Coral: A Ordem de Poseidon

9 - Mamma Acqua Mistik

Coral quase não dormiu à noite. Depois do dia agitado que teve, e das revelações de Petrus e Dante, era impossível deitar a cabeça no travesseiro e ter um sono tranquilo e despreocupado, por mais que a cama de Petrus fosse a coisa mais confortável que ela já havia se deitado.

Uma pequena parte de sua mente ainda se perguntava como ela tinha acreditado com tanta facilidade na história de que era uma sereia, herdeira do trono de um reino subaquático desconhecido. No entanto, as coisas sobrenaturais que testemunhara, bem como suas próprias habilidades desconhecidas, provavam que ao menos parte daquilo tudo era verdade. Ainda assim, lhe parecia inconcebível a ideia de que pudesse se transformar em uma sereia. E se no fim das contas ela não fosse capaz? E se estivesse prestes a ingressar em uma jornada perigosa só para decepcionar o seu povo? O povo de seu pai, o povo que ela apenas começava a aprender sobre.

Ainda assim, por mais assustador que tudo aquilo parecesse, voltar a sua antiga vida em Salto Belo, com tia Denise e os primos para lhe lembrar todos os dias que não passava de uma órfã rejeitada e insignificante, era ainda mais assustador.

Coral estava disposta a correr o risco. Enfrentaria as forças de Caleo com a ajuda de Dante, Petrus e, com alguma sorte, da Ordem de Poseidon.

Ao seu lado, Petrus soltou um longo suspiro e rolou na enorme cama de casal, ficando de frente para ela, os cachos bagunçados emoldurando o rosto sonolento.

— Você já acordou? — disse ele com um bocejo preguiçoso.

— Eu nem dormi.

— Pois devia, esse será um dia beeem cheio.

Coral revirou os olhos.

— Como se eu conseguisse dormir depois de tudo o que aconteceu ontem.

Petrus ergueu a cabeça o suficiente para conferir a tela de seu celular.

— Ainda está muito cedo, tente dormir um pouco antes de sairmos — aconselhou ele, desabando novamente no travesseiro e virando-se para o lado.

Mas Coral sabia que aquela seria uma missão impossível. Seu corpo estava elétrico com a expectativa da jornada que em breve se iniciaria, a cabeça rodando com milhares de pensamentos confusos.

Ela se sentou apoiando as costas na cabeceira da cama, inclinando-se para o corpo semi adormecido do delfine.

— Petrus?

— Hum? — fez ele, mal se mexendo na cama.

Coral hesitou antes de perguntar em um sussurro.

— Você ainda gosta do Dante?

Petrus congelou, despertando completamente. Por um momento, Coral teve medo de que ele ficasse com raiva por ela ter tocado em um assunto tão delicado, mas então ele deu de ombros.

— Que diferença isso faz?

— Ora, faz total diferença! Dante está aqui agora e está disposto a conquistar o seu perdão, se você gosta dele...

— Isso não vai acontecer, Coral! — cortou ele em tom ácido, finalmente virando-se para ela. — Dante e eu não vamos ficar juntos nunca mais, não importa se eu gosto dele ou não.

— Você poderia ao menos dar uma chance para ele se explicar. Se vocês dois conversassem, tenho certeza que poderiam se acertar.

Petrus ergueu as mãos para o teto em um gesto dramático.

— E o que é que você entende de relacionamentos? Você mal saiu das fraldas.

Coral fez um bico emburrado, mas tentou ignorar a ofensa de Petrus. Afinal, era ela quem estava invadindo sua privacidade.