Mitologia

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Título: Luar

Sinopse: "Seu amor era Tsukuyomi, o deus da lua e, por sentir algo tão intenso e carnal por uma divindade, ele seria punido."

Universo Alternativo | Angst

Sentia, em sua pele, o frescor do anoitecer. O frio congelava seus ossos, arrepiava seus pelos e queimava por dentro como se seus órgãos estivessem congelados.

Doía como a morte e, mesmo assim, ele caminhava até a varanda, a bengala em uma das mãos, fazendo soar o som abafado da madeira contra a neve que se encontrava sobre o chão.

Nesse instante, ele levantava o rosto, os olhos fechados, ignorando a ardência que o frio causava e suspirava, permitindo que o ar gelado entrasse pelas suas narinas, fazendo-o estremecer.

Os dentes batiam uns nos outros, ele tremia por inteiro, mas ali, sob a luz do luar, parte da angústia que o acompanhou durante sua vida toda, se esvaía.

Parte dela.

O restante se transformava em mais frio, fazendo-o desejar que, de fato, seu coração congelasse, impossibilitando-o de continuar sentindo aquela dor.

Shisui sabia, no entanto, em seu âmago, que a carregaria pela eternidade.

Era a sua sina.

Ele sabia que era.

Ainda que desconhecesse a razão.

***

O luar lhe caía bem. A luz da lua reluzia em seus olhos negros e se esta não fosse a mais pela visão que poderia ter, com toda certeza seria a de seus cabelos soltos bailando ao vento ou a de sua nudez, tão bela quanto o próprio astro majestoso que a iluminava.

Notando-se alvo de seu olhar, Tsukuyomi sorria, os longos dedos se levantando para convidá-lo a se juntar a ele sobre a grama.

Era como uma armadilha, como um convite para a sua ruína, mas Shisui deixou-se envolver.

E quando ia até ele, era derrubado sobre o chão macio e seu corpo era coberto pelo dele antes que ambos mergulhassem em prazer.

Atrás da expressão de deleite do homem sobre si, havia a enorme lua cheia, resplandecendo em toda a sua glória, fazendo brilhar o suor em suas peles e iluminando as feições extasiadas.

— Tsukuyomi... — O murmúrio soava pelos seus lábios como uma prece.

— Me chame pelo meu nome — Era a resposta que tinha, baixa, sussurrada, o tom de voz grave e sedutor.

— Itachi...

— Isso... — Lhe era sussurrado de volta em meio a um sorriso que se desfazia, novamente, naquela expressão de deleite que conhecia tão bem.

Como testemunha, a lua os iluminava, poderosa, brilhante, a única a possibilitar que pudessem ver um ao outro em meio ao breu da madrugada.

Mais do que gratidão ao astro, Shisui sentia devoção. Cultivava uma paixão ardente muito maior do que sua racionalidade, muito maior do que qualquer outro sentimento.

Afinal, Itachi era o próprio luar. O luar era Itachi.

Seu amor era Tsukuyomi, o deus da lua e, por sentir algo tão intenso e carnal por uma divindade, ele seria punido.

***

Uma respiração profunda intensificou o ardor em suas narinas e se estendeu pelos seus pulmões. A sensação já lhe era conhecida, no entanto, e bem menos dolorosa do que costumava sentir quando não se expunha ao anoitecer.

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