Capítulo 1

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BRIANNA MARSTON

Caso aceite nossa proposta, agendaremos o início das suas atividades para janeiro. Feliz Natal, Miss Marston.

A risada que eu dou é de alívio, e um pouco de descrença também, o suficiente para chamar a atenção de Liz, minha assistente, que estica a cabeça por cima do próprio computador para me olhar.
— Está tudo bem, Bree?
— Melhor estraga. — Impulsiono a cadeira para trás, sorrindo tanto que o rosto chega a doer. — Liz, faça as malas e dê adeus ao capeta de terno!
— Você é maluca... — diz, olhando para os lados com preocupação. — Imagina se Underwood te ouve, aí que você é mandada embora.
— Não se eu pedir as contas primeiro. — Pisco, e ela entende.
— Você conseguiu? Outro lugar? — Ela abre e fecha a boca. — Que presentão de Natal, hein?
— Sim, senhora! Você está olhando para a nova Vice-presidente de Operações da Core Tech. — comemoro. — Finalmente um lugar que não ligou para Anthony para pedir referências. É a única explicação.
Liz tem sido, nos últimos seis anos, a única pessoa que entra nessa sala que entende o meu ódio mortal por Anthony Underwood, o nosso belo e nada gentil CEO. Assim, ela acompanhou diariamente todas vezes em que eu quase chorei de raiva na minha sala, todas as patadas e padrões impossivelmente altos que ele impôs desde que eu me tornei Diretora.
O mais engraçado é que eu nunca fiz nada para ele, muito pelo contrário. Sempre me esforcei demais para agradá-lo, não só porque ele é o todo-poderoso da história, mas, porque eu queria ser ele. Na minha cabeça, fazendo o certo, ele entenderia isso.
Pobre de mim, iludida. Um homem convencido daquele jeito não deve facilitar para uma concorrente nem por delírio.
— Ainda bem que não tem gasolina aqui, porque o fogo no seu olhar podia explodir tudo. — Liz dá uma risadinha maldosa. Em seis anos, ela já viu de tudo, afinal. — Odeia tanto assim esse lugar?
— Não, é claro que não. Não me leve a mal, Liz, eu amo trabalhar aqui, só gostaria que...
— Que Underwood não fizesse da sua vida um inferno. Na frente dos outros, ele é um doce, gentil, elegante, verdadeiro cavalheiro, mas em qualquer reunião que você esteja presente, se não é ignorada, ele parece ser incapaz de tecer um elogio. Eu não quero ser rude, chefe, mas já ouvi algumas vezes. — Vejo seus olhos se fecharem e abrirem rapidamente atrás dos óculos, estilo gatinho cor-de-rosa, pensativa.
— O que vaga por essa cabeça, Liz?
— Nada não.
— Desembucha.
— Agora que você já tem um futuro, posso perguntar uma coisa que eu tenho comigo desde aquela primeira vez que você gritou comigo por causa dele?
— Eu já te pedi tantas desculpas que dá para fazer um monumento, já... — Abaixo a cabeça, porque ainda me envergonho daquilo.
— Não, que isso, não é essa a questão — ela dá uma risadinha. — Já se perguntou porque Anthony Underwood trata todo mundo bem, menos você, e, ao mesmo tempo, não te manda embora nem deixa ninguém te contratar?
— Porque ele é inseguro, idiota e grosseiro.
E é um puta de um gostoso arrogante, e você não supera o fato dele não te tratar como a rainha que você é.
Com vocês, Brianna Marston, masoquista e idiota, às ordens.
— Então não está mais aqui quem perguntou — garante, dando uma risadinha, parecendo continuar os pensamentos, maldosos sem dúvida, na sua cabecinha cheia de ideias. — Agora, como vai pedir demissão? Tem que ser algo bem impactante.
As ideias fervilham. Posso pedir direto ao RH e deixar ele descobrir sozinho. Chamar a imprensa e fazer uma belíssima coletiva, colocando minha mudança nas costas dele, ah! Isso seria um escândalo. Não, daria trabalho para outras pessoas e ele nem vai sentir...
O que fazer, Bree? O que fazer?
— Se eu puder dar uma ideia... — A mente diabólica de Elizabeth me tira dos meus pensamentos, que parecem um tanto infantis agora. — Mas essa é a última semana antes das férias coletivas... Imagina se você esperasse até o último minuto para... sei lá, fazer algo? Imagino que ele passará as festas bem ocupado com ligações do RH e da imprensa, e dos investidores...
— Deus deixou você passar na fila da maldade umas doze vezes, Liz. — afirmo, encantada e assustada em partes iguais. — Mas você me deu uma ótima ideia. Qual é a ocasião que nosso CEO mais adora, porque ele transforma toda a megalomania dele em uma festa?
— A Festa de Natal dos funcionários. E esse ano será Black Tie ainda. Imagina, ele com a cara no chão em um smoking? Ah, eu imagino que ele ficaria muito descontente em perder uma Diretora tão importante bem no dia que ele cacareja para o mundo o quão bom ele é... — Liz me acompanha no raciocínio. — Nossa, nós poderíamos ser presas por isso.
— Claro que não, não é como se nós estivéssemos planejando o assassinato dele, só vou pedir demissão, Liz — argumento, chocada. — Mas está resolvido, temos três dias para mudar de ideia. Almoço?
— Duvido que você vai mudar de ideia. — Liz pega o crachá e sorri. — Aonde vamos?
— Vamos ao italiano. Uma comemoração dessas merece o melhor.
— Você paga. — A abusada sai toda feliz.
Pego minha bolsa e assinto, animada pela festa como nunca estive. Vou planejar um pedido de demissão que ele não vai esquecer.

🎄

ANTHONY UNDERWOOD

— Essa é a última assinatura — garante meu advogado, passando o tablet para minhas mãos.
Assino tão forte que se fosse papel, furaria: nunca fiquei tão feliz por renunciar a algo. Até porque não é como se fosse a companhia da minha família. Meu pai era garçom e minha mãe, assistente social, nada que me amarre a esse lugar. Sou grato pela fortuna que ganhei, mas não tanto: eles pagaram por um serviço, e eu sou o melhor que eles poderiam contratar.
Nem sei porque estou suando frio.
— Tudo em ordem, senhor Underwood, foi um prazer — Donald Lin, o advogado da empresa sorri, animado. Ele sim, tem motivos para estar nervoso: a LinTech é da família dele. Se a estratégia der errado, ele quem vai perder.
Seria uma pena, penso com escárnio.
Quinze anos entre essas paredes e eu ainda acho incrível perceber que entrei aqui como aprendiz e subi até o cargo mais alto por puro talento e dedicação. E algumas amizades também, mas não precisei pôr a mão no bolso por nenhuma delas.
Não significa que vou sentir falta desse lugar. Vou curtir o doce sabor de me aposentar com trinta e seis anos só porque posso, e se o tédio aparecer, com certeza vou encontrar o que fazer.
Essa é a vantagem de ter investido o suficiente para sustentar, literalmente, eu, meus pais, e minhas próximas gerações, futilidades inclusas.
— Tem certeza disso, Tony?
— A única certeza que tenho é a morte, Paul, e nem isso eu sei quando.
Giro a cadeira e olho pela janela, a cidade começando a acender suas luzes e indicando o começo da noite. Meu advogado para do meu lado, encostado na mesa. Ele é um homem bem mais velho, como um segundo pai para mim.
— Justo. Estarei aqui por todo processo, Anthony, e para os próximos, se precisar.
— Com certeza estará. Por enquanto, posso dizer que estou satisfeito com a minha decisão, e com a decisão dos acionistas e da família. Vai ser bom.
— O que Marston acha disso?
Um sorriso fino se forma no canto da minha boca, só de imaginar o quanto ela vai discordar dessa decisão, só pelo prazer de me contrariar.
Ela discordaria da porra da paz mundial se eu fosse a favor.
A astuta, talentosa e deslumbrante Brianna Marston, a melhor e mais competente Diretora dessa empresa, também se considera meu nêmesis. No começo, exigir mais dela foi um pedido da própria cúpula de acionistas, mas depois virou um prazer quase cegante irritá-la.
E como um homem que pode ter, ser e fazer o que quiser, tirar Brianna Marston do sério é meu hobby favorito. Já tenho coisa séria demais para lidar no meu dia a dia para não me aproveitar.
— Vai ter que perguntar a ela — digo, o meu maxilar trincado imaginando Brianna puta da vida, o colo vermelho de raiva subindo e descendo, com sua maldita língua afiada e boca deliciosa.
Essa mulher é um pesadelo, mas um com quem eu passaria a noite acordado sem problema nenhum.
— Já vou pedir para avisarem...
— Não, deixa que eu faço isso — digo, meu cérebro trabalhando a mil para dar a notícia para a empresa da melhor maneira possível, e de quebra, forçar Brianna a agir como uma doce pessoa, pelo menos na frente de todos os funcionários.
Os boatos que ela realmente me odeia tem razão em existir: não costumo fazer da sua vida um passeio no parque. E uma provocação pública é o melhor presente de Natal que eu poderia ter.

O PIOR CEO DE NATAL | um conto enemies to loversOnde histórias criam vida. Descubra agora