Quimeras

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Teresa voltou para casa e entrou pé por pé para seu quarto, mas não dormiu naquela noite, a imagem de Antero não lhe saia da cabeça.
No dia seguinte, sai sorrateira, já perto do meio, disse a madrinha que almoçaria com as tias solteironas de Adelaide.
Chegou devagar, Henriqueta lhe sorriu no canto da janela, mandou que entrasse
-Viesses almoçar conosco?
-Não Henriqueta, mas vim saber como passaram, como está Antero?
A mãe de Henriqueta olha firme para Teresa – Por causa de sua proximidade com Antero que ele quase foi morto pelo seu pai... sabe disso?
Henriqueta desconversa – Mamãe vamos ver o doce de figo, deixe Teresa, o Antero dormiu a noite toda, Palmira não desgrudou os olhos dele, está na cama, precisa mesmo repousar
Teresa entra no quarto, Antero teima com Palmira –Já disse não quero comer, estou sem fome...
-Me dê a sopa Palmira eu vou dar a ele... diz Teresa
Antero tem um brilho no olhar ao ver a moça, ela senta-se ao lado dele lhe colocando na boca a colher ...
-Ah não Teresa não precisa disso... não estou inválido...
-Coma Antero, ou vai ficar fraco...
Antero faz todo tipo de cara –Não quero... não estou com vontade...
-Palmira tu deves ter força és uma mulher campesina... diz a mãe de Henriqueta a velha dona Zila mui mal humorada....
-Por certo
-Vamos enfie esta colher na boca de Antero... faça ele comer... não podemos arriscar que ele fique doente...
-Mas ele não quer senhora... diz Teresa
-Antero engula esta sopa, está pálido... diz Zilá empurrando a colher na boca do rapaz, Antero virá de lado e cospe a sopa, uma cor vermelha de sangue surge em seus lábios...
-Mãe ... para que fez isso... diz Henriqueta arregalando os olhos azuis.
-Antero, estás com a boca machucada... não consegue comer nada de sal, tampouco quente como a sopa... deixe me sozinha com ele, diz Teresa.
-Estou exausto Teresa... diz ele
Teresa o acolhe nos braços –Precisas ir para casa, quem sabe ao lado de tua mãe...
-Você não conhece minha mãe, não sabe o quão amarga é, dona Zila fica uma santa perto dela... eu tenho uma Fazenda povoada, que comprei com minhas economias... tenho casa, galpão, criados...
-E porque não ficas lá?
-É perto da Fazenda do senhor Augusto, seu pai!
-Antero eu não queria que fosse assim, me sinto tão culpada...
-Não tens culpa, se jogou em meio a briga para me proteger...
-Quem sabe tomas um copo de leite? Suco, queres que lhe faça um mingau algo assim?
-Quero que tu estejas aqui comigo para sempre...
Teresa cuida de Antero e dentro de dois dias, em suas pequenas fugas, consegue ver sua melhora... era um homem forte, bonito, inteligente, um jovem cheio de ideais...
A madrinha de Teresa avisa –Seu pai me mandou um recado, quer te-la em casa nesse final de semana... parece que sua irmã virá de Pelotas e quer almoçar com todos juntos...
-Ah sim, que bom, espero que minha irmã me tenha trazido o vestido que me prometeu ! Me diga madrinha podemos levar Adelaide ... podemos?
-Claro, mas sem muita demora... vá lá chamar ela...

Aquela manhã de verão, todos irmãos, sobrinhos e os pais de Teresa confraternizaram, Tereza estava leve, parecia mais confiante, quem sabe com tempo criasse coragem e apresentasse Antero como seu namorado.
O Pai de teresa se levanta a cabeceira da mesa –Bueno estamos reunidos aqui, em um momento tão bonito, penso que seja a hora certa, para darmos uma boa nova...
Todos estão atentos a voz de Augusto
-Minha filha, Teresa... sabe como sempre quis que tu estudasses, e estás quase formada... pois bem... penso que logo se forme e complete seus 18 anos... queremos lhe dar o dote... e dar a sua mão, a nosso futuro médico o nosso brilhante Moacir, seu primo, que a tempos lhe vem cortejando, afinal Moacir além de ser de nossa família, filho do meu irmão Amadeu, é um homem de grandes valores.
-Pois bem então podemos dizer que já somos noivos, diz Moacir
-Diga que estão se cortejando, mas que são abençoados por nós; responde Augusto.
Todos brindam, dão viva aos noivos...
Teresa se afasta, na direção ao galpão, Moacir a segura do braço – eu gosto de você desde criança, estou tão feliz, que vamos nos casar... Por que não pareces feliz?
-Eu gosto de ti Moacir, mas como amigo, não me peça para ficar feliz, com esse casamento arranjado...
A mãe de Teresa pega a filha do braço, aperta – Que tens Teresa, enlouqueceu? Se teu pai te ouve...
-Mãe, o que a senhora e Amália falaram com meu pai para que ele apurasse esse maldito noivado?
-Não foi preciso dizer nada, depois que o filho do Leôncio lhe devorou com os olhos... pensa que não vi como o tal Antero lhe olha !
-Eu não amo Moacir... eu não amarei nunca!
-Não me importo com isso minha filha...
- Me quer ver infeliz mãe ?
-Prefiro ve-la infeliz mas segura!
- Eu prefiro estar morta do que me casar com um homem que não amo...
- E tu amas alguém? Quem te impede de amar moacir ... me diga ... me diga que tu não tens olhos para aquele maldito chimango... me diga!
A mãe de teresa lhe chacoalha pelo braço...
Teresa ensaia um choro – Eu amo Antero mãe! Eu o amei desde que nos vimos pela primeira vez na cancha de cavalos, e ele me salvou quando o cavalo zaino de meu Padrinho disparou comigo! Eu não queria... mas aconteceu!
Mariana bate no rosto da filha – Quer matar seu Pai de degosto? Você vai ir para um convento se não casar com Moacir... eu a tranco naquele quarto e nunca mais tu vai sair!
Anástacio olha tudo de longe comenta com a sua esposa Dimira – ''Tudo de novo, tudo de novo... pobre Teresa... que sina"!
Teresa se tranca no quarto e chora escondida, Adelaide bate na porta –Teresa temos que nos arrumar e irmos, amanhã tem duas provas...
Teresa termina a prova pensativa e calada, mal come a merenda, mal fala com as colegas, Adelaide resolve chama-la para passar o final de semana na casa seus avós, bem por perto da casa dos Pais de Teresa.
Passam o dia reunidas, falam de suas dores, dos sonhos de menina, da vida...
Teresa e Adelaide resolvem ir até a Fazenda dos pais de Teresa para fazerem uma surpresa, almoçam juntos, o calor castiga todos, já é meia tarde quando as moças resolvem montar a cavalo e retornar para os Avós de Adelaide.
As duas cavalgam, conversando admirando o campo, Teresa olha para uma estradinha estreita, Antero está a cavalo, ela se arrepia, tem borboletas no estomâgo, Adelaide sorri –Eu avisei que passariamos aqui, mandei um pia da estância avisar...
-Adelaide porque fizesse isso?
-Porque quero ver você feliz... minha amiga...
Adeilade vai se afastando, cavalga depressa, Teresa é ajudada por ele para descer do cavalo, ele a beija –Ah Teresa que saudade...
-Antero que fazes aqui?
-Vim lhe buscar para darmos um passeio, pelos campos de meu pai, vamos na cachoeira da pintagueira...
-Onde tem a lenda de uma moça que virou sereia?
-Isso... nessa mesmo...
Antero e ela cavalgam lado a lado, sentem o calor lhe corar o rosto, Teresa apeia do cavalo, desce olhando encantada com a cachoeira, Antero já desce do cavalo, arrancando a camisa, e arremangando a bombacha, se atira na água, aquele sorriso de menino, Teresa mais tímida, fica olhando e rindo...
-Não vais entrar ... está com medo da sereia?
-Antero ... eu tenho medo ... não me sinto a vontade...
-Ah mas eu te ajudo venha...
Antero vai na direção dela, Teresa corre, andam um atrás do outro, como duas crianças travessas, Antero a pega nos braços...
-Antero não faça, não...
Antero entra com Teresa na água, afundam naquela água clara, os olhos dele duas brasas queimando, mergulham juntos, as mãos dadas, emergem nas águas, se olhando firme nos olhos, Teresa fica sem jeito, Antero lhe beija, os cabelos dela molhados, o rosto úmido, brilham sob o sol.
-Eu acho melhor irmos... diz ela
-Tá bem, me deixa te ajudar a montar... 
Andam uma légua ou mais a cavalo, o céu é um pintura de raios e relâmpagos, os cavalos bufam, já prenunciando o temporal, Antero segura firme na rédea seu cavalo, a chuva cai torrencial, parece que o céu irá se abrir ao meio...
Antero apura o trote do cavalo – Vamos até algum lugar mais protegido
Antero e ela descem em um antigo Galpão, que serve de abrigo para tropeiros, Teresa senta-se na beira da porta, as pernas tremem de frio e de medo...
Antero lhe coloca uma manta por cima dela -  Estas com frio... Vamos ter que nos proteger por aqui... Se me lembro deve ter por aqui alguma coisa que preste porque os peões de meu pai cuidam daqui...
Teresa,  se encolhe em um sofá velho em madeira
-Tenho que contar uma coisa para ti...
-Vi desde que chegou que tens algo lhe preocupando...
-Meu pai deu minha mão a Moacir... vão me forçar a casar...
-Eu não quero! Eu não quero ! diz ela
Antero abraça-a –deviamos fugir, ir embora para longe...
Antero beija Teresa, aquele calor sufocante, úmido, a tempestade de verão arranca consigo tudo de ruim, ficam se roçando um rosto no outro...
Antero beija o pescoço dela, ficam se olhandos nos olhos, janelas da alma
-Eu lhe desejo tanto Teresa...
-Eu sou sua Antero... sua ...
Antero desce as mãos no colo de Teresa, abrindo com a ponta dos dedos os delicados botões de seu vestido, agora molhado da chuva, lhe sobe as mãos nas costas, Teresa lhe abre a camisa, botão por botão, Antero tem os lábios entre abertos, está muito ofegante, o vestido cai dos ombros, desnudando os seios dela, os seios miúdos, a cintura fina, Teresa beija o peito dele, aquele corpo másculo que agora se arrepia, Antero lhe segura no colo, Teresa coloca as pernas ao redor de sua cintura, ele vai lhe tirando o vestido, lhe tocando nas nádegas bem feitas, Antero tira as calças, lhe coloca deitada na cama, se entrelaçam os dedos, se beijam, Antero vai tocando os lábios bem devagar no corpo nú dela, os pelos se arrepiam, ele bem devagar se ergue em cima dela, entrando devagar, ela aperta os lábios com os dentes, é uma dor que também dá prazer, ela arranha o braço de Antero, assim foge da dor... ele navega sob ela, grita alto, Teresa lhe tampa a boca, se entregam os dois ao prazer, a carne grita... agora cansados, Antero fica acariciando-a, os olhos pecadores, agora fechados sonham com amores possíveis... repousam um no corpo do outro, adormecendo depois do bonito amor ... e debaixo deles o lenço branco agora marcado por sangue da pureza daquele amor proibido.
O sangue de filha de um Maragato agora sujava o lenço Chimango ... no amor e na guerra as duas cores andavam sempre em total desacordo !

 Amores Maragatos  - Série CaleidoscópioOnde histórias criam vida. Descubra agora