Ele fora até o Tribuna da Bahia, onde Cláudio Nunes trabalhava, e o esperou sair. Já eram 6 da tarde e não demorou muito para que o redator aparecesse, ele o seguiu até sua casa e descobrira que seu concorrente morava num edifício no Caminho das Árvores, um dos bairros nobres da capital baiana, isso o deixou mais irritado do que já estava. Ele aproveitou que Cláudio deixara o portão do edifício aberto e entrou, quando Cláudio entrou no elevador ele entrou também, cumprimentou Cláudio, mas esse estava tão concentrado no celular que mal lhe respondeu, saíram no 5° andar.

Ele observou discretamente enquanto Cláudio entrava no apartamento 59, agora sabia onde ele morava. Esperou um pouco para ver se ele sairia à noite e quando ele saiu, aproveitou para investigar o apartamento, sabia como fazer isso sem deixar rastro, afinal, era escritor de romance policial e aprendera muito pesquisando para o seu livro. Era amante de literatura policial e de mistério desde pequeno e naquele momento se sentia um verdadeiro detetive. Usando luvas, abrira a fechadura e entrara sem ser visto, era um detetive com conhecimentos de um ladrão.

Era um apartamento comum aos endinheirados, coisa que ele não era, por isso a única coisa que lhe chamou a atenção foi a estante cheia de livros na sala. Havia romances de todos os tipos, coletâneas de contos, de crônicas e alguns livros de não ficção. Em uma mesinha no quarto estava o notebook de Cláudio, tentou ligá - lo, mas pedia uma senha e ele desistiu, nada mais naquele cômodo lhe interessou, na verdade era tudo muito impessoal, não havia nada que pudesse indicar quem dormia ali, só que era homem.

Voltou para os livros da sala, nunca tivera livros, pegava emprestado na biblioteca da escola, hoje tinha alguns, era um sonho seu ter sua própia biblioteca e recentemente começara a montar uma na casa dos seus pais, onde ainda morava, mas não era nada como aquela estante: 2 metros de largura e 5 prateleiras entupidas de livros. Folheava um quando ouviu alguém mexer na porta, não fazia muito tempo que Cláudio saíra, "será que esqueceu alguma coisa?" Ele pensou, escondendo - se em um dos quartos. Abriram a porta. Era Cláudio. Ele precisava sair dali. "Pense, pense", dizia para si mesmo.

Aquele quarto parecia um depósito, tinha de tudo lá, incluindo uma esteira e alguns pesos de academia. Os pesos acenderam uma luz em seu cérebro, pegou um deles e saiu do quarto. Cláudio estava na sala, de costas para ele, procurando alguma coisa na carteira, quando ele acertou o peso em sua cabeça, com toda a força que tinha. Cláudio caiu no chão desmaiado. Ele olhou para aquele homem caído a seus pés, avaliou - o por alguns segundos e depois foi em direção à saída do apartamento.

Quando entrara ali pensara que podia encontrar alguma coisa que fizesse o livro de Cláudio ser desclassificado no concurso, talvez o próprio livro, o apagaria e ele não teria o que publicar, mas no momento em que colocou a mão na maçaneta da porta, uma ideia lhe ocorreu, hesitou por alguns instantes, mas não havia outro jeito, tinha que fazer, eliminaria Cláudio Nunes definitivamente.

Não tinha armas, teria que usar uma faca, mas antes precisava amarrar Cláudio antes que acordasse. Foi até o quarto de onde tirara os pesos e encontrará um corda fina, enquanto voltava para a sala lembrou - se de um trecho do único texto do site de Cláudio que ele lera, um conto: "(…) levaram - no para um palco rodeado por uma multidão, colocaram uma corda em seu pescoço e lhe perguntaram: - quais são suas últimas palavras? Ele permaneceu em silêncio. Abriram o alçapão e ele mergulhou para a morte levando a verdade consigo." E teve uma ideia.

Cláudio já estava quase de pé quando levou uma segunda pancada na cabeça e desmaiou outra vez. Havia uma argola pendendo do teto, parecia coisa de academia, talvez de um morador mais antigo, já que Cláudio não parecia já ter se exercitado alguma vez na vida. Ele arrastou uma mesa que tinha no canto da sala para debaixo da argola, subiu em cima, amarrou uma ponta da corda na argola, desceu da mesa e a empurrou mais para um lado, jogou Cláudio em cima da mesa, subiu na mesa, ergueu Cláudio apoiando - o em seus ombros, amarrou a outra ponta da corda no pescoço de cláudio e o empurrou para fora da mesa.

A queda não foi muito grande, mas foi o suficiente. Cláudio se debateu,  desesperado por ar, por longos 5 minutos, quando a vida se esvaiu de seu corpo. Enquanto o corpo ainda balançava ele arrastou a mesa de volta para o lugar dela, imaginando se aquele homem sabia por que estava sendo enforcado, se soubesse nunca contaria a alguém, levaria essa verdade consigo, como no conto e ele sorriu com a ideia.

Escreveu algo num papel, colocou - o no bolso da calça de Cláudio e foi em direção à saída, mas antes de deixar o apartamento deu uma última olhada para aquele corpo e disse em voz alta:

- Obrigado por me ceder seu lugar no concurso, não vai se arrepender.

Mortos ao Pé da LetraOnde histórias criam vida. Descubra agora