014 - Estrelas

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Iloryn

A garota mira no alvo há dez metros dela. Com o arco bem erguido próximo ao rosto, seus dedos puxam a corda, esticando o cabo da flecha até que ele toque seus lábios. Ela respira fundo. Dvora solta a flecha atingindo o alvo um pouco a esquerda do centro. Seu semblante fecha, e ela abaixa a cabeça decepcionada.

— Foi muito bem — Kariss incentiva.

— Bem mau — ela replica.

— Você nunca havia empunhado um arco antes, aprendeu rápido e é melhor do que eu era quando comecei — a mulher continuava.

Kariss havia sido Primeira Guarda do palácio lunar, antes de vir parar aqui era a segunda feiticeira mais importante e poderosa. Seu cabelo escuro comprido e cacheado e sardas pelo rosto a deixariam com um ar doce, se não fosse pelo olhar feroz. Me aproximo das duas, mesmo tímida.

"Posso tentar?"

— Mas é claro. — ela me entrega um arco.

Retiro uma flecha da aljava e ela vem pra me ajudar, mas eu já puxo a corda encaixando-o na minha mira. Kariss se afasta para observar. Me dou conta que minha postura estava errada, então ergo mais o braço que segurava a flecha. Fecho os olhos me concentrando, e quando volto a abrí-los fixo no alvo mais distante, mas era como se ele estivesse bem na minha frente. A distância parou de ser um problema, e até o vento parecia ter mudado seu curso ao meu favor. Elevo ainda mais a altura do arco e solto. A flecha dispara rapidamente até fincar no centro do alvo. As mulheres ao meu redor permanecem em silêncio, surpresas pelo meu desempenho e eu mais ainda. Não fazia ideia de que sabia fazer aquilo, mas pareceu tão instintivo, como se eu soubesse a vida toda.

— Você tem que me ensinar a fazer isso! — Dvora é a primeira a se pronunciar. Apenas sorrio, agradecendo o apreço.

Ficamos a noite inteira procurando um lugar seguro para esconder todas as mulheres que haviam estado no lago. Não soube explicar exatamente o que tinha acontecido, e felizmente Anton não fez muitas perguntas, mas eu sabia que era por falta de tempo. Ele trabalhou incansavelmente para manter todas a salvo. Segundo ele, elas não podiam ficar na alcateia, não era seguro. A notícia se espalharia, e precisávamos de tempo para planejar o que fazer em seguida.

Eu e as outras cinco mulheres que estavam comigo viramos o olhar na direção das pessoas que chegavam. Anton carregava vários sacos pesados de mantimentos junto com Sybil. Devolvo o arco a Kariss e vou até ele. Anton larga o que carregava no chão e vem para o meu lado, me abraçando e beijando minha testa.

— Pessoal, uma ajudinha aqui... — Sybil reclama. As mulheres que não estavam trabalhando dentro da casa, ou no campo vem para ajudar.

Meu companheiro me dá um selinho. Tenho certeza que minhas bochechas viraram dois tomates, pois pareciam pegar fogo. Ele sorri enquanto faz um carinho rápido no meu rosto.

— Anton, você não me contou que sua companheira era uma excelente arqueira — diz Kariss. Ele olha pra ela e depois de volta pra mim.

— É uma surpresa pra mim também - Ele responde.

— Mas é claro que é, afinal, eu não esperaria menos de uma deusa — a mulher sorri.

Observo meu companheiro cerrar o maxilar. Não havíamos falado sobre nada do que tinha acontecido no lago, ele não perguntou e eu também não saberia por onde começar, não parecia que havia sido eu quem as tinha salvado. Eu mesmo não me entendia, não esperava que ele magicamente pudesse me compreender também, pois apesar de sermos "destinados" um ao outro, nós nos conhecíamos há apenas alguns dias. Embora eu quisesse saber mais sobre seu passado, eu não tinha nada para oferecer em troca, não lembrava de nada. Como eu poderia ser uma criatura divina nesse estado? Não fazia sentido.

Rusalka (Em Andamento/Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora