Tomorrow

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You say that money, isn't everything

But I'd like to see you live without it

You think you can keep on going living like a king

Oohh babe, but I strongly doubt it

— Tomorrow, Silverchair

***

Tóquio, 25 de junho de 1990

As manhãs de segunda-feira costumavam ser sóbrias e sombrias. Nico estava lúcido; as pupilas levemente dilatadas, apesar disso. Continuavam no mesmo hotel em Tóquio, e ele teve dificuldade de achar o caminho de volta. A razão deveria ter se destacado e o jovem, parado para ouvir Austin antes de sair sem rumo.

Agora, ao amanhecer, o baterista o encarava com olheiras de quem não havia dormido a noite toda, o que, de fato, aconteceu.

Austin aceitou a xícara de chá oferecida por Nico com um sorriso depreciativo no rosto, como se estivesse incrédulo com a falsa neutralidade do di Angelo.

— Will poderá te perdoar algum dia; conheço meu irmão — Austin disse, quase em um sussurro. — Já eu...

— Não preciso do seu perdão, Austin — Nico respondeu, evitando ser ácido em suas palavras. Nenhum dos irmãos tinha culpa da sua bagunça. Não era justo, e ele reconhecia. — E, com Will, resolvo eu.

— Ele estava no telefone ontem.

— Legal.

— E queria falar contigo... — Austin bufou. — Onde estava?

— Por que está me cobrando isso? Queira ou não, não tenho mais nenhum vínculo com o seu irmão — falou, e, dessa vez, frieza escorreu de seus lábios.

— Achei que, em algum lugar, o Nico que conheci estaria aí.

— Não comece com isso, é patético — apontou ele. — Não devo nada a vocês!

Austin passou a mão por suas tranças, frustrado.

— Nico...

— Não, Austin, desistam!

Ao que o outro ficou em silêncio, Nico resolveu ir até a adega e pegar uma garrafa de vinho. O plano era beber até a hora do show.

— Você é um grande idiota!

— Eu sei disso. — Nico sacou a rolha. — Servido?

Austin se levantou para pegar uma taça. Se o mundo já havia caído, só lhe restava dançar sobre os destroços.

***

Nova Iorque, 4 de maio de 1987

A casa dos pais do garçom era uma típica moradia americana, com telhado amadeirado longo e pontudo, jardim coberto por grama verde e cercadinho na varanda. Poderia facilmente chamá-la de lar.

Quando Thalia bateu à porta, foram recepcionados por Apolo, o pai dos dois irmãos. Ele tinha por volta de seus quarenta e cinco anos. Cabelos loiro-escuros, uma barba rala e algumas linhas de expressão. Nico logo notou que a altura era de família, já que Will era tão alto quanto ele.

— Vocês devem ser os amigos que Will avisou que viriam! Entrem, ele está lá em cima, na segunda porta à direita.

— Obrigada por nos receber em sua casa, senhor — Thalia agradeceu.

Apoteótico | SolangeloOnde histórias criam vida. Descubra agora