Capítulo Três ✔️

176 18 2
                                    

Olhei em volta verificando, pelo que me pareceu ser a milésima vez, se havia alguém. Mas acabei por me aperceber que não havia nada nem ninguém. Apenas tudo, tudo branco. O fundo, o chão, o céu ou teto, até o próprio ar me parecia branco. Exausta de andar sem rumo, parei e suspirei, embora não tenha sido escapado nenhum som dos meus lábios. Estranhei, porém, apenas neguei com a cabeça.

Do nada, algo preto capta a minha atenção. A curiosidade vem ao de cima, levando-me a tentar, embora numa tentativa falhada, andar o mais depressa que consigo. Alcanço o que quero, reparando que é um grande piano de cauda preto. O meu olhar percorre o mesmo de um modo lento, e prestando toda a atenção, enquanto passo as minhas mãos por cima do mesmo, tentando perceber se é real ou não.

Olho agora em volta de novo, na esperança de algo ter mudado. Mas tudo se mantém branco, silencioso, intacto. Apenas este grande e brilhante piano preto, se distingue deste mundo onde estou. Feliz, eu sento-me no pequeno banco, levantando de seguida a grande tampa preta. Suspiro de felicidade mas, mais uma vez, nenhum som é produzido, fazendo-me ficar ligeiramente mais confusa com tal acontecimento.

Coloco as minhas pequenas mãos por cima das teclas brancas e pretas, e até as minhas mãos se encontram brancas. Gostava de saber se também estou pálida na cara. Empurro levemente as teclas e fecho os olhos enquanto espero ouvir o som do piano. Para meu espanto, nada é ouvido. Tudo se mantém silencioso. Repito o mesmo ato várias vezes, mas é em vão, pois o silêncio continua a predominar este sítio.

Disposta a fazer com que o silêncio não seja um obstáculo, eu concentro-me e toco a música, mesmo sem que se consiga ouvi-la. Na minha cabeça, forço-me a tentar relembrar de como soa a música. Acabo por realmente por conseguir, continuando a tocá-la.

A música segue-se e, do nada, eu vejo uma mão pousar perto da minha, à beira das teclas. Não evitei ficar ligeiramente assustada, mas não é isso que me irá fazer parar de tocar. Obrigo-me a chegar ligeiramente para a esquerda, para conseguir tocar uma parte mais grave. E é nesse momento, que alguém se senta a meu lado. Pânico percorre-me de alto a baixo, como um arrepio, mas para não estragar a música, volto a tentar concentrar-me na mesma e continuar a tocar.

Um par de mãos juntam-se às minhas, e tocam o mesmo que eu, noutro tom diferente. A pessoa que se encontra a meu lado, sabe a música. Isso na verdade está-me a fascinar, pois ninguém a conhece. Foi alguém importante para mim que a escreveu, e não é, de todo, possível alguém sabê-la. Nem Nathaniel sabe.

Chega a parte que eu não sei e, portanto, vejo-me obrigada a parar, esperando que o outro par de mãos pare também. Mas tal não acontece. Na verdade, continua e eu entendo que a única pessoa que pode estar a meu lado é a minha...

Viro a minha cara para ver quem se encontra a meu lado, sendo de imediato surpreendida ao ver um rapaz. O mesmo da outra vez. Os seus cabelos cacheados estão puxados com uma bandana, tornando-os mais fixos atrás. As sua cara está pálida, bem como provavelmente a minha está. É me impossibilitada a hipótese de observar os seus olhos graças ao facto de estarem tão concentrados nas suas grandes e hábeis mãos, enquanto tocam a música que eu tanto gosto de tocar. A sua pele continua repleta de tinta preta, e os piercings ainda são existentes no seu lábio e sobrancelha.

Este pára o que está a fazer, momentos depois, levando-me a entender que a música chegou ao fim. O seu rosto volta-se para mim, fazendo o meu olhar mover-se para o dele. O verde existente é escuro e, de longe, podem parecer negros. Ele abre os seus lábios para falar, penso eu, mas dos mesmos apenas sai silêncio.

Silêncio, apenas silêncio.

Suspiro e fecho os olhos, deixando que a imagem do rapaz de olhos verdes invada a minha mente. Será que ele existe neste mundo? Ou apenas fará parte dos meus sonhos? Do meu próprio e exclusivo mundo? Na realidade, tudo isto é algo absolutamente estranho. Nunca sonhei duas vezes com a mesma pessoa. Normalmente quando aparece alguém, é só essa vez e depois nunca mais. Mas este estranho e maravilhoso rapaz insiste em manter-se constante nos meus sonhos. Com os seus lindos caracóis e os seus belos olhos hipnotizantes. Acho que nunca vi ser tão bonito.

DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora