Conto - O Soldado - Parte 6

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LARA

Ele voltou, no dia seguinte recebi sua ligação. Estão todos bens, apenas alguns arranhões que um bom antisséptico dá conta. Marcamos no meu apartamento, que não passa de uma cozinha em conceito aberto com o quarto. O local é péssimo, em nada se compara com a nossa casa em Virginia Beach. Com as paredes que pintamos, o deck que ele construiu e os sinos de vento que montei. O nosso cantinho, o ninho de paz e união.

- Seus cobertores ficam com cheiro de frango frito? – Ele perguntou curioso.

- Não, eu nunca cozinhei aqui. Como no hospital ou peço comida pronta. – Ele é a minha primeira visita.

Sam, continuou olhando de um lado a outro. Não tem muito para ver. Exceto...

- Me perguntava onde essa foto havia ido parar. – Ele pegou o porta-retrato, no móvel perto da cama. – Procurei na casa da minha mãe, com o seu pai.

Nossa primeira foto juntos, após uma festa de 4 julho na base. Nós saímos para ficarmos a sós, que noite maravilhosa.

- Tem outra coisa, que talvez tenha sentido a ausência. – Fui até a gaveta da cômoda, pegando o objeto. – Lembra?

- Minha camiseta do Van Halen! – Ele abriu o sorriso. – Pensei que estava pedida no deserto ou em qualquer outro lugar.

- Eu peguei porque estava com seu cheiro, daquela loção que usa. No entanto, o cheirinho passou, e só me restou dormir vestida com ela.

Me sentei na beirada da cama. Levei as mãos ao rosto, e foi assim que percebi a umidade das lágrimas. Ouvi os passos do Sam, sem dizer nada ele parou a minha frente, e puxou-me para si.

***

Pedi a ele para se sentar ao meu lado, chegou a hora. Eu não posso mais fazer silêncio sobre o aconteceu. Sinto meu corpo trêmulo e as mãos suando, o coração apertado

- Sam, eu vou contar a você tudo o que aconteceu. No entanto, eu imploro por tudo que é sagrado, não faça nenhuma loucura.

O olhar dele carregado de ansiedade e preocupação.

- Diga, Lara. – Ele apanhou minha mão esquerda.

Respirei e expirei profundamente.

- Certa dia, eu estava de plantão na emergência da base de Ramstein. Uma noite tranquila, eu aproveitei para estudar sobre alguns casos que tínhamos. – Meu tom quase como um sussurro. – Estava na sala de repouso para médicos, sozinha. Porém alguém entrou, pensei ser uma das enfermeiras ou o médico responsável pelo plantão. Contudo, reconheci a voz e percebi que era um paciente.

- Quem? – Seu tom agitado.

- Tenente Cole, ele estava no hospital para tratar um ferimento que sofreu durante um confronto. – Se fizer pausas, não serei capaz de continuar. – Perguntei a ele o que queria, se estava com algum problema físico. Cole negou, então, o mandei voltar para o quarto. E se precisasse de algo, para comunicar uma das enfermeiras. Sam, eu vi algo terrível nos olhos dele. – Senti náusea apenas com a lembrança. – Eu estava no sofá, Cole, simplesmente partiu em minha direção, foi muito rápido. Eu tentei me esquivar, mas ele é um homem grande e forte, segurou-me pelas pernas. Ficava dizendo o quanto sou bonita, que você era um homem de sorte e que tinha tudo. A posição, o prestígio e a mulher.

- Lara! – Ouvi o desespero em sua voz.

- Sam, deixe-me falar. – Respirei fundo outra vez. – Eu pedia por socorro, enquanto ele se forçava contra mim. Lutei com ele, e acertei o ferimento, que tinha na lateral do corpo. – Toda a cena percorre minha mente, com riqueza de detalhes. – Consegui me desvencilhar de suas mãos, porém ele voltou a me segurar. No confronto, caímos esbarrando na mesa, alguns objetos foram ao chão. Ele continuou o ataque, contudo, eu vi algo. Uma faca que havia caído da mesa. Sam, eu peguei e atingi o olho dele. Cole, me soltou, eu levantei e corri.

Coletânea Fardados - ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora