013 - Instinto Predatório

192 30 14
                                    

Caerwyn 

— Gostaria que eu chamasse Nina também, meu senhor? Ou já está satisfeito? — sua voz baixa e submissa me irrita.

— Saia daqui. — respondo de costas, sem olhar pra ela.

Assim que ela sai eu me levanto da cadeira, colocando de volta as peças de roupas que eu encontro. "Que merda. A puta levou minha camisa". Constato ao não encontrá-la. Eu poderia castigá-la novamente se fosse o caso. Saio do quarto pondo a capa sob os meus ombros. Feita com fios de ferro estelares, que potencializa meus dons durante os períodos em que a lua não estava cheia. Agora que a porra da Lua não estava mais lá seria ainda mais útil.

Adentrando o templo, eu encontro a feiticeira ajoelhada diante da Lua Cheia, a grande redoma de vidro sempre acesa com uma chama prateada. Dela foram forjadas armas e armaduras para Supremos Alfas e Lunas ao longo de nossa história. Nas laterais as paredes eram de pedra polida da qual jorrava a água das montanhas, e passava pelo chão em fontes menores até o rio lá fora. Com as luzes apagadas e o inverno chegando, o templo tomou uma proporção sinistra, como se fosse um lugar de julgamento e não de adoração.

— Fazendo progresso? — pergunto olhando para toda a parafernalha que a mulher havia juntado diante do altar. Pedras e cristais cintilavam no chão de mármore escuro, formando um mapa de constelações ao redor dela.

— Eu estou tentando, senhor, a Lua não dá sinais há mais de quinhentos anos. — Yanith diz ainda com os olhos fechados.

Os primeiros lobos construíram esse templo, um lar para a deusa que os havia criado. Sempre pensei que fosse ter uma conexão com este lugar, pelo fato de eu ser um lobo original, descendente dos primeiros filhos da Lua, mas não. Queria poder dizer que eu tinha o dom de ver as estrelas e interpretar seja lá que porra de sinais os outros Alfas viam, mas no final das contas não fazia diferença. Eu detinha o poder Supremo sobre todos eles.

Paro ao lado da mulher ajoelhada, olhando meu reflexo pela parede espelhada. Meu abdômen é marcado por cicatrizes, espólios da guerra que a própria Lua causou. Eu não me importava com nenhuma delas, ou o fato de eu nunca mais ter conseguido me curar como antes depois da cicatriz de faca acima do umbigo. Depois daquilo eu mal sentia qualquer coisa. A água não parecia o bastante para saciar minha sede, o calor das mulheres em minha cama não eram suficientes... Nada.

— Ela está me punindo agora? Cinquenta anos depois? — pergunto.

Yanith finalmente abre os olhos.

— A deusa tem bom coração, mostre misericórdia aos seus subordinados e ela retribuirá ao seu favor.

Reviro os olhos com baboseira. Eu havia matado milhares de humanos, matado feiticeiras ainda ontem, matei minha companheira. Nem mil anos de exílio seriam capazes de expurgar isso. A feiticeira tira seu olhar do meu para olhar para a porta. Um sentinela estava chegando até nós com notícias.

— Meu senhor, desculpe interromper mas pediu que eu avisasse quantos Alfas seguiram suas ordens sobre as feiticeiras.

Ah sim. As putinhas da Lua. As alcateias estavam infestadas de mulheres com poderes. Essas não foram capazes de encontrarem companheiros, então vieram aprender a serem úteis de outra forma. Felizmente minha alcateia já estava livre delas. Não havia necessidade de tantas feiticeiras que não me diziam nada sobre o desaparecimento da Lua, principalmente quando a única função delas era servir aos Alfas, e já não havia tantos Alfas assim. Yanith, por outro lado, se mostrou útil muitas vezes durante todo o tempo que esteve comigo, mas agora estava começando a duvidar.

— E quantos deles seguiram as ordens?

— Apenas Crysest, senhor. E eles não mataram as feiticeiras, apenas as prenderam, mas escaparam.

Rusalka (Em Andamento/Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora