Capítulo 2

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Shikamaru 

No pouco tempo em que eu havia me mantido longe de Sunagakure, parecia que tudo por ali havia mudado.

As áreas comerciais que eram antes apenas pequenas barracas eram agora repletas de lojinhas similares às de Konoha, inundadas por turistas e locais barganhando com os vendedores. Os portões que davam lugar ao grande Palácio haviam sido folheados a ouro, uma extravagância inesperada de Gaara. Se é que fora escolha dele. Dois guardas abriram as portas para mim, dando uma suave reverência ao me reconhecerem, enquanto outros estreitaram os olhos com desgosto pelo mesmo motivo. 

Contive um riso com escárnio para não amargurar o meu humor já instável daquela semana. Eu precisava dar suporte a Temari, não o contrário. 

Era obrigatório, em Suna, apresentar-se ao Kazekage no momento de chegada, mas eu não conseguiria esperar ele estar disponível para as formalidades já inúteis entre nós dois.

Assim que os conselheiros da Vila ficaram sabendo sobre meu noivado com a ‘princesa’, a urgência com que buscaram a Gaara uma noiva era estonteante. Toda semana, senão todos os dias, ele era levado a encontrar-se com uma nova candidata ao posto. Tudo isso para eu e Temari não termos direito a um filho no ‘trono’. Era patético para Gaara ter de passar por isso a contragosto, mas por um lado compreensível de um ponto de vista estratégico. Resguardada como Suna era, ter um shinobi de Konoha como próximo Kazekage não soaria ideal. 

Despistei os guardas com certa facilidade e fui em direção aos aposentos de Temari. Eu não tinha certeza se ela gostaria da ‘surpresa’, porém o que era a vida sem riscos? 

Respirei fundo ao deparar-me com a porta dela. Branca, com uma maçaneta dourada, era o quarto mais afastado do corredor, presumidamente o maior. De fato, o resultado da minha empreitada ao Kazekage poderia ser… Problemático. Bati na porta, e o som do toque me pareceu errado. Pesado. Bati de novo e saí apressado. O que estou fazendo?! 

Antes de bater uma última vez, a porta abriu-se dando lugar a ela. 

O sorriso que havia se formado sumiu, a expressão com que me encarava deixando-me desesperado. Temari parecia… chorar. Ou ter chorado, eu não tinha certeza. Por um lado, se ela me batesse eu entenderia. Contudo sua reação foi contrária, Temari abraçou-me enfiando seu rosto delicado no meu pescoço, apertando-me com tanta força que meu coração parecia saltar para fora da minha caixa torácica, dividido entre os ossos e perfurado lentamente. 

- Ei… - tentei, mas ela sequer respondeu, apenas puxando-me para dentro com uma força única, e tive de concentrar-me em meu equilíbrio para não cair em cima dela. A porta fechou-se atrás de nós, e ela trancou-a. Dane-se a carta. - Temari. Quem foi?

- Eles… Aqueles… - ela gaguejava. Era impressionante ver a mulher mais assustadora do mundo a hesitar. Engoli em seco esperando-a falar - Imbecis, desgraçados… - ela respirou fundo e encarou o teto, as mãos na cintura enquanto vestia nada além de uma camisola longa de cetim e andava pelo quarto - Recusaram a data proposta de novo. Eles fingem importar-se, mas o que querem é impossível!

Suas últimas palavras saíram em um grito frustrado. Não a mim, sequer a eles mesmos. Temari parecia frustrada com a vida, e eu a entendia completamente. Caminhei lentamente até ela, segurando sua mão com o máximo de delicadeza que pude. Ela encarou-me com os olhos marejados, o verde cintilante que me comunicava tantas coisas desde que nos conhecemos. 

- Vamos dar uma volta? - sugeri. Ela abaixou a cabeça, olhando ao redor de seu quarto. Não estava bagunçado, na verdade tudo que ela fazia possuía ordem, e ainda assim ela parecia incomodada. - Gostaria de te levar para um restaurante novo que vi a caminho daqui. Me encontra lá?

Secrecy (Shikatema)Onde histórias criam vida. Descubra agora