Capítulo Dezasseis

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Mais um arrepio toma conta do meu corpo graças ao frio que está em meu torno. Aperto melhor o casaco contra mim na tentativa de me aquecer minimamente. Parece estranhamente impossível o lugar onde me encontro.

A neve cai nos meus ombros em pequenos flocos. Um ou outro ainda caem na minha pele e isso faz-me arrepiar de novo. Toda esta neve que cobre o chão e as árvores, acho eu que são árvores, fazem com que igualmente o ar seja branco. Isto impossibilita bastante a capacidade de visão que eu tenho, pois não consigo ver nada para além de branco.

As minhas pernas, a tremer, continuam a andar lentamente sobre a neve fria de inverno, suponho. A minha respiração é calma, mas aos poucos fica irregular. Assim do nada. É deveras estranho, e por vezes gostava de entender que controlo é este que certas coisaa têm sobre o meu corpo. O meu corpo, enquanto caminho, é levado até um sítio desconhecido. Bem, a mim parece-me ligeiramente conhecido porque tudo se mantém branco e intacto como à minutos atrás.

Parece que estou a andar à horas, e os meus pés estão a ficar cansados e eu sinto-me a fraquejar a qualquer momento. Esta sensação de vulnerabilidade é péssima, mas é isso que sinto quando o meu corpo fica ainda mais cansado do que à pouco. Respiro fundo, sempre sem parar de andar. Pode ser que talvez, numa opção bastante remota, eu encontre algo que não seja neve ou branco.

De repente, bato em algo que está no chão. A pequena pancada faz doer um pouco os meus pés e canelas, mas logo ignoro isso olhando apenas para baixo. Poderia dizer que fui contra um tronco, mas consigo ver perfeitamente que está longe de ser um corpo. Parece-se mesmo com um corpo humano, e se eu não soubesse como este era, tenho a certeza que mesmo assim eu saberia que é um humano. Está coberto pela neve, mas ainda se vê vestígios de pele e de roupa.

Lentamente agacho-me, deixando que a curiosidade acerca deste ser tome conta de mim. Assim que me encontro ao nível da pessoa, tento observa-la a ver se pelo menos consigo saber se é um homem ou uma mulher. Mas essa tarefa parece estar difícil de se concretizar, pois o corpo está de tal forma coberto de neve, que eu não consigo mesmo decifrar este pequeno mistério. Estou com um certo medo honestamente, mas tal como nesta e em muitas outras situações, a curiosidade parece vencer o medo em grande escala.

Assusto-me bastante quando uma mão imerge da neve e agarra a minha. Logo um grande arrepio toma conta de mim, e eu inspiro fundo olhando a sua mão. Esta está tão branca, que sei que de certa forma esta pessoa é um pouco pálida. A neve não iria conseguir com certeza fazer com que um corpo ficasse assim tão branco... Acho eu.

A sua mão é grande, e agora consigo ver que o mistério sobre qual é o sexo desta pessoa, acaba de ser revelado. É uma mão de homem, e quanto mais eu observo os pormenores desta pálida mão, mais arrepios percorrem o meu corpo. A uma certa altura algo me atinge, e eu entendo que conheço realmente este toque. O toque desta pessoa é totalmente carinhoso e irreconhecível. É o seu toque que me faz arrepiar neste momento, e não o frio e a neve que cobrem o cenário à minha volta.

A neve começa a cair de forma mais abundante e em grande quantidade mesmo. Sinto os meus ombros pesarem ligeiramente mais graças à neve que cai sobre mim e ele. À medida que a grande quantidade de neve cai, o corpo do rapaz parece ficar mais e mais submerso, e isso faz com que este largue q minha mão e eu perca todo o contacto de imediato. A neve não para de cair, enquanto eu vejo o seu corpo desaparecer debaixo do grande cenário branco.

Neve, muita neve.

"Menina Horan." Assusto-me com uma voz do lado de fora do quarto. Rapidamente escondo o caderno e levanto me apressadamente indo abrir a porta. Olho o senhor de meia-idade alto que se encontra de fato e gravata à minha frente. Reconheço-o de imediato como sendo o Diretor daqui. Porque está ele à minha porta? "Posso falar consigo?" Assinto, e ele afasta-se deixando-me sair do quarto. Fecho a porta atrás de mim e encosto-me à mesma olhando-o, e esperando que diga o que pretende falar comigo. "Duas coisas." Aceno com a cabeça. "Primeira, queria dizer-lhe que o seu irmão já chegou para a vir buscar." Uma alegria surge dentro de mim, e um sorriso ilumina o meu interior. "Mas o assunto que queria realmente falar consigo é acerca de Elizabeth."

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