O café era uma delícia, o bolo de chocolate então, estava de comer rezando, mas ele comeu sem saboreá - los, sua atenção estava toda voltada para a garçonete ruiva, ela era o motivo dele estar ali. Olhava para ela e se perguntava se seria ela mesma a poeta que roubara o lugar dele no concurso. Lídia Ferreira parecia não ter nenhum dos requisitos necessários para publicar um livro segundo seu pai, devia ser a exceção da regra, ainda assim…

Sabia que era muito difícil viver da escrita, em qualquer lugar do mundo, e que a maioria dos escritores tinha outras fontes de renda, mas achava que quem trabalha com algo que não tem nada haver com a escrita, não pode ser um bom escritor, não com um trabalho te distraindo. Ele próprio, trabalhava numa editora e achava difícil conciliar esse "trabalho" com o seu de escritor, às vezes esgotava sua mente e ele não conseguia escrever o que realmente importava para ele. "Como uma pessoa pode trabalhar o dia todo como garçonete e ainda ter tempo e disposição para escrever alguma coisa que preste?" ele se perguntava, "não pode" ele mesmo respondia.

Ficara observando Lídia por quase uma hora, depois saíra e aguardara no carro, estacionado a alguns metros do café até às 22 horas, quando fecharam as portas do café. Ele viu a poeta sair de lá e entrar por um portão ao lado, ele levou o carro para frente do portão e a viu entrar por uma porta no topo de uma escada, as luzes estavam apagadas, então deduziu que não havia ninguém além dela lá em cima.

Ele pôs luvas, pulou o portão e subiu, a porta estava aberta e ele entrou, Lídia estava na cozinha retirando roupas da máquina de lavar. Ele sabia o que queria fazer, mas só quando viu a máquina descobriu como faria. Ele apanhou uma jarra de vidro na mesa e bateu na cabeça de Lídia com tanta força que a jarra se partiu em pedaços e a poeta desmaiou. Ele tirou o resto das roupas da máquina e colocou ela lá dentro, de cabeça para baixo, ela despertou e se debateu por alguns minutos até se aquietar, ele aguardou mais um pouco e a soltou.

Era bom, muito bom, sentir a vida de alguém escorrer por suas mãos, tudo o que sentira enforcando Cláudio Nunes, sentira de novo afogando Lídia. Ele tremia dos pés à cabeça, de excitação, podia sentir a adrenalina correndo em suas veias, fazendo seu coração acelerar e o deixando ainda mais excitado. Ficou alguns minutos contemplando a cena que ele mesmo produzira, incapaz de se mexer.

Aos poucos foi se acalmando, até lembrar que precisava ir embora. Pegou um papel e escreveu um trecho de um poema escrito por Lídia, assim como Cláudio Nunes, ela também escrevera como queria morrer. Ele enrolou o papel e prendeu - o na pulseira que estava no braço dela, secando - o antes para evitar que molhasse o papel.

Observou Lídia Ferreira por mais alguns segundos e, contra a própria vontade, deu meia volta e foi embora. Aguardava ansioso pela próxima vez, pois tinha certeza de que haveria uma.

Mortos ao Pé da LetraOnde histórias criam vida. Descubra agora