Elouise

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— Ela sofreu um acidente no dia...

— Hey! Lou!

— O que? — encaro Harry, sem saber ao certo o que está acontecendo e então entendo que ele está me chamando já há algum tempo.

A televisão está ligada na BBC, e no canal passa um documentário extenso e nada discreto a respeito do acidente de 1997.

As coisas parecem erradas.

São imagens dela ainda viva. Minha mãe.

O quão esquisito é isso?

Dezesseis anos se passaram e a sensação é a de que a qualquer momento ela vai surgir pela porta da sala de tv, com o mesmo sorriso, nos chamando para aproveitar o dia do lado de fora.

— É muito maluco pensar que estávamos aqui quando tudo aconteceu — Harry comenta. 

Eu estendo meu braço na direção da mesinha de centro, e alcanço a pequena xícara com chá preto. Levo o recipiente até minha boca e tomo aquele que é o meu último gole, deixando a xícara enfim vazia. Percebo que o olhar de Harry está focado na televisão, e quando volto a colocar a xícara na mesinha de centro, bem posicionada em cima da bandeja de prata, eu digo: — Eu tinha oito anos. Às vezes a sensação é a de que cada vez mais eu tenho esquecido dos momentos com ela, quase como se tudo que eu pudesse lembrar fosse isso — aponto para a televisão e para imagem de nossa mãe exposta.

— É como se ela estivesse esvaindo — Harry diz, e eu apenas concordo com a cabeça — Eu entendo. Nós éramos bem jovens quando tudo aconteceu. Isso é... Não sei, normal — ele dá de ombros — O que não deixa de ser ruim.

— Por que eles continuam fazendo esse tipo de coisa? Documentário atrás de documentário.

— Isso ainda rende. As pessoas ainda amam ela.

— Parece que a imagem dela nunca vai ter paz — digo — É ótimo que lembrem mas-

— Mas ao mesmo tempo seria incrível também se simplesmente a deixassem descansar.

— Pois é — concordo, e então minha voz se perde e Harry não parece propenso a dizer mais nada, então caímos em um silêncio comum e o barulho da televisão é tudo que se ouve na sala.

— Crianças — Ann, uma das responsáveis pelo staff principal da cozinha, surge com cuidado pela porta da sala de televisão. Ela ainda tem essa velha mania de nos chamar de "crianças". Muito porque nos viu crescer, e durante os verões aqui no castelo de Balmoral, foi ela quem nos aguentou. Com as bagunças, as brincadeiras e todas as besteiras que fazíamos — O jantar já vai ser servido.

— Já estamos indo — eu respondo com um sorriso simpático no rosto. Ann então se vira e eu observo quando ela faz o caminho até o corredor que leva até a cozinha principal.

Harry não espera que eu diga nada, ele toma à frente e desliga a televisão. Logo estamos os dois caminhando, sem pressa, até a sala de jantar.

Nosso pai está ali, mas não sozinho. Camilla está junto dele, assim como Kate e William.

Kate está ficando aqui desde que George nasceu. Eu e Harry estamos aqui por conta do pequeno George, e por causa de Kate e William, enquanto que meu pai e Camilla estão apenas de passagem.

Eles vão ficar apenas mais dois dias, e eu agradeço muito por isso.

A ideia de vir para cá não foi a das melhores, por parte do meu pai, digo. Muito porque temos essa tensão crescente entre a gente, por conta de coisas que discordamos, e ele sabe que um evitar a presença do outro - ao menos por um tempo - é o certo a se fazer. Mas ele não liga.

Elouise • Taylor SwiftOnde histórias criam vida. Descubra agora