Mortos ao Pé da Letra

4

Ele deixara o apartamento de Cláudio a quase 24 horas, mas sua mente continuava lá, não conseguia esquecer a imagem daquele corpo pendurado pelo pescoço, mais especificamente daqueles poucos segundos em que Cláudio se debatera, lutando pela vida. A agonia que vira naqueles olhos moribundos provocara algo novo nele, uma sensação diferente, estranhamente boa, ele não sabia explicar o que era, mas tinha gostado do que sentira naquele momento e se perguntava se seria possível sentir de novo.

Nunca vira uma pessoa morrendo, mas imaginara milhões de vezes essa cena e nenhuma dessas vezes chegara perto da realidade, não era tão assustador, nem tão triste como pensara. A vida deixa o corpo em poucos minutos e é como se a pessoa tivesse adormecido, nada mais. Na verdade ele se sentira poderoso ao ver o outro morrer, porque tinha em suas mãos o poder de decidir se ele viveria ou morreria. Decidira pela morte.

Mas de certa forma Cláudio pedira para ser morto e ainda escrevera como queria morrer, naquele conto publicado no seu próprio site, cujo trecho final ele anotara num papel e deixara na calça do escritor. Aquele papel era sua forma de explicar a quem encontrasse o corpo, o que tinha acontecido ali, ainda que fosse apenas um dos motivos daquela morte, o outro ninguém precisava saber.