03 - O Fim

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Ao passarem pelos muros, o estrangeiro começa a falar novamente e a mulher atrás deles continua traduzindo. Iloryn tratou de se concentrar apenas na fala da mulher, desejando desesperadamente poder recorrer a ela para que traduzisse suas boas intenções em ter vindo até ali. Se tivesse sorte, eles aceitariam, e ficariam longe de Tarynth.

— Você deve se considerar muito sortuda, princesa Helleen, não são todos que tem o privilégio de entrar em nossos domínios. Sei que deve estar assustada, mas se for a pessoa que procuramos então não tem nada a temer de nós.

A criada estava a ponto de entrar em pânico, seu coração disparado parecia desacelerar de repente e sua cabeça gira. Nunca havia se sentido tão mal em toda a sua vida, e também nunca havia tido um desmaio mas pensou se essa não seria uma boa hora para fingir um.

— E se eu não for a pessoa que procuram? — ela toma coragem pra perguntar.

Ela não era a princesa Helleen, logo, estava condenada. A mulher diz alguma coisa para o homem, e Iloryn deduz que ela traduziu sua fala. O homem barbudo apenas ri. Eles caminham rapidamente por pelo menos dez minutos até chegar a uma carruagem, ou melhor, um único vagão sob duas rodas. O veículo não era tão grande quanto a carruagem de Tarynth em que havia saído, onde era grande o suficiente para deitar e ficar de pé sem ter que se curvar. Iloryn é escoltada, e os presentes que trouxera vão espremidos com ela. Ali dentro, ela precisava ir sentada o tempo todo e se segurar para amortecer os fortes solavancos devido à velocidade. Não conseguia ver quase nada, apenas as poucas luzes da cidade. Estava tentando ver pelo tecido que cobria o vagão, quando uma enorme sombra salta para frente, fazendo com que Iloryn se desequilibrasse e batesse as costas no chão. Ruídos de animais grandes avançavam junto da carruagem. Deuses, ela estava sendo levada por lobos gigantes. Constatar o óbvio era ainda mais aterrorizante do que de fato ver o que acontecia lá fora. Ela não estava cercada apenas por aqueles lá fora, e sim por uma cidade repleta deles. Não demora mais do que dez minutos para que o veículo finalmente desacelerasse. A porta é arrancada por uma pata enorme assim que param. Um imenso lobo cinzento olha diretamente para a criada, que se encolhe inutilmente contra a outra extremidade do vagão, mas sabia que seria inútil caso ele resolvesse atacar.

— Skōros nūzmāriē a nīvī, kēllītrāz? — o homem estranho que a recebeu retorna ostentando um sorriso presunçoso. Ele empurra o lobo de seu caminho para que pudesse falar com ela.

A tradutora surge logo atrás dele, no entanto ela não diz nada. O barbudo se volta para ela de modo frio, mas a mulher fala primeiro.

— Skōdinō vī ordīz a mōz vaēr djā Lunā, stāvīrti riē. (Se ela for a nossa Lunā, você vai se arrepender de ter dito isso).

Iloryn olha para a mulher e o homem à sua frente, que pareciam estar discutindo. Ela não conseguia nem imaginar o teor da conversa, mas a tradutora parecia altiva e entediada subitamente, ao contrário do semblante irado do homem barbudo.

— Svālīz a stavōz, prīztākōjī. (Apenas traduza, feiticeira) — ele rebate em um tom sombrio. Os dois estrangeiros se encaram por longos segundos, até que por fim a mulher se volta para ela e diz:

— O que pensa que está fazendo, princesa? — ela finalmente diz a primeira frase.

— Gylāvōz a mōz — o homem acrescenta irritado antes de sair andando.

— Venha conosco — a tradutora permanece esperando por ela.

Iloryn esfrega o rosto com força, enxugando uma lágrima rapidamente. Ela desce do veículo de cabeça erguida, e os estranhos a conduzem até um casarão afastado do centro. Ao contrário do que ela pensava da cidade, as construções estavam sendo revitalizadas, e ao menos onde estavam havia poucos resquícios de abandono. Mais lobos gigantes são vistos na frente da casa. Essa era a mais bem protegida, aparentemente. Enquanto iam até lá gotas de chuva começavam a cair devagar mas logo começa a chover forte, felizmente eles já estavam na varanda da casa quando isso acontece. Guardas abrem as portas com um estrondo, e metade das luzes lá dentro se apagam devido a forte ventania. Estavam dentro de uma enorme sala vazia, a única mobília eram seis cadeiras na frente das duas.

Rusalka (Em Andamento/Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora