One baby to another says, "I'm lucky to have met you."
I don't care what you think unless it is about me.
— Drain You, Nirvana.
Todos os dias, pessoas lutam em batalhas invisíveis. Caminham em trincheiras profundas como as valas existentes nos lugares desconhecidos dos mares. Persistem em avançar barreiras altas e espinhentas. Perfuram a alma nos arames farpados da vivência.
Quando chegam ao final da vida, declaram-se vencedoras. Então, quando se olha através dos anos passados, ainda vão haver marcas e feridas não curadas, pedidos de perdão não concretizados, dívidas pendentes, diversas ações não feitas e declarações não ditas.
E talvez estivesse tudo bem, afinal nunca se sai ileso de um dilema, sempre vai existir um preço a pagar quando desafiar todo o dilema dos problemas e tentar solucioná-los. Contudo, a conta nunca chegará a você se resolver acertar tudo nesse ciclo.
Quando as luzes do palco se tornam mais sombrias, a multidão diminui o volume e escuta-se o som dos cabos se conectando, o pulmão de Nico dói em uma lufada energética. Ele dá um meio sorriso que não será visto devido a luz ainda não ter focado em si, mas quando ele segura o microfone no pedestal e as baquetas acompanham o som da contagem regressiva, ele sabe que está na sua glória.
A guitarra começa a soar de forma gutural, é estrondoso, ficando ainda mais impactante quando o baixo se junta com a bateria. A harmonia instrumental do rock era perfeita, tudo que os jovens e velhos queriam ouvir. Eles queriam ouvir Nico, vê-lo arrastar-se pelo palco, colar suas costas com as da guitarrista, ser a intensidade que um frontmen exigia.
E, como sempre, Nico di Angelo atendia.
Ele decidiu vencer antes de encerrar. Uma trapaça, muitos diziam. Mas ele conquistou o dinheiro, o poder e a música. Bastava seguir o caminho glamuroso do rock como tem feito nos últimos cinco anos. Era aquilo que o formava, corromper, dançar, cantar, persuadir.
Ser o fruto proibido.
Se fechasse os olhos, não se arrependia de nada. Mesmo se suas memórias voltassem para quando se sentia um ninguém no universo.
***
Veneza, 24 de março de 1987.
Ser um adolescente era intenso. Lidar com a baixa autoestima, com os pais, com a escola, com as espinhas e entender que tinha responsabilidades mexia com o cérebro de qualquer pirralho de quinze anos. Associe isso a mudar para outro país, outra cultura, novos hábitos, pessoas diferentes.
Com sua família se mudando para os Estados Unidos devido ao novo emprego de seu pai, Nico não poderia se sentir mais infeliz. O garoto italiano passou por uma grande consternação quando ouviu a notícia, mas sabia que o pior ainda estava por vir, e teve maior certeza ainda quando pisou naquele avião.
Diferente de si, sua irmã mais velha estava empolgada. Nos últimos três meses, Bianca deu o melhor de si em um curso de inglês, vivia cantarolando cada sucesso estadunidense pela casa, e isso aliviava Maria, a mãe, do filho caçula se reprimir nos cantos, inconformado que teria que mudar.
— Mas, mãe, a nossa vida é aqui. Sempre foi. Não quero ir para aquela droga de país.
— Não seja assim, querido. — Ela se deitou com ele, que imediatamente fez uma careta por seu espaço estar sendo invadido, mas bem, era sua mãe. — Vamos fazer diversos passeios por lá, te garanto que será melhor do que aqui.
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Apoteótico | Solangelo
Teen Fiction[EM ANDAMENTO] É a década de 90 e Nico di Angelo lidera os Savage Kings, que dominam o cenário do grunge com suas músicas melancólicas em uma batida eletrizante. Apesar de estarem no auge de suas carreiras, Nico se vê preso no passado quando inúmera...