O grito de Armando preencheu o ambiente e viajou pelos quatro cantos da sala. Dava para ouvi-lo do saguão, certamente Adrianna o teria facilmente escutado, se não estivesse morta.
- Se controla, cacete! Desse jeito você vai entregar nossa localização - disse Renato terminando de lavar os ferimentos pelo corpo do garoto. Embora ele mesmo entendesse que o demônio, muito provavelmente, já soubesse onde eles estavam.
Armando estava sem calça, sentado na maca. Nenhum dos outros dois garotos sabia exatamente os riscos que corriam tratando daquele buraco de bala, afinal nenhum deles era médico e sequer estudaram isso na escola. Pedro foi até o restaurante do hotel para pegar um balde de água na pia e uma garrafa de Whisky, para quê exatamente? Ele não sabia, mas foi ideia de Renato usar a bebida para lavar os ferimentos e desinfectar os machucados para não haver risco de infeccionar.
- Leva um tiro no meio da coxa e derrama uma dose de Whisky em cima, aí eu digo se você me convenceu que não tenho motivos para gritar.
Renato encarou os olhos castanhos do amigo e logo depois olhou para Pedro Luiz, que apenas deu de ombros. O garoto assistia a operação em silêncio.
Renato terminou de tratar o ferimento cobrindo-o com pedaços de um lençol. Uma espécie de curativo improvisado. Era o máximo que conseguiria fazer com os recursos e a experiência que tinham. Ambos quase nulos.
- Não vamos poder tirar isso da sua perna e suponho que você não vai conseguir andar com isso aí.
- Mas como eu vou ajudar vocês desse jeito? - perguntou Armando em tom de frustração. Para o garoto, não servir de ajuda era tão ruim quanto levar um tiro.
- Já fiz o que eu podia fazer, agora é rezar para que o Farahs volte com o joguinho do demônio e a gente consiga sair desse inferno.
- Aí sim podemos te levar para um hospital onde você vai ser tratado de verdade - completou Pedro Luiz com um sorriso singelo no rosto.
Armando olhou de um amigo para o outro e também sorriu. Podia não ter sido bem tratado e o que eles fizeram podia não ter sido 100% eficaz, mas ele tinha bons amigos e reconhecia isso olhando para aqueles dois patetas à sua frente. Dois grandes amigos que fizeram o que podiam para lhe salvar.
Foi então que ele pensou em Keven.
- Eu ajudei o Keven a ficar livre do que possuía ele - disse o garoto, agora encarando o colchão na maca.
- Keven estava possuído? - perguntou Pedro Luiz. Armando concordou com a cabeça.
- Eu encontrei ele lá em cima e quase morri - o garoto olhou para o curativo no braço, lembrando o momento em que o machado passou rasgando sua pele. - Ele ia me matar, mas eu consegui tirar aquela coisa de dentro dele. Não sei bem como, mas eu consegui. Ele ia me matar, e no fim das contas acabou se sacrificando para me salvar...
A fala do garoto engasgou em sua garganta. Ele não conseguia encontrar sua voz novamente. Ele se sentiu vazio naquele momento, cheio de tristeza e culpa, mas vazio.
- Não pense besteira - disse Renato tocando de leve o ombro do maior. - Keven não se sacrificou, ele tá bem, eu sei que está. E quando a gente acabar com tudo isso vamos sair daqui juntos.
Mas Renato tinha dúvidas quanto a isso. Ele nunca foi o otimista do grupo, essa função sempre foi de Farahs, e era inegável admitir que estavam metidos em uma completa enrascada. Tudo o que ele tinha para oferecer para os amigos era esperança, mas dadas todas as circunstâncias ele sabia que as chances de vencer aquilo eram mínimas. Igual quando retornou para casa e sua mãe lhe garantiu que o pai estaria disposto a mudar os hábitos para conviver melhor com ele, Renato tinha esperança de que aquilo pudesse acontecer mas no fundo sabia que nunca daria certo.
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CHECK-IN PARA O INFERNO
HorrorUm grupo de amigos recém formados do ensino médio, decide partir para uma viagem de formatura e aproveitar os últimos momentos juntos antes de seguirem seus caminhos para a universidade. Porém, nem tudo sai como combinado e uma escolha errada os lev...