O selaquiano não pareceu nem um pouco impressionado com a dedução de Coral. Pelo contrário, aquela parecia ser exatamente a chance que ele esperava para se aproximar com um sorriso de canto cheio de malícia. Como um predador à espreita.
— Você é bem esperta para uma mestiça. Deve ser por isso que ainda está viva.
Coral engoliu em seco. Aquilo era uma ameaça? Como ele sabia o que ela era? Petrus lhe garantira que ninguém poderia saber se ela não estivesse usando o amuleto.
— Não sei do que está falando...
— É claro que sabe. Mas estou curioso sobre algo: como pretende escapar de todos esses octopos?
Coral teve um sobressalto, olhando ao redor atônita. As luzes coloridas eram intensas, um amontoado de corpos dançando languidamente a uma distância curta. Os braceletes de tranças. Será que ela estava deixando algo escapar?
— Octopos? Onde?
O selaquiano a olhou penalizado.
— Retiro o que disse. Você claramente só está viva por pura sorte.
Só então Coral notou algo crucial nas pessoas que a cercavam: a trama em seus braceletes não era de tranças, eram tentáculos com ventosas. A noite toda ela esteve rodeada de octopos sem sequer se dar conta disso. E Petrus estava fora de vista, inalcançável.
Ela soltou um suspiro exasperado, voltando a atenção para o selaquiano a sua frente. Ele a encarava seriamente, a bebida intocada esquecida sobre o balcão.
— O que quer de mim?
— Pergunta errada. A pergunta certa é: ainda pretende sair daqui com as próprias pernas?
— Eu... é claro...
— Então terá que confiar em mim.
Coral sentia o sangue pulsar em suas veias. Petrus lhe disse duas vezes para não confiar em selaquianos. Mas Petrus não estava aqui e ela estava rodeada de octopos. Não havia escolha, ela teria que ser sua própria juíza no caso.
— Como posso confiar em alguém que não conheço?
— Não confie. Confie que vou te tirar daqui, porque preciso de você tanto quanto precisa de mim no momento.
Coral estreitou as sobrancelhas. Aquilo não fazia sentido.
— Por quê?
— Porque você tem a chave para a informação de que preciso, então mantê-la a salvo é a minha melhor opção. Além do mais, seu protetor está fazendo um péssimo trabalho aqui.
Coral se sentia tonta, a respiração cada vez mais pesada. Petrus estaria bem com Cláudio? Ela devia ir checá-lo?
— Eu não... tenho protetor nenhum.
O selaquiano parecia decepcionado por algum motivo. Coral tentou dar um passo à frente, mas cambaleou sobre a banqueta ao lado como se tivesse bebido tequila e gim tônica ao mesmo tempo.
Sua reação atrapalhada pareceu alertar seu acompanhante misterioso.
— Parece que eu cheguei tarde demais — ele bufou com raiva.
— Tarde? — Coral se precipitou para a frente, agarrando a regata branca para não cair. — Será que você pode dizer algo que faça sentido?
Ele olhou brevemente para os lados, então apoiou as mãos firmes sobre seus ombros trêmulos, aproximando os lábios de seu ouvido para que somente ela pudesse ouvir suas próximas palavras.
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Coral: A Ordem de Poseidon
FantasyQuando a tia de Coral a matricula em um colégio interno em Minas Gerais, a garota sabe que sua única chance de chegar ao litoral para investigar sobre o pai e as estranhas circunstâncias da morte da mãe é fugindo de casa. O que não esperava descobri...