Secrecy (Shikatema)

Capítulo 14

Temari

Eu organizava papéis desde que saí do hospital, a janela fechada da sala da casa da praia servia como uma espécie de mural caótico. Não fazia ideia de quanto tempo se passara desde então, encarei pelo que devia ser a milésima vez as notas em letras garrafais presas com fita adesiva na janela de madeira: "Casamento", "Clã Nara", "Conselho de Suna", "Evento gatilho?". E ao centro de tudo, circulado com um batom vermelho "Doença degenerativa de Shikamaru". Suspirei, tentando reorganizar a ideias, traçar um marco zero para a sequência de eventos catastróficos que nos acometeu, pense Temari, pense... Shikamaru pode até ser fumante, mas é jovem e saudável, além de não haver histórico de coisas do tipo na família até onde se sabe... posso não ser uma médica ninja mas duvido que esse tipo de coisa simplesmente surja do nada.

Meus olhos fixaram-se na luz solar que entrava por uma fresta na janela, merda, já era manhã, não que meu sono pendente fosse uma preocupação, olheiras já marcavam meu rosto a alguns dias, o que me atormentava era a resposta que carecia de Gaara, ele teria entendido as entrelinhas??? Por outro lado, a ausência de resposta de Konoha não me afligia na mesma intensidade, uma sombra de ansiedade existia é claro mas confiava de olhos fechados em Nara Yoshino, ela saberia o que fazer, ela sempre sabia. Sorri fraco com a lembrança da mulher, como a senhora a tomara como uma filha no momento em que soube do seu relacionamento com Shikamaru, e agora... agora ela perderia o filho, a única família que restava no mundo justamente por causa desse relacionamento. Meus olhos marejaram e eu apertei com força os papéis ao meu alcance, tentei me concentrar para mais uma vez impedir a avalanche de emoções que vinha a seguir, a necessidade de gritar como tudo aquilo era injusto subindo a garganta e as lágrimas se acumulando sem cair de meus olhos.

Ouvi um barulho de passos vindo do andar superior, coloquei a mão livre sobre a boca, impedindo qualquer som de sair, ele estava descendo as escadas, pensa rápido Temari, levantei de um salto e puxei as cortinas, ocultando as notas, só tive tempo para chutar os papéis que estavam no chão para trás do sofá antes que ouvisse o som de seus pés alcançando o piso do andar inferior:

- Bom.. dia? - Questionou de forma leve, ainda que sua voz me parecesse diferente, talvez pelo tempo prolongado sem uso, talvez pela fraqueza provocada pela condição.

Me virei, encarando-o, um momento de silêncio se seguiu até que eu me desse conta da pergunta e de que também não fazia ideia de que horas eram:

- Ham..é - Meus olhos procuraram o relógio na parede da sala - Bom dia - Respondi quando encontraram os ponteiros que indicavam ser 11 da manhã - O que faz aqui embaixo? Precisa de alguma coisa? Por que não me chamou? - Perguntei nervosa.

Ele se aproximou em passos lentos, tocando vagarosamente meus braços, me forçando a encará-lo, o rosto dele dava sinais da perda de peso, as mãos não pareciam mais tão firmes e a habitual expressão de cansaço, a qual me afeiçoei, foi substituída por um semblante quase apático, mas eu notava o brilho de remorso em seus olhos, que em vão ele tentava esconder.

- Vim procurar você. Estou bem. Porque pensei que se estivesse na hora do almoço eu poderia te ajudar a fazer... eu posso? - Demorei um instante para reparar que ele estava respondendo, em um tom menos afobado que o meu, as perguntas que fizera. Estava avoada, segurei o suspiro e forcei um sorriso, gostava de cozinhar com ele.

- Claro, vem - O conduzi pela mão até a cozinha, meu coração se apertando quando notei a dificuldade dele em acompanhar o ritmo das minhas passadas, ainda que eu não andasse depressa. A parada cardíaca ocorreu a pouco mais de 3 dias e ele quase não escapou, antes mesmo que os médicos avisassem eu sabia que seu estado só pioraria nos próximos dias, se uma nova parada ocorresse ele não teria a mesma sorte.