Levi&Lorena

Capítulo 19

Até hoje não entendo como eu não falei com o Levi sobre o meu grande sonho. O sonho de fazer intercâmbio em São Francisco, EUA. Geralmente as pessoas fazem pra treinar o inglês ou fazer um curso. Eu realmente vou por esses motivos, e tem a melhor e maior escola de arte da América, a grande "School of Arts - San Francisco" e eu ganhei bolsa integral por um ano e meio! Mas isso não é tudo. O meu sonho é ir pra lá desde os meus 9 anos. Juntei dinheiro esses anos todos e depois de conversar com meu agente de viagem, já podia ir. Eu já podia ir!!!!
Mas tinha o Levi. Não podia perdê-lo ou deixá-lo. Mas também não podia desistir de um sonho que estava se tornando realidade, porque ele não viria comigo. Não podia. E o fato de não ter o meu lindo namorado por perto estava me matando. Profundamente! A falta que ele me faria...do seu sorriso. Ah, o sorriso. Aquele sorriso que eu pensei o dia inteiro quando o vi na escola pela primeira vez. O sorriso que mudou a minha vida. Não sei se suportaria a vida sem ele. A vida nem vida seria mais. Mas de uma coisa eu sabia, não podia prendê-lo a mim. Ele era bom demais pra ficar preso a uma namorada em outro continente. Ele não merecia isso. Eu não merecia o Levi. Nunca mereci. Nunca.
Naquele momento, tive que escolher o melhor pra nós dois. Mesmo que meu coração se rasgasse ao meio por minhas próximas atitudes. Mesmo que o ar faltasse aos pulmões. Mesmo assim, seria o melhor pra ele. E o melhor pra ele, era ficar sem mim. Por enquanto, pelo menos.
"Sem problemas, Lo. Passo na sua casa daqui 15 minutos. Te amo!" E essa foi a resposta dele à minha mensagem de que precisávamos conversar.
E ele chegou lindo como nunca. O Sol fazia seus olhos ficarem tão claros lá no meu jardim, que era onde estávamos sentados e ele parecia tão feliz e radiante. Ele estava com uma camiseta branca, uma camisa xadrez e uma calça jeans. E sim, ele estava irresistível! Mas eu tinha assuntos sérios a tratar. E da forma que Levi mexe comigo, mais um sorriso e toda a força que eu estava fazendo iria acabar e eu ficaria sem coragem pra viver e fazer o que eu tinha pela frente.
"Então, eu te chamei aqui porque algo que eu esperava muito, aconteceu. Eu estou muito feliz mas preocupada também."
"O que foi que houve, Lo?" Perguntou ele com uma voz suave.
"Ganhei uma bolsa de estudos!" Eu disse sorrindo bastante.
"Sério? Nossa amor, que incrível. Você merece!" E ele dissse sorrindo tanto que meu estômago revirou.
"Sim, mas é que...essa bolsa é de uma escola de música em São Francisco, Estados Unidos. E eu vou ficar por lá um ano e meio." Doeu mas finalmente consegui despejar tudo que me atormentava.
Um silêncio pairou entre nós dois. O silêncio que doía na alma. O silêncio de dois corações sendo arrancados de seus novos donos.
"Lorena, eu...Não sei o que te falar. Sinceramente! Um dia estamos vivendo aventuras como ir pra Belissario e na outra semana você me diz que seu "sonho" que até agora era secreto pra mim, vai ser realizar e que vai me deixar? Não entendo!" Ele disse tudo tão rápido que até perdeu o ar. Eu o tinha magoado. Magoado a pessoa que eu amava tanto ao ponto de escolher sofrer no lugar dele.
"É o melhor pra nós dois, Levi. Você merece ser feliz e não ficar preso a mim estando em outro continente. Eu te amo e isso não vai mudar. Me perdoa por não te contar antes. Me perdoa por falar tudo sem filtro e me perdoa, se te fiz infeliz." Meus olhos encheram de lágrimas mas as forcei a ficar.
Levi ficou uns minutos só olhando pra mim. Olhando. Olhando. E então sorriu. Mas um sorriso triste. E esse sorriso, esse sim fez meu estômago revirar e meus olhos encherem de lágrimas e não eu pude contê-las. Eu não poderia perdê-lo. Mas não podia ficar mais com ele, por seu próprio bem.
"Eu te apoio, mesmo que me doa te ver partir. Se é seu sonho, eu te apoio. A sua felicidade é a minha. Nunca pense que me fez infeliz. Pelo contrário, se sou feliz devo a Deus por me dar você. Você trouxe minha vida de volta. A vida que eu perdi quando meus pais e depois meus tios morreram. Mesmo minha mãe estando viva, você sabe como me sinto sobre isso. Te devo tanto, Lorena. Eu te amo!" E com isso, eu o abracei e chorei por uns 5 minutos. E ele também chorou. Mesmo não estando prontos, estávamos perdendo um ao outro. E essa dor, que apertava a garganta e tirava o ar, podia realmente ser chamada de dor. Talvez essa dor definisse o que realmente é a dor. A dor de perder quem se ama.
"Eu não posso te prender a mim, Levi. Mesmo eu sabendo que poderíamos esperar um pelo outro, eu não posso te amarrar. Eu vou estar tão longe que vou acabar te machucando." E eu soluçava e olhava bem dentro de seus olhos, em busca de algum consolo ou adeus. Mas só encontrava medo e amor. Somente.
"Eu te amo, Lorena. Nada na vida vai mudar isso em mim. Eu posso te esperar. Mas esperar porque eu te amo. Eu posso esperar muito bem. Não posso te perder, Lo. Não consigo mais perder ninguém que eu amo!" E ele me abraçou e me beijou. Mas ele estava errado. Não podíamos continuar juntos. Será que sempre fui tão dramática? Parecia que estava fazendo tempestade num copo d'água. Tive que forçar meu corpo a sair de perto e levantei da grama, onde estávamos sentados.
"Levi, eu sinto muito. Muito mesmo! Mas isso não vai dar certo. Obviamente a vida sem você nem vida é direito, mas não posso fazer isso com a sua vida, a sua história. Eu te amo como nunca na vida, mas não posso, não consigo."
E fui embora. O deixei no meu jardim, sentado e tentando dizer algo a mim que eu claramente não o deixei dizer. Deixei triste e magoado o menino que eu eu amava. O menino que sem perceber, roubou meu coração. O menino que me ensinou a tocar violão e cantou comigo. O menino que eu ajudei quando quebrou as pernas. O menino que me fez sorrir igual boba quando ouvia seu nome. O menino que me ensinou o valor das pequenas coisas. O menino que me ajudou a ser alguém melhor. O menino que eu amo. O menino que eu sempre vou amar. O menino que eu perdi.