•Pepa Madrigal•

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Olá, olá queridos! Eu sei, eu seeei que atrasei um tiquinho e já tá meio tarde, mas em minha defesa... eu sou uma decepção com horários no GERAL!

Mas aqui estamos com um capítulo fresquinho, como o prometido! Eu espero ver todos vocês de volta por aqui com o tempo! Muito obrigada pelo seu apoio e carinho, vocês me ajudam muito em tempos difíceis!

Dito tudo isto, fiquem com o capítulo! :3

Ser a filha do meio nunca havia sido uma coisa boa para Pepa, os poucos minutos que a separava de seus irmãos haviam sido o bastante para transformá-la na filha apagada da família por muito tempo, a criança que precisava se esforçar duas vezes mai...

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Ser a filha do meio nunca havia sido uma coisa boa para Pepa, os poucos minutos que a separava de seus irmãos haviam sido o bastante para transformá-la na filha apagada da família por muito tempo, a criança que precisava se esforçar duas vezes mais para chamar atenção de Alma e dos outros moradores de sua vila. Julieta era a “señorita perfecta” aos olhos de todos, esbanjando responsabilidade e uma maturidade incomum para sua idade, enquanto Bruno era o caçula e o xodó de sua mãe, sendo mantido abaixo das asas protetoras de Alma. Dessa forma, não era incomum ver a pequena de trança ruiva correndo por entre as ruas de Encanto, buscando por novos jeitos de ser notada e se envolvendo frequentemente em problemas ou brigas com os outros jovens, acumulando uma boa coleção de machucados em sua pele e sermões duros de sua mãe.  
 
A mulher se lembrava de si mesma ao olhar para Camilo. Seu pequeno filho do meio, o mais extravagante e decidido, o qual estava sempre pregando peças nos cidadãos e implicando com suas primas e sua irmã. Em seus olhos, Pepa enxergava seu próprio reflexo; aquela menininha raivosa e descontrolada. O brilho no rosto alegre de seu pequeno era o motivo pelo qual ela se esforçava todos os dias para manter suas emoções sob controle, a imagem que aparecia em sua mente quando precisava buscar forças para se acalmar e impedir que alguma tragédia envolvesse a vila era seu sorriso. Se ela pudesse, o manteria para sempre junto de si, apoiando-o e amando-o. Ela sabia que amava os três filhos igualmente e faria de tudo por cada um deles, mas precisava desesperadamente proteger aquele que carregava em si tudo o que ela havia sido um dia. Precisava acolher aquele garotinho que, para ela, nunca cresceria.
  
Mas, naquele momento, ela não o via. Não o ouvia. Não sentia o calor de seu abraço e não conseguia se esquecer da última vez em que tocou em seus cachos macios. 
 
Seus olhos pesavam após quase três noites e três dias sem conseguir dormir, os chás de Julieta não pareciam ajudá-la e seu coração não estava apenas dolorido ou partido, ele estava gritando dentro de seu peito como se milhares de espinhos se cravassem em si, quebrando-a em mil pedaços e dividindo sua alma em centenas de preocupações. Gostaria de saber se seu filho estava se alimentando bem, se estava dormindo e se conseguia realmente se proteger sozinho em um mundo que sequer conhecia.  
 
Mas, definitivamente, o pior de tudo era ela. 
 
Jade continuava dormindo no quarto de Mirabel, ajudando nos trabalhos de casa e na vila. Ela estava ali todos os dias, caminhando pelo pátio de Casita e conversando com Dolores, auxiliando-a nos preparativos para seu casamento. Estava brincando com Antônio em seu quarto e ajudando Isabela a descobrir novas decorações florais para as sacadas das casas, deixando-as únicas. Ela estava por toda parte. Não importava onde Pepa tentava se esconder, pois dava de cara com a garota e imediatamente seu corpo se incendiava, sua mente se fechava em uma névoa obscura, os olhos avermelhados e inchados se enchendo novamente de lágrimas. Ela não culpava Jade por aquilo, mas não conseguia encará-la. Não conseguia olhar para a jovem que seu filho amava.  
 
—  Mi amor, estou indo ajudar Agustín. Você vai ficar bem? — a voz dócil de seu marido atingiu seus ouvidos, despertando-a de seu transe e fazendo com que seu olhar confuso repousasse sobre sua imagem. O homem estava parado ao seu lado, observando-a com a mesma expressão tensa dos últimos dias, sem o seu típico e belo sorriso. Pepa sabia que era a culpada por ter arrancado isso dele, mas se esforçou para formar um sorriso pequeno nos lábios, assentindo com um aceno de cabeça e suspirando ao sentir a mão delicada de Félix tocar seu rosto, acariciando sua bochecha com o polegar e depositando um selinho sutil em sua boca. — Ele voltará logo, não se preocupe. 
 
Ela gostaria de acreditar naquilo.  
 
A Madrigal do meio se levantou lentamente de sua cama após o homem sair do quarto, olhando para as paredes ao seu redor e notando as gotas de água abundantes que escorriam pelo papel de parede, desaparecendo como ilusões ao alcançar o chão e tornando a cair. Respirou profundamente ao ignorar uma pontada amarga em seu peito, caminhando devagar até sua escrivaninha e pegando a pequena fotografia envolta em uma moldura simples de madeira, os olhos se fechando minimamente ao observar o rosto alegre de Camilo, o qual exibia o sorriso mais lindo do mundo. Ela não acreditava que ele havia tido coragem de fazer aquilo com ela, mas não conseguia ficar brava. Ela apenas o queria de volta em seus braços. Ela queria sentí-lo novamente, saber que estava seguro. 
 
Se ele pedisse, ela iria junto dele. Iria até o Inferno por seus filhos.  
 
— Mamãe? — a voz baixa de Dolores soou do outro lado da porta após três batidas fracas, a atenção da mulher se voltando imediatamente para a filha mais velha, a qual já adentrava o quarto com um vestido antigo e familiar pendurado em seus braços, mas logo sua atenção se desviou para a imagem de Jade atrás dela, segurando uma xícara de chá e mordendo os lábios com força. A ruiva sentiu seu coração bater mais forte antes de quase parar, as lágrimas insistentes retornando e um gosto metálico preenchendo sua boca. — Mirabel terminou os retoques no meu vestido, olha!  
 
A ruiva respirou o mais profundo que conseguia, suas mãos trêmulas deslizando com força através de sua longa trança enquanto soltavam fios alaranjados desajeitadamente, quase quebrando alguns no processo. Pequenas nuvens se formavam sobre sua cabeça enquanto os olhos se mantinham fixos sobre a estrangeira, a qual evitava encará-la e se encolhia timidamente atrás da mais velha. Ainda assim, a mulher espantou sua pequena tempestade com um abano agitado e caminhou até as duas, segurando cuidadosamente o vestido em suas mãos e o estendendo a sua frente, analisando com cuidado o tecido macio e correndo o olhar pelos bordados delicados em tons de vermelho que formavam pequenas folhas e ondas sonoras, os babados no decote mais modernos do que se lembrava e a medida ajustada para o corpo de sua filha, mas ela ainda se lembrava perfeitamente de quando havia o usado em seu próprio casamento, anos atrás.  
 
Seus olhos lacrimejados desviaram para o rosto radiante de sua filha, um pequeno e sutil arco-íris se formando acima de si sem que sequer percebesse enquanto as íris esverdeadas brilhavam e refletiam o sorriso de Dolores, o peso em seu peito se aliviando por alguns segundos ao abraçar a moça com força, lembrando-se finalmente de que, apesar de Camilo não estar ali, seus outros filhos precisavam dela. Dolores teria o dia mais feliz de sua vida em breve e ela deveria apoiá-la da mesma forma que Julieta e Alma a apoiaram quando estragou seu próprio dia.  
 
— Ficou incrível, mija! Minha garota vai ser a noiva mais linda desse mundo! — a mulher comentou com a voz levemente rouca e fina, acariciando os cabelos cacheados da mais nova e se afastando brevemente para observar seu rosto juvenil.  
 
— Obrigada, mamá! Eu queria que Camilo estivesse aqui, mas vamos tirar muitas fotos para ele! O que acha? — um sorriso sutil enfeitava os lábios delicados e vermelhos da jovem, o que fez com que Pepa concordasse brevemente com a cabeça, se mantendo em silêncio e lutando para manter o sorriso em seu rosto.  
 
— Seu irmão está feliz por você, seja lá onde ele estiver agora — Pepa respondeu após alguns segundos, tentando se convencer daquilo. Não sabia se era o bastante, mas ao menos poderia tentar se consolar com a ideia de que ele estava realmente bem fora dali.  
 
— Vou deixar a senhora descansar, mamá... tia Julieta está preparando um cafézinho da tarde, então desça logo para comer — a filha mais velha pediu em um tom calmo, beijando carinhosamente a bochecha de sua mãe e sorrindo novamente antes de pegar o vestido e se afastar, deixando o quarto e finalmente permitindo que a presença silenciosa de Jade pesasse no ambiente, relembrando Pepa de que ela ainda estava ali.  
 
— Eu... eu fiz um chá — a garota murmurou em um gaguejo após um tempo, dando um passo hesitante na direção da mãe de Camilo e estendendo a xícara de porcelana com cuidado. Pepa relutou a observá-la, mas se rendeu e finalmente se permitiu olhar novamente para a Falcão, notando quase de imediato a forma intensa com que suas mãos tremiam e faziam o chá balançar perigosamente, se impulsionando a aceitar rapidamente a bebida, retirando-a de suas mãos para evitar qualquer acidente com queimaduras. Seus olhos pesados percorreram curiosamente sobre a aparência de Jade, na qual já não reparava há um bom tempo e definitivamente não era como se lembrava naquele momento; aquela pele pálida e as olheiras profundas em seu rosto não eram comuns, muito menos as cavidades aprofundadas e ressecadas de sua face. 
 
— Você está bem? Pelos céus, Jade, olhe para você! — a ruiva exclamou sem pensar, deixando o chá sobre a escrivaninha e segurando os ombros da jovem com certa força, conduzindo-a rapidamente pelo cômodo e a fazendo se sentar ao seu lado na cama, os olhos grandes e cansados analisavam sua expressão surpreendida e se preocupava ainda mais ao notar os lábios levemente rachados. — O que aconteceu com você?
 
— Eu não tenho conseguido dormir muito bem, eu acho... — Jade confidenciou em um sussurro, seus ombros relaxando e caindo ao seu lado de forma pesada, os olhos encarando suas mãos repousadas sobre o colo enquanto os cabelos caíam sobre seu rosto magro.  
 
— Isso... é sobre Camilo, não é?
 
— Eu sei que ele queria partir, eu entendo isso... eu deveria estar feliz por ele — a voz baixa da adolescente se embargou repentinamente quando ergueu seu rosto para a mulher, um sorriso forçado em seus lábios enquanto limpava cuidadosamente a água que havia se formado em seus olhos. E aquilo havia quebrado uma parte de Pepa. — Sempre me disseram para apoiar quem amo, eu deveria estar bem... mas eu só... 
 
— Está desmoronando — a mais velha completou com um suspiro, segurando uma das mãos frias de Jade e acariciando-a com cuidado, os olhos finalmente tomando coragem para encará-la por mais do que três segundos. Pepa não havia percebido até aquele momento que não era a única acabando consigo mesma, se torturando e esperando que a dor desaparecesse milagrosamente. — Eu sinto que nunca mais vou vê-lo... eu me lembro da primeira vez em que vi seu rosto e isso me perturba todos os dias.  
 
— Eu tenho medo que ele se vá como todos se foram — a voz da Falcão ecoou levemente mais alta quando seus olhos se encontraram com os da Madrigal, ambas se perdendo em suas próprias lágrimas.  
 
Pepa não precisou pensar sobre isso quando se inclinou em sua direção e a envolveu em seus braços, apertando-a em um abraço forte e escondendo seu rosto em seus cabelos embaraçados, sentindo quando a garota retribuiu seu gesto e aumentou a intensidade de seu choro, os soluços se misturando pelo silêncio do quarto e sendo interrompidos apenas longos minutos depois pelo rangido inesperado da porta, fazendo com que se separassem e se voltassem para o pequeno que se encolhia confuso na entrada do quarto, as encarando com os grandes olhinhos brilhantes e apertando uma carta contra seu corpo. 
 
— Toñito, está tudo bem, venha aqui — a mulher chamou ao limpar o rosto com seu antebraço, sorrindo o máximo que conseguia e estendendo a mão para seu caçula, o qual sorriu mais confiante e correu rapidamente até a ruiva, subindo em seu colo com facilidade e se acomodando. 
 
— Olha, mamá, olha, Jade! Camilo mandou a primeira carta! — a criança exclamou com a vozinha suave, as pernas balançando enquanto estendia o papel na direção da mais jovem, observando-a ansioso quando a garota pegou a carta com as mãos trêmulas. Jade respirou fundo ao trocar um novo olhar com Pepa, ambas sentindo o coração acelerar contra seus peitos.  
 
Sem perder mais tempo, Jade abriu a carta, respirando fundo e lendo em voz alta: 
 
Querido Toñito e família, 

 
Como está, maninho? Eu espero que essa pomba saiba mesmo o caminho de casa, porquê me meter em encrencas ela sabe muito bem. Sinto falta de vocês, mas não vão acreditar em tudo que aconteceu nesses dias! Existem tantas coisas que não conhecíamos, tantos lugares... o mundo aqui é lindo! Encontrei algumas pessoas que não gostaria, mas dei um jeito nelas, então não se preocupem. Eu estou comendo coisas que nunca imaginei que existiam e as cidades parecem cada vez maiores enquanto me afasto! Não é nada como nos livros que a abuela lia todas as noites, é muito mais bonito pessoalmente! Eu fiz muitos amigos por aqui, conheci muitos garotos e garotas da minha idade! Não precisa ficar brava, Jade, nenhum deles era mais bonito do que você. Aliás, estou chegando à conclusão de que isso é impossível, nada se compara aos seus olhos. Espero que estejam se cuidando bem por aí, eu vou voltar assim que puder, então fiquem bem.  
 
Mamá, papá... sei que devo ter assustado os dois. Eu sinto muito por não ter me despedido, mas não tive coragem. Eu amo vocês dois, até você, papá! Mamá, espero que me perdoe por isso e não destrua a vila inteira, isso não seria muito bom para o povo... espere por mim, por favor, eu te amo mais do que tudo! Eu só preciso me conhecer, mas assim que tiver certeza sobre quem eu sou, estarei de volta em casa.  
 
Com amor e muito medo de um castigo eterno, 

Camilo Madrigal." 

A Ilusionista | Camilo Madrigal - Encanto |Onde histórias criam vida. Descubra agora