonito, já sabia ela que na porteira Antero a esperava sempre sorridente, bem barbeado...
Teresa se abraça em Antero, ele lhe pega no colo como de costume, se deitam na cama do velho Galpão, aquele lugar que já tinha o cheiro deles, suas memórias... Antero a conseguia levar nas estrelas... aqueles beijos que queimam... aquele corpo forte, os olhos bonitos de um semblante tão moço, lhe tinha nos braços, lhe tocava com as mãos fortes, lhe afagava, ela já era não era mais a mesma moçinha inocente, já tinha em seu colo o calor de mulher, o calor onde Antero adormecia sempre após fazerem amor...
Teresa o afaga os cabelos, até que ele durma, ela fica olhando  na janela, tentando entender o que seria feito dela...
A dias que não se viam, a cachoeira os espera com água morna, já quase se rendendo a seca que castigava a região, entram os dois, nadando nas águas claras e limpidas...
- Teresa eu tenho que lhe contar uma coisa, alto que me dilacera .... ( ele coloca o lenço no pescoço) eu tenho que partir ...
Teresa enrubesce o rosto - partir ?
- eu temo que vamos ter novos levantes entre Chimangos e Maragatos, as eleições para o governo insuflaram os ânimos de ambos os lados !
- estás indo para revolução ?
- não sei ainda, mas já houveram embates.... Eu preciso ir, e tu te cuida e cuida de tua mãe e tua Madrinha.
Teresa se abraça em Antero e tenta controlar o choro.
Teresa e Antero retornam juntos para a Villa, lado a lado  cavalgam de mãos dadas, o sangue de duas famílias que se odeiam por excelência ....
Henriqueta os avista da Janela – Antero está enfiando os pés pela mãos.... o velho Augusto vai mata-lo...
Antero e ela se despedem –Sigo lhe mandando as cartas...
No final de semana o batizado de Emanuel, sobrinho de Teresa, anima os jovens, Antero é amigo íntimo do Pai de Adelaide que também é militar... 
Teresa chega, discreta como sempre, Antero a come com os olhos...
A Festança tem carne assada, fandango e muitos parentes de Adelaide... que parece desolada –Porque Francisco não veio? Ele desistiu de mim? Pergunta ela a Teresa
-Eles não viriam sabendo que Rômulo, seu pai, seus tios são amigos de Antero. Só pode ser por isso...
Teresa fica por algum tempo, mas precisa ir embora ... sua madrinha anda muito preocupada com a situação ...
-Eu lhe acompanho até a porteira... diz Antero
Antero e ela ficam algum tempo abraçados –Eu lhe escrevo... na semana que vem nos veremos lá na casa de Rômulo... certo?
-Está bem, se cuide Antero... sabe que meus tios e até meu pai, estão querendo cobrar ainda  a história do vestido!
-Eu sei minha prenda... eu sei ...
Teresa debaixo da sombra do parreiral, ela e Dona Ana bordam uma toalha de mesa, um arrepio percorre seu corpo
Henriqueta entra meio sem jeito – A senhora ana me perdoe, mas eu vim falar com  Teresa...
-Entre querida claro és bem vinda aqui , diz Ana
Henriqueta abraça Teresa - Tu tens visto Antero?
-Nos vimos no batizado do sobrinho de Adelaide ... não o  vejo desde então !
-Os  pais de Antero mandaram um criado aqui hoje mais cedo... faz dois dias que ele não aparece em casa... nem aqui, nem com você ... e não iria para o exército sem avisar...
Tão logo chega Rômulo – acabei de vir da Fazenda ...
- E oque lhe disseram ? Diga rômulo ... Teresa está em nervos.
-O cavalo dele apareceu, encilhado, com a pata pisada... eu não sei Teresa como lhe dizer ... eu e a peonada desde a madrugada vasculhamos tudo... Antero evaporou... já cogitamos...
-Que meu pai mandou o matar... vamos Madrinha chame tião, eu me vou a casa de meus pais... 

 Amores Maragatos  - Série CaleidoscópioOnde histórias criam vida. Descubra agora