Capítulo 10

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Os próximos dias foram turbulentos e angustiantes para mim. Tanjiro e os outros ainda não voltaram e os corvos nada me trouxeram, nem mesmo atualizaram-me sobre o estado da missão a qual meus Tsugukos foram enviados.
Akaza também não dava as caras de forma alguma. Um clima tedioso e repleto de ansiedade se instalou na mansão durante os dias seguintes, mesmo quando Itsuki aparecia à minha porta para conversar, em uma tentativa falha de tentar tranquilizar meu ser.
Os kasugais pareciam estar angustiados com algo que não conseguia compreender, tudo estava normal e monótono, porém, minhas mãos não estavam banhadas em carmesim, não ainda...
Era uma manhã pacífica, tudo parecia normal, mas eu não conseguia me acalmar, uma sensação horrível corria pela mente, um presságio de algo traumático prestes a se realizar.
Enquanto aprimorava minhas técnicas no jardim da Mansão, pude ouvir gritos desesperados e guturais vindos da estradinha de terra há poucos metros dali.
Sai em dispara em direção ao berros, saquei minha katana em prontidão, me preparando para um combate eminente, mesmo em plena luz do dia.
Porém, como em um pesadelo indescritivelmente perturbador e brutal, presenciei algo que meu treino intenso não havia me preparado para.
Meu estômago se retorceu e embrulhou dentro de minha barriga assim que pude interpretar com mais clareza toda aquela situação mórbida e desesperadora.
Um rastro rubro e repulsivo se estendia por, praticamente, todo o caminho de terra, agora remexida por passos agitados e afundados no sangue e nos pedaços de carne.
Eram eles, meus pequenos pupilos haviam voltado, porém, junto a eles, o corpo despedaçado do que um dia fora o pilar do som, Tengen Uzui, estava debruçado sobre os ombros cansados e fadigados dos jovens caçadores.
Era brutal e grotesco, o corpo de Uzui estava em pedaços, seu braço direito fora completamente decepado, suas entranhas quase pulavam para fora de sua barriga, cortes e perfurações eram visíveis por todo o corpo, mas o pior era a cabeça, ou o que havia sobrado dela, já que apenas a mandíbula inferior estava conectada ao seu pescoço, o resto havia sido cruelmente arrancado, como se alguém ou algo tivesse forçado a parte superior do crânio com as mãos e puxado, de novo e de novo, até arrancá-la para fora.
Tanjiro, Zenitsu e Inosuke choravam em puro desespero, mas eu não fazia ideia de como agir, o medo paralisou meu corpo e lágrimas escorriam pelo rosto, sai correndo em sua direção, com um incomodo impertinente e perturbador arranhando minha mente e escurecendo todos os meus pensamentos, uma pergunta ressoavam em meu consciente, me deixando ainda mais inquieto.
" Por que os outros não haviam sido assassinados? Por que foram poupados por algo diabólico assim"
Tanjiro estava com o rosto completamente inchado de tanto chorar e respirava com dificuldade, os outros estavam em um estado semelhante ao dele, e um pouco atrás dos caçadores, diversos kakushis podiam ser vistos, e alguns carregavam as mulheres do Ex-Pilar do Som. Makio, Suma e Hinatsuru, choravam loucamente enquanto seu marido era carregado até a mansão, ambas pareciam extremamente abaladas e cansadas após a missão.
Tanjiro, que estava calado até então, desabou a chorar novamente enquanto tentava explicar o que acontecera no distrito da luz vermelha.
- Eu... Nós... Tentamos ajudar... Mas aquela coisa... Ela simplesmente apareceu e... Matou todos eles... Desculpa... Eu tentei... Era mais rápido que eu... Foi isso que compreendi em meio aos suspiros sofregos e fungadas profundas e exaustas.
Tanjiro estava a beira de um colapso nervoso, Zenitsu, estranhamente, estava em um silêncio mórbido que me incomodava, já Inosuke e os demais tentavam manter a compostura, porém as gotas salgadas eram notórias em seus rostos vermelhos e feridos.
Entretanto, entre todos eles, uma figura esguia rapidamente se movia em minha direção, seguindo pelo rastro grotesco de sangue formado no solo terroso, o poncho listrado, a faixa cobrindo parte inferior do rosto e os olhos com íris multicoloridas eram inconfundíveis à qualquer distância.
Obanai Iguro, Pilar da Serpente, também acompanhava-os durante sua jornada de retorno, com sua nichirin posicionada de forma elegante e pomposa na bainha, a passos apressados e um tanto cambaleante, Iguro alcançou-me após alguns segundos, como se de propósito, ficou alguns metros atrás de todos para escolta-los de alguem, ou alguma coisa.
Quando se aproximou, voltou a agir normalmente, sua tormenta impertinente era clara, e seus olhos levemente trêmulos revelavam um medo atormentador que consumia toda sua calmaria e sagacidade pouco à pouco, dando lugar a um semblante preocupado e amedrontado.
Sem nem me explicar nada, Iguro gritou para que os ajudasse e assim o fiz, com relutância e tristeza, assisti meus pupilos à carregar o pedaço de carne que um fora um homem alto, confiante e muito extravagante.
As meninas olharam perplexas para a cena diante de seus olhos, Aoi tentava conter o choro enquanto Kanao, que havia à pouco tempo retornado de uma missão, apenas observava inerte a todo o caos sangrento instaurado bem em sua frente, sua pele empalideceu e seu olhar sereno e vazio foi trocado por um olhar abatido e repleto de ódio misturado à melancolia.
- Shinobu! Precisamos de um médico, eles estão feridos, ajuda, por favor! Berrei a plenos pulmões, minha voz ecoava pelos corredores amplos da Mansão Borboleta.
Shinobu veio correndo desesperada até nós, e quando avistou Tanjiro, Zenitsu, Inosuke e as esposas de Tengen cheios de ferimentos e marcas de luta pelo corpo, os recebeu cuidadosamente, guiando-os para uma sala de tratamento próxima.
Eu e Obanai deitamos o corpo de Uzui no gramado do jardim, as garotas foram correndo até a sala onde Shinobu se encontrava.
Tudo estava caótico e turbulento, e em meio a toda essa balbúrdia, os corvos começavam a grasnar loucamente, batiam as asas da penumbra sobre nós, vindos diretamente da mais profunda escuridão dentre as árvores que cresciam por toda a extensão do bosque local. Em meio aos sons altos emitidos pelas aves necrófagas, uma notícia absurda e terrivel me era revelada.
- A Lua Superior 6 morreu! a Lua Superior 6 morreu! A Lua Superior 1 matou o Pilar do Som Tengen Uzui! A Lua Superior 1 matou o Pilar do Som Tengen Uzui! Grasnavam os corvos em uma espécie de uníssono gritante que cortava o ar.
- Avise ao Oyakata-sama sobre a tragédia que ocorreu no distrito, agora! Vociferou Iguro para seu corvo.
Eu também ordenei que meu corvo avisasse ao Kaguya em relação a morte de Tengen Uzui.
Agora um grande buraco abrira em todo o Kisatsutai, um Pilar poderoso e extremamente competente havia sido cruelmente assassinado.
Eu não pretendia expressar minhas emoções acaloradas naquele momento, mas uma lágrima solitária escorria melancólica sobre minha bochecha esquerda.
Havia há muito tempo me acostumado com meus companheiros morrendo, desde a morte da mamãe, eu aprendi com exímia excelência a controlar minhas emoções, contendo-as em meu ámago por quanto fosse-me preciso.
Entretanto, com as frequentes visitas de Akaza, algo em mim havia mudado, eu estava mais emocional, mais empático do que nunca fui, não sei se é porque estou apaixonado por ele ou algo do gênero, mas desde que minha mãe morreu, tentei afrouxar ao máximo todas as relações que tinha com os outros Pilares, mesmo que gostasse deles, como no caso da Mitsuri e da Shinobu.
Eu sabia que Akaza não era o problema, mas havia algo sombrio dentre todos nós, uma aura mórbida que me fez ter calafrios por todo o corpo só de pensar na maldita possibilidade do quão monstruoso o Superior 1 deveria ser.
Passei o resto do dia ajudando Shinobu a cuidar dos caçadores feridos, e ao anoitecer, como de costume, Akaza não aparecera.
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No dia seguinte, ambos eu e Shinobu fomos convocados a comparecer no QG do Esquadrão de Caçadores para realizar a última reunião de outono.
Além de nós, todos os outros pilares estavam presentes. O peso no ar e a atmosfera cinzenta era algo difícil de evitar, porém não era a primeira vez que algo assim ocorrera com o membros do Esquadrão.
Oyakata-sama chegou um pouco após todos nós, ele parecia estar mais enfermo e frágil, e tinha dificuldade em se manter de pé, mas com o auxílio de suas crianças, conseguia se mover sem muito esforço.
Todos nós entramos para a sala de reuniões do quartel, monocromática e familiar a todos. A grande gravura desenhada na parede central havia sido apagada e uma pintura coberta por flores de glicina a substituiu, e as lamparinas que antes dava um ar reconfortante ao local agora deixavam-no tenso e um tanto perturbador.
Meu corpo suava e minha mente estava em chamas, sentia uma leve tremedeira nas mãos, isso não era convencional, mas estava com medo de alguém da sala descobrir sobre Akaza e minha paixão esquisita por ele.
Todos pareciam estar nervosos e ansiosos, até que, com um semblante sereno e pacífico, ele anunciou o que alguns já sabiam.
- Acredito que todos vocês já saibam sobre a morte de Tengen Uzui, certo? Perguntou o mestre à nós em um suspiro cansado e melancólico.
- Sim mestre, todos nós sabemos. Respondemos em uníssono semiharmo nico, eu sabia que todos estavam cientes da situação crítica do Esquadrão e da última missão envolvendo o Pilar do Som.
- Bom, por mais que tenhamos perdido um companheiro valoroso durante a missão de resgate no Distrito da Luz Vermelha, acabamos por finalmente equilibrar a balança, e por tanto, peço que todos pensem que estamos cada vez mais próximos de derrotar Muzan Kibutsuji. Declarou ele com um orgulho sútil na voz, era notório o brilho cativante em seus olhos leitosos e esbranquiçados.
- Mas, veio ao meu conhecimento, através do relato de Tanjiro Kamado, Tsuguko de Kyojuro Rengoku, que as Luas Superiores 6, Daki e Gyutaro, não foram finalizadas por nossos  caçadores. Revelou Oyakata-sama à nós, o que aumentou a intriga e ansiedade de todos os Hashiras no recinto, até que nos foi dito algo que eu e Shinobu já suspeitavamos.
- As Luas Superiores foram eliminadas por outro oni, cujo possuía o kanji de "Lua Superior 1" grafado no olhos. Tanjiro não conseguiu descreve-lo em detalhes, mas disse que se movia de forma errática e grotesca, demonstrando força e resistência monstruosas aos ataques dos caçadores, eles não conseguiram reagir aos golpes do monstro e, quando ele alcançou Tengen Uzui, bom... Acho melhor poupar-lhes desta parte. Finalizou.
Após o discurso de Oyakata-sama, os Pilares pareciam aflitos ou raivosos, exceto Giyu, que demonstrava profunda neutralidade em qualquer ocasião.
Porém tudo parecia estar nos trilhos, ninguém suspeitava de mim ou do meu envolvimento com o alto escalão demoníaco, até que Shinobu percebeu meu nervosismo, e em um ato de cordialidade, veio até mim com a expressão vazia de sempre.
- Kyojuro, você parece um pouco nervoso. Você está bem? Perguntou Shinobu de forma gentil e preocupada.
- Sim, eu estou ótimo, mas a próxima missão está me deixando tenso. E, realmente, estava ansioso por conta da próxima missão, já que possivelmente passaríamos a enfrentar Luas Superiores a partir dalí.
- Antes de saírem para cumprirem suas missões, além de meu auxílio, talvez precisaremos nos aliar com forças externas - enquanto dizia estas palavras, detrás de si, uma silhueta sombria e familiar se formava, o brilho escarlate dos olhos, o kimono negro e dourado com flores estampadas me chamou a atenção na hora.
Todos os Hashiras assumiram uma postura ofensiva no momento que itsuki surgiu atrás de Oyakata-sama. Shinobu parecia um pouco menos incomodada com sua presença, mas Sanemi e Tokito avançaram impetuosamente contra Itsuki, porém pararam abruptamente assim que Oyakata-sama levantou sua mão de forma a impedir o ataque. - Por mais essa ideia seja absurda, esse oni realizou um milagre ao salvar o Pilar das Chamas, Kyojuro Rengoku, e sua ajuda pode ser essencial para ganharmos esta guerra. Finalizou ele, enquanto Itsuki cordialmente reverenciava os Pilares do Kisatsutai.
  E em um breve período de silêncio, os Pilares novamente se curvaram diante de Kaguya, Sanemi, Tokito e Obanai pareciam bastante incomodados, já eu, Shinobu, Giyu, Himejima e Mitsuri lidamos com a situação mais calmamente, já Itsuki esboçava um grande sorriso orgulhoso no rosto e segurava alguns amuletos similares ao meu em suas mãos.
- É uma grande honra poder lutar contra Muzan ao lado de todos vocês! Mas, antes de seguirem em suas missões, peço encarecidamente que  peguem uma vigia de proteção. Disse ele, com um olhar vibrante, ele parecia muito mais animado do que em todas às vezes que nós encontramos desde aquele momento.
- Caso não queiram utilizar os talismãs, é apenas uma escolha e eu não posso obrigar vocês, mas a ameaça agora e muito maior do que todos pensam, as Luas Superiores são poderosas demais e toda a ajuda e necessária nesta situação de guerra eminente. Relembrou Oyakata-sama, que parecia estar sério e focado, o olhar sereno dele recaiu sobre nós e Shinobu levantou-se antes que todos pudessem reagir e, delicadamente, pegou um dos amuletos e agradeceu Itsuki antes de sair.
Sanemi parecia indignado, mas assim como os outros Pilares, mesmo relutando muito, acabou por pegar um amuleto, que quase quebrou com a força de seu punho.
Eu esperei todo mundo sair antes de finalmente interagir com Itsuki, Shinobu e Mitsuri estranharam minha decisão, mas acabaram por sair sem dizer nada.
E assim que eles se foram, levantei-me e abracei calorosamente o demônio ao lado de Kaguya, que demonstrava um leve sorriso no rosto parcialmente consumido pela maldição.
Itsuki abriu um grande sorriso com as presas expostas, e além de me dar um amuleto extra, também deu um livro preto com uma chama reluzente na capa, mas nem conversamos por muito tempo, já que precisava me preparar para a próxima missão.
A Vila dos Ferreiros precisava de proteção, e alguns Pilares haviam sido encarregados de vigiar e defender o local, enquanto alguns outros iriam percorrer e checar perímetros maiores durante esse período de preparação.
Durante algumas semanas, após Tanjiro se recuperar, acabamos por treinar juntos antes de seguirmos em direção a Vila, já que sua espada havia quebrado e o ferreiro responsável por ela recusou-se por tudo a reformá-la.
Nezuko, em algumas ocasiões, se faziam presente em nossas sessões de treinamento, apenas espreitando de dentro da mansão, ela não era um oni fraco, pelo que Tanjiro havia me dito, ela enfrentara de igual à igual uma das Luas Superiores 6, e seu Kekkijutsu de chamas vermelhas que foi responsável por curar a todos após a longa batalha contra elas.
Mas ainda havia uma dúvida em minha cabeça, por que a Superior 1 apareceu após o confronto? Quais eram suas intenções? Por que raios Muzan não a obrigou a matar todos?
Mas, como em um suspiro de alívio, em uma tarde de primavera, me alonguei, embainhei minha Katana e vesti minha farda.
Com a ajuda dos Kakushis, Tanjiro e eu éramos guiados em direção a Vila dos Ferreiros, eles haviam o vendado em colocado tampões em suas narinas, impedindo que Tanjiro se localizasse com exatidão, já em relação a mim, apenas me guiavam por um longo caminho enquanto carregavam meu Tsuguko nas costas.
Frequentemente, os membros que carregavam a Tanjiro eram substituídos e assim fora por toda a viagem.
Mas algo estava me incomodando, uma sensação, um frio na espinha conhecido que me deixou com um sentimento de alívio e espanto ao mesmo tempo.
Me senti bem, mas tinha medo de nunca mais vê-lo novamente, tinha medo de não poder mais toca-lo ou beija sua boca.
Por que eu tive que me apaixonar justo por um inimigo?

Olá, me desculpem por toda a demora, mas agora estarei por aqui com mais frequência.
Muito obrigado por todo o apoio de vocês, beijos a todos que estão lendo esta fanfic S2.

Amor Proibido: Sangue Escuro Onde histórias criam vida. Descubra agora