06 - Refúgio

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Iloryn

— Fica quieta, porra, ela tá acordando — diz uma voz de mulher.

Sinto a cama afundar dos dois lados antes mesmo de abrir os olhos. Apesar de querer acordar, o sono parece querer me puxar com força para que volte a dormir.

— Eu nem sei porque você está aqui, eu que sou a beta! — uma outra voz feminina rebate.

— Fora, vocês duas — dessa vez, uma voz masculina carregada de autoridade fala.

— Mas a gente...

— Quando eu precisar eu chamo vocês — ele as põe para fora e logo se pode ouvir o barulho da porta sendo fechada.

Tomo coragem e ao mesmo tempo me esforço para abrir os olhos. Minha visão estava um pouco embaçada e tudo à minha volta estava borrado. A princípio não vejo ninguém. Eu estava em uma cama, minhas roupas haviam sido trocadas. Eu estava seca, e a sensação era um tanto estranha. Mantos pesados e quentes me cobriam e uma lareira estava acesa, mas ainda assim uma onda de arrepio gelado percorre meu corpo. Levo uma mão na cabeça, meus membros estavam tensos como se eu não os movesse há muito tempo. Tudo doía, tudo parecia girar. Minhas têmporas latejam de tanta dor de cabeça e não consigo disfarçar o semblante desconfortável. Numa tentativa de me sentir melhor, eu me forço a sentar na cama, mas levanto rápido demais e um ponto em meu abdômen dói tanto que a deixa tonta.

— Ei... Vá com calma — a voz masculina diz. Mãos surgem no meu campo de visão, apoiando minhas costas, e colocando mais travesseiros atrás de mim.

Eu observo seu rosto concentrado na tarefa, e meus olhos finalmente recuperam o foco. Era ele o mesmo homem quem havia me tirado do lago. A luz fraca das velas no quarto deixavam seus olhos azuis mais escuros. O cabelo loiro estava levemente bagunçado, o que o deixava ainda mais bonito. A barba por fazer delineava seu rosto como o toque final de uma tela de pintura. Me lembro de como ele parecia feliz ao me ver, e de como eu fui capaz de sentir seu carinho apenas com suas palavras. Ele era encantador demais para ser de verdade, eu só podia estar sonhando.

— Desculpe se deixei que a acordassem, queria deixá-la descansar mas você estava inconsciente há algumas horas... Fiquei preocupado.

A minha falta de reação parece preocupá-lo também, mas eu ainda não entendia o que estava acontecendo. Minha consciência tensiona em alerta de que eu não deveria estar sozinha com um homem que mal conhecia, no entanto não consigo me importar de verdade. Um instinto mais poderoso me diz que eu posso sim, confiar nele.

— Aqui, beba isso. Vai ajudar com a garganta — ele entrega uma xícara. Iloryn a pega, sentindo o cheiro de ervas medicinais. O aroma era tão familiar quanto o sabor — Qual seu nome, amor?

O adjetivo me pega desprevenida, mas ele diz com tanta calma e ternura que não posso dizer que não gostei.

— Eu... — paro de falar quando não escuto som algum. A estranha sensação de um coração acelerado faz todo o meu corpo entrar em alerta. Sinto uma súbita falta de ar, e nem havia me dado conta de que podia fazer isso.

Prendo imediatamente a respiração e rejeito a realidade estranha em que eu me encontrava. Me afasto dele e me encolho na cama o máximo que posso. Um arrepio percorre minha espinha, um medo desconhecido me invade e não consegue assimilar mais nada. Minha visão embaça novamente e gotas de água escorrem dos meus olhos. "Onde eu estava? O que está acontecendo?" Não sou capaz de dizer, mas tenho certeza de que ele percebeu.

— Ei, ei... O que houve? — ver aquele estranho e bonito homem se preocupar comigo era demais para mim.

Levo ambas as mãos no coração, sentindo as batidas desenfreadas. Minhas mãos sobem pelo meu pescoço sentindo a pele dolorida no local, e de repente estou sufocando. Mal sabia o que era aquilo, mal sabia o que era respirar e nem sabia como fazer. Meu ar estava acabando, e as lágrimas descontroladas que não paravam de jorrar não me permitiam pensar claramente.

Rusalka (Em Andamento/Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora