O Sangue em minhas mãos me assusta muito.

Capitulo 1

   A primeira neve do ano de Nova York estava flutuando no ar, rodopiando em uma brisa gelada e derretendo nas ruas aquecidas pelos pneus. Escondido em um café quente, as mãos enluvadas de Harry envolveram uma caneca de chá quente. Ele se curvou sobre a bebida fumegante, olhando fixamente para os grãos de madeira na mesa diante dele. Estava chegando em dois anos agora – dois anos de estar aqui, sozinho.

Harry estendeu a mão para esfregar a cicatriz que veio para ditar tanto de sua infância. Mesmo que a guerra tivesse acabado há muito tempo, às vezes doía com uma dor fantasma – como se o próprio tecido cicatricial pudesse lembrar o terror da Guerra. Harry suspirou e afastou seus pensamentos de tais lembranças. Não adiantava ficar remoendo o passado. Pelo que ele podia dizer, seu passado nem existia aqui – onde quer que fosse.

“Se importa se eu me juntar a você?”

Harry pulou, derramando chá quente em suas mãos e mesa. Com uma maldição murmurada, Harry tirou as luvas molhadas de tricô que agora estavam queimando sua pele, e virou-se para encarar o estranho. Um homem apologético se ergueu sobre ele, pegando guardanapos do dispensador de mesa e oferecendo um punhado para ele.

"Desculpe por ter assustado você", disse o homem. Harry acenou para longe.

“Não há problema. Eu estava apenas... distraído,” Harry murmurou, enxugando o chá derramado. Silenciosamente, o homem se juntou, secando o outro lado da mesa e jogando os guardanapos usados ​​no lixo próximo.

"Deixe-me pegar outro chá - preto era?"

"Ah, está tudo bem -" Harry começou, mas o homem apenas assentiu e foi até o balcão. Harry respirou fundo e percebeu que seus dedos estavam tremendo. Ele não estava mais acostumado a ser abordado. Aqui ele não era famoso – ele era apenas um estranho, carregando um conjunto de cicatrizes vívidas que assustavam a maioria das pessoas. De repente, constrangido, Harry olhou para o dedo que faltava. Ele certamente não era do tipo com quem estranhos começavam a conversar.

O estranho, porém, voltava com uma nova caneca na mão. Harry tentou sorrir, mas saiu mais como uma careta. O estranho não foi dissuadido. Ele colocou o chá na frente de Harry e estendeu a mão. “Eu sou Steve.”

Harry," ele respondeu, hesitando por um momento antes de oferecer sua mão mutilada para apertar. Se o homem pensou alguma coisa sobre isso, ele não disse nada. Os olhos do homem também não se demoraram ou encararam a grande cicatriz que cruzava o lado esquerdo de seu rosto. Steve sentou-se à sua frente e Harry cuidadosamente colocou as mãos em torno de uma caneca quente mais uma vez.

Eles se sentaram em silêncio por um curto período, cada um tomando uma bebida e seus próprios pensamentos. Harry estudou o homem à sua frente. Ele era alto, ombros largos e bonito. Ele cortou o cabelo loiro Malfoy curto e deixou sem estilo. Seus olhos azuis estavam claros e sua postura relaxada. Steve exalava uma calma reconfortante quase como a Lufa-Lufa. Harry se perguntou o que trouxe o homem para sua mesa. 

Do outro lado da sala, uma mulher ruiva permaneceu na porta aberta enquanto trocava despedidas com o homem corpulento no balcão. Uma brisa fria atravessou a sala. Harry estremeceu, encolhendo-se ainda mais em seu casaco esfarrapado. O olhar de Steve voltou da rua e franziu a testa.

"Você parece frio." O próprio Steve deveria estar com frio – vestido com jeans e um suéter azul, com apenas um lenço amarelo para mantê-lo aquecido – mas ele não parecia ter nem um arrepio com o frio repentino.

Harry deu de ombros. Ele não tinha conseguido adquirir muitas coisas aqui. Ele havia chegado no meio de Nova York com dois galeões e nenhum documento de identificação. Incapaz de conseguir um emprego de verdade, ele fez tarefas estranhas e se viu entrando e saindo de abrigos. Seu casaco era grosso e remendado, adquirido em um bazar da Goodwill e certamente não em seu auge. Harry se encolheu sobre seu chá fumegante por um momento, mas Steve não pressionou mais.