4 - Tesouros piratas e cabelos ondulados

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Coral soube que Petrus era rico assim que entrou em seu quarto do hotel. Era uma suíte grande e luxuosa de dois ambientes, talvez uma das mais caras do prédio, o que foi uma surpresa considerando a figura frágil e assustada que ele fazia. O cômodo era decorado em cores em tons pastéis variados, com um sofá em L verde-menta ocupando todo centro da sala de estar e as paredes revestidas em um sofisticado papel de parede com estampa de arabescos em rosa salmão. Os móveis eram feitos de material imitando madeira natural, com vários cestos de palha e vasos com plantas litorâneas espalhados por todos os cantos. Um quadro em pop-art de uma Billie Eilish de cabelos esverdeados e olhar blasé destoava do resto da decoração, dando ao ambiente um ar tropical-pop-chique.

Ignorando o deslumbramento de sua convidada, Petrus correu até as grossas cortinas cor creme, fechando-as antes de lançar um olhar desconfiado para baixo. Então voltou até o sofá, acenando para que Coral se sentasse enquanto acendia um abajur em formato de golfinho, mergulhando a sala em uma penumbra fantasmagórica.

— Certo, — começou Coral, encarando os olhos redondos e assustados por trás das lentes — será que agora pode me explicar o que foi tudo isso?

O garoto, no entanto, virou-se de lado com a desculpa de ajeitar os óculos sobre a ponte do nariz, que era levemente empinado, lhe conferindo um ar travesso permanente, embora agora ele estivesse tremendo.

— Antes você tem que entender que não devia estar aqui. Precisa voltar imediatamente para... seja lá de onde tenha vindo.

Pela segunda vez naquela manhã, Coral sentiu o sangue ferver em suas veias. Devia ser um novo recorde. No entanto, pensando melhor naquelas palavras, logo elas adquiriram um novo significado em sua mente.

— Espera, você está aqui a mando da minha tia, não é? Ela descobriu onde estou e mandou você atrás de mim para me enviar de volta, é isso?

Petrus finalmente voltou a encará-la, parecendo atordoado com o raciocínio.

— O quê? Eu não conheço a sua tia, e devo lembrá-la que você veio atrás de mim primeiro, não o contrário.

— Então por que disse que preciso voltar? Você deu a entender que sabe quem é o meu pai, não se faça de desentendido.

— Mas é claro que sei quem é o seu pai! — tornou Petrus, parecendo muito ofendido com a suposição da garota. — Todos em Atlântida sabem quem foi Kaerius!

Por um instante, o nome pairou no ar como um feitiço. Coral congelou no lugar, esperando que ele se assentasse em seu íntimo.

— Kaerius? Então esse é o nome?

Mais uma vez, Petrus ajeitou os óculos em seu rosto. Aparentemente, o garoto que não conseguia ficar de boca fechada havia perdido a fala.

— Mas você disse "quem foi...", isso quer dizer que ele está morto? E o que é essa Atlântida?

Petrus tossiu e sorrateiramente ergueu-se, indo em direção à mesinha metálica que servia de café-bar.

— Acho que antes vamos precisar de um chá de camomila.

Coral cruzou os braços, contrariada.

— Eu odeio chá.

— Café, então? Uma bebida forte faz bem para os nervos, você não quer? Bem, eu quero.

Perdendo a paciência, Coral levantou-se, indo até Petrus e segurando suas mãos para impedi-lo de pegar uma xícara. Apesar de ter se secado, suas mãos ainda estavam molhadas.

— Você vai responder às minhas perguntas ou não?

— Bem, eu estava pensando... se não te contaram nada até hoje é porque provavelmente é melhor para a sua segurança que você não saiba. Se eu te contar, posso estar te colocando em um risco maior ainda.

Coral: A Ordem de PoseidonOnde histórias criam vida. Descubra agora