Secrecy (Shikatema)

Capítulo 18

Shikamaru 

Flashback - Meses Atrás

No sétimo dia de reunião seguido, eu já acreditava que bons dias não viriam mais.

Meus sonhos eram interrompidos pelo senso urgente de acordar antes dos pássaros, uma tradição do clã Nara ao organizarmo-nos para a temporada que viria, movimentar-se com as sombras até o momento em que todos nós nos reuniremos a fim de decidir o rumo estratégico para proteção da Vila.

Konoha era capaz de horas calmas, quando não era percorrida por jovens ninjas cheios de força para provarem-se dignos de protegê-la. Por vezes, era possível ouvir o som apenas dos riachos e o farfalhar das folhas nas mais altas árvores se tal pessoa fosse capaz de despertar-se no horário de Konoha, e não da Vila que a compunha.

Para mim acordar já não valia o som da calmaria. Trocaria por horas de sono a mais se assim o pudesse.

As imensas portas da sala principal estavam por fim à minha frente, com um suspiro as abri e entrei. Naquele momento, quatorze membros levantaram-se para receberem minha entrada, o que nunca me deixaria de ser desconfortável mesmo com o passar dos anos. Perguntava-me se um dia seria capaz de preencher as lacunas desde que meu pai se foi, ou se um dia mereceria uma sala que se curvava diante da minha presença daquela maneira. Meu único desejo era encerrar aquela reunião, afinal era perceptível o desagrado com algumas das decisões que eu tomara recentemente. Em especial, assuntos tangentes ao papel do clã Nara desde que Konoha havia sido concebida um papel centralizado na União Shinobi e maior transparência entre as vilas participantes, diversos membros presentes naquela sala não impressionavam-se com certas aberturas políticas, por mais que houvéssemos alcançado a paz.

Com o passar das horas, apesar da relutância visível em muitos, pudemos finalizar a reunião com uma certeza: Konoha e Suna teriam o apoio do Clã Nara no fortalecimento das suas alianças e projetos de formação ninja dentro da União.

Quando menos esperava, deparei-me perto do cemitério, andando sem pensar, o céu pelo decorrer da tarde repleto de nuvens que pareciam me acompanhar em minha vagarosa caminhada sem rumo. Eu estava completamente perdido nos meus pensamentos acerca do que ocorrera mais cedo, então sequer percebi quando um pequeno menino caiu quase aos meus pés, machucando-se ao brincar com os amigos.

Os outros dois, mais altos, ao notarem o símbolo no meu traje saíram às pressas, o pequeno que não poderia ter mais de sete anos sujo de areia e suor, sentou-se devagar.

- Nunca deixe-os fugir sem reerguer-se antes... - interrompi meu discurso ao perceber que chorava. Estava tão cansado que não sabia como moralmente ajudá-lo, e logo senti minha frustração aumentar. Soltei um suspiro cansado e tentei sorrir. - Está com fome?

O levaria a guarda logo ao lado da barraca de doces, antes que algo ruim acontecesse comigo.

Um calafrio subiu a minha espinha ao pensar no trabalho que isso daria. Saco.

- Sim. - respondeu baixo, e saiu à minha frente, guiando o caminho até o local. Pensei por alguns minutos de caminhada em silêncio, as palavras um emaranhado de pensamentos inúteis que atrapalhavam meu raciocínio. Como eu explicaria o que se passou naquela sala a ela? - Ei, tio.

- Hm?

- Ali. - Quando retomei atenção ao garoto, já estávamos na rua. Não recordava-me os traços do senhor que atendia a barraca, porém havia anos que não passava ali e as chances de outros funcionários que eu não conhecesse eram grandes.

Com uma análise melhor da rua, tanto as árvores mais velhas quanto os prédios calejados pelo tempo eram-me estranhos. Ao pensar bem, não estávamos onde eu pretendia ir, porém o segui ao mesmo modo, um pouco mais alerta na rua quase deserta, e o comprei um dango. O atendente ofereceu uma garrafa plástica de água, e aceitei para dar ao garoto.