Ultimamente não era estranho encontrar Helion perambulando pelos corredores da Cidade Escavada, pelo menos não para Az, mas era inquietante ver aquela figura cheia de luz e calor em um ambiente tão escuro e frio. Já fazia um tempo que Cassian e Rhys haviam voltado para Velaris, ele estava prestes a fazer o mesmo quando o Grão-Senhor da Corte Diurna o chamou para tomar uma bebida. Ele tinha recusado, num primeiro momento, indiferente, mas parecia que o Grão-Senhor dessa vez não queria levar um não para casa.
— Vamos, quero uma companhia agradável e bonita para beber esta noite.
— Eu não sou necessariamente agradável — Azriel respondeu secamente.
— Mas é bonito e mais agradável do que todos os outros machos daqui — Helion respondeu com um ar descontraído.
— Por que não volta para sua Corte ? Tenho certeza que achará alguém adequado — Az esperava que o assunto se encerrasse com sua resposta então aumentou o ritmo de suas passadas na esperança de deixar Helion para trás.
— Como pode ser tão difícil quanto bonito ? Pela mãe, isso não é justo — Helion disse para si, suspirando enquanto se virava para seguir o caminho contrário de Az, mas antes que completasse a ação, não pode evitar de gritar:
— Se mudar de ideia, estarei esperando em meu quarto... imagino que você saiba muito bem onde fica, Mestre Espião — Helion sentiu Az hesitar por um momento e pensou que poderia alimentar alguma esperança, mas com uma rapidez sobrenatural ele continuou a andar, ignorando completamente o que Helion tinha dito. Vendo que seus esforços não renderam frutos, o Grão-Senhor seguiu seu caminho sozinho em direção ao seu quarto e aproveitou para pedir a um criado que lhe trouxesse algumas garrafas do melhor vinho que tivesse disponível na adega.*******
Houve uma batida suave na porta, tão suave que Az pensou que Helion não teria escutado. Estava se preparando para bater de novo, dessa vez com mais força, quando a porta foi aberta com uma preguiça proposital. Helion não pode evitar de erguer as sobrancelhas em espanto e contentamento ao ver o Mestre Espião parado em frente ao seu quarto.
— Devo ficar honrado por sua ilustre presença ? — Helion fez uma reverência cortês para Az e deu passagem para o outro. — Por favor, sinta-se a vontade — Az evitou revirar os olhos ao entrar no cômodo amplo e magnífico em que Helion foi hospedado. Era impossível de conter a pequena supresa e deslumbre que cresceu em seu interior ao notar todas as almofadas e tapeçarias ornamentadas e costuradas em tons de dourado, prata, marrom e creme que decoravam o lugar. As paredes e o chão eram todos feitos de um marfim tão branco que Az se sentiu um intruso num lugar tão claro e puro. O quarto parecia pertencer mais a Corte Diurna do que propriamente a Corte Noturna.
— Talvez, você tenha terminado o que tinha que fazer antes do horário previsto ?
Helion indagou lhe estendendo uma taça de vinho enquanto usava sua magia para guardar alguns livros e pergaminhos que estavam esparramados.
— Sim — Az respondeu secamente enquanto bebia o vinho que foi oferecido, não sem antes cheirar e se certificar que o vinho não continha algum aroma ou substância estranha.
— Vejo que não quer falar sobre isso e continua cauteloso como sempre.
— Cautela nunca é de mais.
— Mas pode ser ofensiva dependendo da pessoa a qual é direcionada — Helion disse se sentando em um tapete com um montoado de almofadas no centro do quarto.
— Você não me parece ofendido — Az respondeu se sentando em frente a Helion. Se serviu de mais uma taça e colocou a garrafa numa mesa baixa que separava os dois.
— Tem razão, não estou — Helion deu de ombros fazendo com que a manga única de sua túnica deslizasse um pouco para baixo. Az reparou que a roupa de Helion estava mais folgada e frouxa que o normal e que, com pouco esforço, poderia despir o outro tranquilamente.
— O que deu em você para decidir que queria beber comigo ?
Azriel perguntou com curiosidade enquanto entornava o vinho e tinha seu copo novamente abastecido pelo companheiro.
— O quê ? Não posso ter vontade de beber com um velho conhecido ?
Helion viu Az erguendo as sobrancelhas num tom de descrença e um sorriso tomou seus lábios.
— Devo crer que o Mestre Espião, não me considera um velho conhecido ? Isso me deixa magoado. O Grão-Senhor colocou a mão contra seu coração num tom fingido de sofrimento, o que fez o Illyriano relaxar a expressão num sorriso suave.
— Não mude de assunto, sabe que posso descobrir seus segredos mais profundos, se for preciso — Az comentou de maneira descontraída.
— O quão profundo você acha que teria que ir para me fazer revelar meus segredos ?
Helion questionou mudando o tom da conversa e assumindo um ar provocativo, ele observou as sombras do encantador se moverem agitadas envolta de seu mestre. Os olhos do Illyriano tomaram um tom sombrio quando finalmente disse:
— Então essa é sua intenção...
— Talvez... você iria embora se fosse ?
— Eu não gosto de joguinhos e você já teve sua resposta antes — Az replicou se levantando.
— Tive sua resposta em questão de Cassian, você e eu na cama, mas nunca ouviu um não sobre sermos só nós dois — Helion disse enquanto terminava seu vinho.
— Também não gosto de joguinhos e não pretendo fazê-los com você, tudo que eu queria era apenas beber e conversar, não é minha culpa se é tão tentador provocá-lo.
— Não gosto de ser provocado. — Az disse com uma voz baixa e ameaçadora, antes de se dirigir à porta do quarto.
— Se essa é a voz que você usa em suas sessões de tortura Encantador de Sombras, talvez eu deva começar a me preocupar.
O Grão-Senhor se levantou, contornou a mesa e andou de encontro com o Illyriano.
— Agora sou eu que faço uma pergunta. Por que veio aqui ? Mesmo sabendo o que sinto por você, porquê veio aqui, Mestre Espião ?
Antes que Az tivesse oportunidade de responder sentiu os lábios de Helion pressionando os seus, momentaneamente. afastarem-se com rapidez.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Deus do Sol (Hiatus)
Fiksi PenggemarAz não tinha uma opinião formada a respeito do Grão-Senhor da Corte Diurna, mas uma noite pode mudar tudo. Se ele tivesse ouvido sua intuição, as coisas não teriam se tornado tão complicadas. Uma noite sem compromisso, um livro misterioso e desconhe...