Give me a word
Give me a sign
Show me where to look
Tell me, what will I find?
What will I find?— Shine, Collective Soul
***
Nova Iorque, 10 de agosto de 1990.
Nico acreditava que a sabedoria era como a luz fraca de uma vela em uma noite escura; ela guiava as pessoas nos momentos dificultosos da vida, mas sem poder dissipar completamente a escuridão que as cercam. Por isso, abraçou a incerteza como uma velha amiga, desejando que seus passos fossem cada vez mais longos antes de entrar na cobertura de Jason.
Ele possuía a chave desde quando Jason comprara o lugar — o guitarrista possuía algumas locações pelo país, contudo, aquela era diferente, era a mais próxima do que ele poderia chamar de lar em meio àquela bagunça de ser um artista —, e, ainda assim, os olhos elétricos se ergueram em um leve susto quando entrou pela porta.
Jason vestia um roupão branco, parecia cansado, apesar disso, suas mãos contornavam uma argila acinzentada sobre um torno de cerâmica, e Nico quase se arrependeu de ter entrado repentinamente, porque seja lá o que Grace tentava fazer, foi por água abaixo. A argila se deformou, e, sem dizer uma única palavra, Jason terminou de desfazê-la, desligando a máquina.
Jogado no sofá, Nico estava tal como a massa cinza, aniquilado, questionando-se se era a melhor atitude a se tomar.
— O que quer aqui? — Jason perguntou.
— Só queria saber se você está bem — respondeu, sincero.
Algum muro dentro de Jason pareceu cair, ao mesmo tempo em que, por fora, outro começava a se construir.
— Não poderia estar melhor, di Angelo — respondeu, secamente.
Sem perguntar o contrário, o loiro voltou sua atenção até a argila esquecida brevemente, tentando a refazer com uma carranca.
— Se é só isso, pode ir — Jason disse, sem olhá-lo.
Nico se remexeu desconfortável no sofá.
— Soube que Hera está na cidade — comentou como se estivesse pisando em espinhos. — Pelo menos, é o que diz o noticiário. Não sei se você tem o costume de ler.
As suas palavras, embora preocupadas, também se apresentavam como irônicas. Conhecia suficiente o guitarrista para saber da sua obsessão em saber o que saia nos jornais ou nas revistas quando seu rosto era estampado na primeira página. Aparecer ao lado de vinte mulheres era o suficiente para manter sua postura máscula intacta?
Ambos perceberam que a era em vão a tentativa de fazer outra escultura. Os olhos de Nico acompanharam Jason lavando suas mãos para se servir de uma boa dosagem de uísque, oferecendo um copo para ele, que rejeitou de imediato. A bebida custou aparecer, talvez fosse um recorde daquele ano, mas estava ali. E a julgar pela vagareza de Jason, ela tinha chegado mais cedo.
— Pare de fazer jogos — Jason disse, sério. — Ela foi atrás de você, não foi?
— Não, ela não tem autorização para entrar em minha casa — Nico disse. — E fora dela, evito qualquer lugar em que possamos respirar o mesmo ar.
— Então por que está aqui? — perguntou ele, seus olhos meio avermelhados. — Não parece que quer foder.
Nico revirou os olhos.
— Vou ignorar o que você disse — Nico tentou ser polido. — Só achei um padrão estranho, essa é a terceira vez que a noticiam aqui, o mesmo jornal e sempre em uma festa, uma festa feita por ela.
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Apoteótico | Solangelo
Teen Fiction[EM ANDAMENTO] É a década de 90 e Nico di Angelo lidera os Savage Kings, que dominam o cenário do grunge com suas músicas melancólicas em uma batida eletrizante. Apesar de estarem no auge de suas carreiras, Nico se vê preso no passado quando inúmera...