Olá, olá queridos! Como estão hoje? Aqui estou eu novamente com um novo bônus especialmente para vocês!
Todos já sabem que eu sou incapaz de agradecer o suficiente por todo apoio e carinho que vocês vêm me dando nesse tempo, então sintam-se muito abraçados agora! Eu com certeza vou trazer mais fanfics de Encanto (inclusive, tenho duas praticamente prontas que foram postadas apenas no Spirit e que, talvez, eu traga para cá em breve). Enfim, caso queiram me acompanhar podem me seguir! Muito obrigada outra vez! 💛🦋 E dito isto, este é o fim. 🦋
Rudá: “divindade do amor”; este nome provém da cultura indígena da tribo Tupi e representa o deus do amor, um anjo cupido responsável por preparar as pessoas para o amor.
Guaraci: “sol”, “a mãe deste dia”; este nome provém da cultura indígena da tTupi e representa o deus do sol, guardião do dia.
Jaci: “lua”; este nome provém da cultura indígena Tupi e representa a deusa da lua, protetora das plantas, guardiã dos amantes e da reprodução.
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Seus longos cachos esvoaçavam delicadamente ao redor de seu rosto conforme a brisa fresca batia contra si, os olhos amendoados observavam a pacífica vila em um tédio quase palpável enquanto a criança se encolhia contra um banco de madeira e suspirava incontáveis vezes. Os olhares curiosos frequentemente caíam sobre o pequeno sozinho antes de se voltar aos seus devidos caminhos, cochichos rondavam ao seu redor e, vez ou outra, alguém acenava e o cumprimentava alegremente, às vezes chegavam a parabenizá-lo por algo que sequer havia acontecido ainda. Ele odiava toda aquela atenção e definitivamente só queria correr para o berçário de sua casa e se esconder em sua cama até o dia passar.
Rudá respirou profundamente e com o máximo de calma possível, juntando suas mãozinhas em um aperto forte para tentar se controlar, algo parecia queimar internamente em seu corpo e enchia sua mente com imagens cada vez mais vívidas sobre as próximas horas, a ansiedade crescia mais a cada segundo e as palavras de sua tia, Mirabel Madrigal, ecoavam novamente em sua mente: ele se lembrava perfeitamente de cada palavra da velha e tradicional história sobre como sua bisavó conseguiu o milagre, se lembrava muito bem das frases de apoio sobre orgulho e ser quem é. Claro que o pequeno conto nostálgico de sua mãe sobre a família Falcão também rondavam junto de suas preocupações, um tremor forte o consumia ao pensar sobre o peso de dois milagres em seus ombros. E se nenhum funcionasse?
Seus irmãos mais velhos, os gêmeos Guaraci e Jaci*, haviam recebido ótimos dons há dois anos atrás. Ainda era um pouco incômodo vê-los brigando pela Casita todos os dias enquanto as luzes se acendiam e apagavam intensamente conforme seus gritos, apenas Jade conseguia acalmá-los o suficiente para que aquilo parasse. Guaraci, o mais velho dos três filhos, possuía uma capacidade incrível de dominar qualquer fonte de claridade e, inclusive, criar fagulhas de luz de seus próprios dedos, o que fazia sua mãe se orgulhar e sempre repetir que havia escolhido bem o nome dos filhos. Já Jaci, a filha do meio por poucos minutos de diferença, domava facilmente as sombras e a escuridão, capaz de colocar toda a vila sobre uma penumbra terrível em seus dias de mau-humor.
Jade havia os contado sobre as antigas histórias de sua família; os bisavós de sua mãe haviam vindo de uma antiga tribo indígena e preservavam muitos de seus costumes e crenças após a fuga, inclusive seus deuses protetores, os quais tinham certeza que haviam sido seus salvadores e lhe presenteado com suas benções.
E se Judá não correspondesse às expectativas como seus irmãos? O que faria? Apesar de Mirabel sempre dizer a todos que eram o maior orgulho da família e que estavam no caminho certo para eles, era difícil de acreditar em suas palavras. Era difícil carregar duas heranças mágicas e temer não ter nenhuma. Ele sabia a história sobre como os Madrigal perderam seu milagre – seus tio-avô Bruno e sua tia Dolores haviam sido extremamente dramáticos ao lhe contar todos os detalhes antes de dormir – e tinha medo de que aquilo acontecesse novamente.
— Buenos días, Rudá! — a vozinha levemente rouca e dócil atraiu rapidamente a atenção do Madrigal, revelando o sorriso animado de seu melhor amigo; Benjamin Castello, um garotinho enxerido de belos olhos azulados, pele negra e cachos curtos e bem definidos, o qual sempre estava sujo de terra devido as suas brincadeiras nada seguras pela floresta ao redor de Encanto, além de seus arranhões e machucados bem aparentes. Não era incomum ouvir os berros de sua mãe para que se comportasse.
— Bom dia, Ben — o Madrigal mais novo sorriu sutilmente ao observar o amigo sentar-se ao seu lado e relaxar despreocupadamente sobre o banco, aparentemente alheio ao pânico interno de Rudá. — Pensei que estava ajudando a decorar com a Ágata e o Juan.
— Ah, eu estava... mas sua mãe tá’ doida atrás de você! Ouvi ela gritar o seu nome umas quatro vezes enquanto estava lá, acho que vai ficar de castigo depois dessa noite — Ben comentou em um tom brincalhão e bateu cuidadosamente contra seu braço, sorrindo de forma confiante e apontando na direção de Casita, a qual parecia inundada por uma escuridão densa e trovões estrondosos. — Todo mundo está te procurando, na verdade. Quer dizer, do que adianta tudo aquilo se a estrela principal não está lá?
Rudá encolheu quase automaticamente seus ombros e deslizou no banco, respirando fundo e fechando os olhos em uma tentativa de escapar da culpa. Sabia que sua mãe não ficaria brava quando o encontrasse, Jade era extremamente paciente com seus filhos e sempre preferia acolhê-los ao invés de assustá-los, mas ainda não queria ser encontrado. O dia começava a escurecer vagarosamente e logo as pessoas da vila se reuniriam em sua casa apenas para vê-lo, isso ainda era muito intimidador para o seu gosto. Era óbvio que Dolores e Victória sabiam onde ele estava, mas aparentemente haviam preferido deixá-lo voltar quando se sentisse melhor.
— Eu vou voltar logo, eu só... queria brincar mais um pouco — o mais novo tentou encontrar qualquer desculpa para se distanciar de seu medo, forçando um sorrisinho em seu rosto e se levantando em um pulo antes de se voltar para o amigo. — Nós podemos brincar de pega-pega!
Os olhinhos redondos de Benjamin pareceram brilhar com a ideia e o garoto já estava prestes a se levantar quando uma sombra maior cobriu seu corpo, mantendo-o parado no mesmo lugar. Rudá sentiu o coração acelerar imediatamente ao erguer seu olhar em direção à fonte de sombra e, de repente, mal pôde respirar. O rosto conhecido e divertido o encarava confuso, uma sobrancelha levemente arqueada enquanto mantinha as mãos em punho sobre a cintura e um sorrisinho quase cínico enfeitava seu rosto quando deu a volta no banco e tomou o corpo da criança em seus braços, ajeitando-o em um abraço e rindo calmamente.
— Pega-pega com essas roupas brancas? Sua mãe pode não te matar por isso, mas definitivamente me mata! — a voz de seu pai quase havia desaparecido de sua lembrança nos últimos meses, mas imediatamente aqueceu tudo dentro de si e fez com que o caçula o apertasse com toda a força que tinha, escondendo o rosto em seu peito e sentindo sua barba fazer cócegas em sua testa. Às vezes, era difícil não ter Camilo ao seu lado. Apesar do homem passar apenas poucos meses fora vez ou outra, ele não gostava da ideia de ficar esse tempo longe do homem. Sua irmã, por outro lado, estava sempre implorando para ir junto em suas viagens e raramente conseguia acompanhar o pai em suas aventuras. Agora, afinal, a passagem para Encanto era completamente livre.
— Você veio! — o garoto não pôde deixar de dizer enquanto se afastava minimamente de seu pai, os olhos esverdeados de Camilo pareciam brilhar em pura felicidade e afeição enquanto bagunçava os cachos de seu filho, reparando em como estava crescendo rápido. Benjamin se afastou silenciosamente de ambos, feliz por saber que seu melhor amigo estava em boas mãos, mas triste por não poder brincar.
— É claro que eu vim, eu não perderia a cerimônia do meu menininho — Camilo exclamou animado ao começar sua caminhada em direção à Casita, mantendo a criança em seu colo e aproveitando cada segundo ao seu lado. Conseguia ouvir os gritos em busca de seu filho de longe e se lembrava claramente da cerimônia de seu irmão mais novo, Antônio. — Por que não está em casa se preparando? Parece que todos estão revirando tudo de ponta-cabeça atrás de você.
— É que... — o pequeno tentou verbalizar suas preocupações, porém as palavras se engasgaram em sua garganta como se um nó o impedisse de pronunciá-las, o fazendo se calar quase no mesmo instante. Suas mãozinhas rapidamente apertaram o tecido da ruana de seu pai e ele buscou inconscientemente pelo aconchego que apenas Camilo sabia lhe proporcionar, agradecendo por estar junto do homem naquele momento.
— Eu sei... é muito assustador, não é? — o mais velho sorriu ao acariciar seus cabelos, respirando fundo e lembrando-se de quando havia sido sua vez. Uma risadinha escapou por entre seus lábios enquanto segurava o filho com cuidado, observando atentamente seu rostinho emburrado. — Não se preocupe, carinõ, eu e sua mãe estaremos com você, não vai passar por isso sozinho.
— Vocês podem... podem entrar comigo? — o pequeno questionou ao esfregar um dos olhos de forma sonolenta e cansada, deixando claro que em pouco tempo de festa estaria adormecido em algumas cadeiras de madeira enquanto os mais velhos aproveitavam, algo que tendia a acontecer em quase todas as comemorações. Rudá definitivamente era o mais delicado de seus filhos e parecia necessitar de uma atenção ainda maior, sendo o pequeno bebê mimado de seus pais e irmãos. Observar a criança em seus braços e saber que aquele era seu filho – seu filho com a pessoa que mais amava – enchia Camilo com um sentimento quente e indescritível, um amor tão forte que parecia capaz de consumi-lo e destruir todas as suas defesas.
— É claro que sim, meu anjo — o homem beijou carinhosamente sua testa enquanto adentrava o breu que cobria sua casa, os gritos se tornando mais altos enquanto os trovões ecoavam por toda parte. Ainda assim, apenas continuou andando calmamente, já acostumado com o caos diário de sua família. Ele amava aquilo.
Um sorrisinho pequeno e inconsciente se formou sobre o rosto de Rudá enquanto se voltava para Casita, seu coração parecia bater mais calmamente e os pensamentos ruins o deixaram em paz durante aquele tempo. Uma parte de si ainda suava frio e pensava em fugir, mas o garoto conseguia se apoiar no sentimento forte de seu pai e se manter firme ali, pronto para enfrentar a descoberta de seu dom, algo que apenas Bruno e sua mãe sabiam qual seria – afinal, Jade pedia por uma visão sempre que estava grávida, ansiosa demais para saber se seus filhos cresceriam bem e, consequentemente, acabava descobrindo algumas coisas e mantendo como um segredo.
— Rudá! Pelos céus, onde você estava? — a voz de Jade rapidamente invadiu seus ouvidos ao adentrar Casita e a mulher em poucos instantes estava o roubando dos braços de seu pai e o apertando carinhosamente contra seu corpo, dando um beijo estalado em sua bochecha e deixando uma pequena marca de batom em sua bochecha. A criança não pôde esconder uma careta enquanto esfregava a mancha avermelhada com as costas da mão em uma tentativa falha de se livrar dos lábios da mulher, a qual apenas riu enquanto o observava e logo se voltou para Camilo, recebendo-o com um selinho demorado e aumentando o sorriso. — Estava esperando por você também, se atrasou dessa vez.
— Desculpe, mas resgatei esse rapazinho pelo caminho — o homem riu em um tom baixo ao abraçar a esposa, ambos envolvendo o filho em uma espécie de concha quentinha, mantendo-o em um lugar seguro e repleto de carinho. — Achei que fosse gostar do presente.
— Papai!
— Pai!
As vozes dos gêmeos rapidamente ecoaram pelo local e o escuro ao redor se dissipou imediatamente, dando lugar à uma luz radiante que preencheu cada canto da vila. Os dois correram até sua família, se jogando contra Camilo e rindo alto quando o homem os pegou em seu colo, apesar de já terem ambos sete anos. Os dois o abraçaram enquanto o mais velho os balançava de forma agitada, os risos dos três preenchendo Casita e dando espaço para uma atmosfera acolhedora e alegre. Rudá aumentou seu sorriso ao deitar a cabeça sobre o ombro de sua mãe, agradecendo silenciosamente por tê-los em sua vida.
— Tudo bem, tudo bem, pimpolhos... todos já chegaram, é a hora da cerimônia do seu irmão — Jade comentou em meio a uma risadinha calma, os filhos mais velhos riram animados ao serem novamente colocados sobre o chão, ajeitando suas roupinhas e correndo até sua mãe, segurando cuidadosamente as mãos de seu caçula.
— Boa sorte, maninho! — disseram em uníssono antes de rir novamente e correrem em direção ao pátio, se batendo e empurrando entre gritinhos agitados e cumprimentando sua prima, Mirabel, quando a mais velha passou ao seu lado e se juntou à Camilo e Jade com um sorriso confiante e otimista, segurando o cálice da Família Falcão cuidadosamente.
— Parece que nosso garotinho está pronto — a mulher comentou com um sorrisinho desajeitado enquanto Jade colocava seu filho cuidadosamente sobre o chão, pegando a taça de sua família e sorrindo em resposta para Mirabel, sua mão livre segurando a de Rudá enquanto Mira acariciava os cabelos do pequeno e se voltava novamente para o pátio, deixando-os a sós.
— Não se esqueça, cariño, independente do que aconteça, essa é sua família e você sempre será amado por nós — Camilo comentou ao segurar a mãozinha livre do filho, apertando-a cuidadosamente para apoiá-lo.
— Você já é muito especial, nosso maior dom é você — sua mãe complementou ao beijar sua testa carinhosamente, se ajeitando e guiando-o junto de Camilo até o longo corredor por onde passariam.
Rudá respirou fundo enquanto apertava as mãos de seus pais cada vez mais forte, evitando olhar para os rostos de todas as pessoas que o assistiam atravessar o longo pátio até as escadarias onde seu novo quarto esperava, seus cabelos caíam suavemente sobre seu rosto enquanto mantinha a cabeça baixa para se desviar dos olhares e o coração parecia prestes a saltar de seu peito, mas o calor do toque de Camilo e Jade lhe dava as forças necessárias para que suas pernas se movessem junto deles. O garoto pôde ouvir os gritinhos de incentivo de seus irmãos mais velhos enquanto subia os degraus e tomou coragem para finalmente erguer seu rostinho e se deparar com a imagem sorridente e orgulhosa de Mirabel, a matriarca de sua família – apesar de ainda ser muito jovem –, a qual estendia sua mão em direção à criança.
Ainda timidamente, Rudá se permitiu se afastar de seus pais e segurar a mão da matriarca, a qual acariciou sutilmente sua pele com o polegar e se voltou para o povo e para o restante das duas famílias em meio a um longo discurso sobre a história dos Madrigal e dos Falcão, seus olhos lacrimejavam sempre que comentava sobre abuela Alma e sua trajetória para erguer aquela família. Rudá notou quando Jade se juntou aos dois, se abaixando na sua altura e sorrindo ao entregá-lo o cálice mágico de sua família. Apenas os descendentes dos Falcão tomavam o tradicional cauim após a benção de Mirabel e, assim, a criança segurou desajeitadamente o objeto em suas mãos e bebeu um gole longo do líquido alcoólico amargo com um toque leve de frutas vermelhas, o qual desceu quente por sua garganta e pareceu queimar seu estômago, resultando em uma careta exagerada. Jade riu baixinho ao acariciar sua bochecha e pegar novamente o cálice, se afastando alguns passos enquanto algo em Rudá parecia prestes a explodir.
A criança respirou fundo mais uma vez antes de se voltar para sua porta, hesitando por um breve momento antes de finalmente tocar em sua maçaneta, fechando os olhos com força quando uma luz dourada se mesclou à brilhos em tons de roxo e, assim, figuras simbólicas para a tribo de seus tataravós preenchiam a madeira ao redor da imagem esculpida e brilhante do próprio Rudá, seus olhos bem abertos com pupilas em um formato curioso de coração e pequenas flechas cercando-o. O garoto não pôde sorrir imediatamente, apenas se atentou ao som inquietante do silêncio e se voltou para seu pai, o qual acenou de forma positiva.
E, quando menos esperava, Rudá notou uma aura rosada ao redor do corpo de seus pais, preenchendo-os brilhantemente enquanto pequenos fios vermelhos pareciam ligá-los um ao outro. Olhando ao redor, notou diversas linhas espalhadas pelo chão e pelo ar, cores diferentes se ligando a diversas pessoas cercadas por auras fortes e densas. Os olhos da criança se arregalaram imediatamente enquanto um sorriso preenchia seu rosto.
Ao abrir sua porta naquela noite, Rudá havia mudado completamente a forma como enxergava o mundo.
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A Ilusionista | Camilo Madrigal - Encanto |
FanfictionCamilo Madrigal ama sua família e sua vila mais do que tudo, mas após passar toda sua vida preso por todos os montes e árvores que protegiam os cidadãos do mundo de fora, ele já estava cansado e terrivelmente entediado. Ele precisava de pessoas, lug...