04 - Um Novo Alfa

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Notas: A partir daqui a história será narrada em 1° pessoa.

Anton

Alcateia de Drenera.

100 anos depois.


Finalmente depois de tantos anos de espera, eu finalmente a teria, aquela que a deusa havia designado para mim. Hoje eu a teria em meus braços, e seria somente minha. Não consegui dormir noite passada, e ao chegar na cidade pela manhã, já fui arrastado para minhas novas responsabilidades. Apesar de um pouco ansioso, estava longe de reclamar. Afinal, se eu de fato quisesse que ela me visse como um bom líder e um companheiro digno, então eu tinha que fazer o meu trabalho e mostrar que era competente.

Entretanto, foi difícil pensar em caçadas, providenciar mantimentos, organizar turnos de patrulha, estratégias de defesa ou qualquer outra coisa. Era um desafio maior ainda quando se passa meses em uma viagem para chegar até a única coisa que importava. Sim, foi difícil me concentrar em outra coisa. Diante do espelho, ajeito a lapela do gabardino de couro preto, apenas queria causar uma boa impressão quando a visse. Embora não tivesse sentido seu cheiro em lugar nenhum o dia inteiro, eu tinha um forte pressentimento. Meus instintos nunca falharam antes, e meu inquieto lobo interior, ávido para encontrá-la, era prova disso.

— Já está pronto, Cinderelo? O baile já vai começar — minha irmã surge na porta pela terceira vez. A miserável parecia ter desaprendido a bater na porta.

— Você não se cansa de ser tão insuportável? — rebato, mas ainda mantendo a calma. Estava de tão bom humor hoje que nem mesmo ela seria capaz de me irritar.

— E você não se cansa de ser encalhado? — ela ri.

Respiro fundo e vou até a porta, já estava cansado daquilo. Ao olhar para trás uma última vez, checando se estava apresentável o suficiente, eu me pego pensando em como havia chegado aquele ponto. Nunca havia me preocupado tanto com minha aparência antes, mas a expectativa me deixou assim. Eu sabia que algumas mulheres de minha espécie escolhiam tomar poções para esconder seu cheiro de todos, mas minha prometida não seria capaz de se esconder de mim, ao menos não hoje. Minha posse havia coincidido com a primeira Lua cheia do período, consequentemente um dos dias mais importantes para fazer uma reivindicação daquele nível.

— Vamos logo antes que os petiscos acabem — ela reclama novamente. Segurava uma caneca de vinho pela metade, e pelo tom de voz afetado, não havia começado a beber agora.

— Algum motivo especial além do seu novo cargo? — eu pergunto, ela não é assim.

— Por que não aproveitar? — Celest devolve — Vamos todos morrer mesmo, nenhum bebê nasce há mais de cem anos em nenhuma alcateia, então...

Não respondo, pois compreendo o que ela quis dizer. Mesmo sem expectativas futuras, ainda tínhamos que aproveitar o tempo que nos restava. Esta terra nos fazia pensar nisso. Foi este o último lugar em que o Supremo veio antes de retornar para o norte. Alguns dizem que ele encontrou a companheira, mas ela entrou na floresta e nunca mais foi vista. Algumas versões da história dizem que ele a encontrou morta, outras dizem que ele a matou. Mas essa última hipótese era a menos provável, nenhum lobo teria a coragem ou a capacidade de tirar a vida de sua própria companheira. A versão oficial, contada pelo próprio, era de que a busca pela Suprema Luna teve de ser suspensa graças aos ataques dos humanos em seu território. A guerra os havia levado para vários lugares do continente, e ela nunca foi encontrada. Era óbvio que para a maioria da espécie, todas as esperanças de um futuro estavam mortas.

Rusalka (Em Andamento/Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora