Desde de que construíram esse hotel eu sempre estive aqui.
Eu sempre vi as pessoas que entravam e saiam por aquelas portas de vidro chique. Essas pessoas riquinhas e que não se importavam com nada além do dinheiro que tinham. O que faziam nesta cidade de merda? Juncá nunca foi uma cidade atrativa, mas de repente pessoas de todo o mundo vinham visitar o novo ponto turístico, o hotel do famoso Euripian Cegonha, como se aqui fosse um lugar de prestígio, o que nunca foi. Era engraçado e me causava raiva.
Eu vivi uma vida humilhante nesse fim de mundo, eu tive a infância mais solitária que uma criança poderia ter e as pessoas daqui não se importavam com ninguém além delas mesmas. Minha avó me criou, ela sim me amava, ela sim queria o meu bem e era a ela que eu deveria confiar minha vida. Mas ela morreu, me deixando sozinha nesse mundo injusto e seletivo, um mundo em que eu não me encaixava. Por anos eu me dediquei a seguir o que ela acreditava e pregava. Eu vi a verdade dela, a vantagem que eu tinha se servisse ao senhor que a fez chegar tão longe nessa vida. Minha missão era servir ao rei do inferno, aquele com o poder de me fazer ser o que eu quisesse ser. Aquele que me daria TUDO se eu desse a minha vida por ele.
A sorte esteve comigo quando completei meus 18 anos e conheci o Grito; esse era o apelido dele. Um homem atraente e que compartilhava os mesmos gostos que eu. Estivemos juntos por muito tempo, caminhando lado a lado como servos do rei. E então, quando falei pela primeira vez com o Satanás Todo Poderoso, eu tive a visão de qual seria meu próximo grande passo. Convenci Grito a entrar comigo em um culto denominado Divindade Sepulcral e passei os próximos anos vivendo em prol daquilo. Era emocionante e excitante desenterrar aqueles caixões e roubar aqueles corpos, queimar os órgãos dos defuntos e se lavar com as cinzas deles. E juntamente com o grupo, diversos corpos foram violados e a cada morto que nós transformamos em pó era uma mudança espiritual que eu sentia em mim. Estava revigorada e melhor do que nunca. Eu estava feliz.
Então Ele veio em sonho e me mostrou aquela criança. Eu o vi, majestoso e irradiante, o bebê em seu colo e a faca em sua mão. Era um recado, uma nova missão que eu precisava cumprir.
Eliete era uma jovem muito bem cuidada fisicamente, apesar da gravidez recente. Ela atraía os olhares de todos os homens da cidade e foi exatamente em uma dessas olhadas que um encontro foi marcado. Mas quem cuidaria do pobrezinho Marcos? Aquele bebê de poucos meses de vida que não servia pra nada além de chorar, cagar e mamar. Alguém deveria ficar de babá para que Eliete pudesse trepar naquela noite. Não foi uma surpresa quando me vi indo até a moça e me ofereci para o trabalho de uma noite. Eu era conhecida por ser a estranha, a mulher quieta que nunca namorou ou foi a uma festa, então Eliete viu em mim uma pessoa responsável a quem ela podia confiar. Foi seu erro, e consequentemente minha sentença de morte.
Esperei pela manhã do dia seguinte para cometer o sacrifício. Meus pais estariam na igreja e a puta da Eliete estaria na casa do seu macho, enrolada em um lençol após a noite quente que provavelmente teve. Levei o bebê para o quintal e me preparei para oferecê-lo ao meu Senhor. Mas o velho Locci, um fofoqueiro de carteirinha, estava na varanda de sua casa naquela hora e viu tudo. Só percebi que estava sendo vista quando a polícia chegou e me levou algemada. O senhor Locci estava na calçada vendo tudo acontecer, olhei bem para ele e ninguém precisou me contar que tinha sido ele a fazer a denúncia anônima para saber que FOI ele. No fundo da minha alma, eu desejei que ele morresse. Que tivesse um derrame, um infarto ou tomasse um choque e explodisse. E naquela noite ele foi encontrado na calçada com a cabeça aberta; escorregou da mesma varanda em que estava quando me viu e me entregou. Nunca soube se isso aconteceu porque desejei, mas ele mereceu. Aquele velho mereceu morrer e eu gostaria de ter achado seu corpo na calçada e cuspido na sua cara amassada.
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CHECK-IN PARA O INFERNO
HorrorUm grupo de amigos recém formados do ensino médio, decide partir para uma viagem de formatura e aproveitar os últimos momentos juntos antes de seguirem seus caminhos para a universidade. Porém, nem tudo sai como combinado e uma escolha errada os lev...