Capítulo 10

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(Shikamaru)

A brisa do mar era tão forte que eu jurava poder sentir um gosto salino ao encostar a língua no meu lábio inferior. Além do horizonte expandido pelo encontro entre o céu tão claro e a água tão brilhante, nossa primeira parada no País das Ondas era uma vila pequena, porém recentemente modernizada. A memória da semana anterior me era falha, mas a sensação havia permanecido; estremeci somente em cogitar a lógica que poderia repassar na mente de Temari naquele momento, silenciosa enquanto observava as ondas calmas se aproximarem dos nossos pés.

Ela havia, claro, preparado-se para toda e qualquer ocasião quando organizou aquelas maletas, uma vez que enquanto ela trajava um longo vestido branco de tecido fino e um decote modesto, eu estava suando por cada poro existente em meu corpo na camiseta de manga longa e bermuda igualmente pretas; Temari não olhava para mim, não diretamente, há alguns dias. Eu ainda a sentia, contudo, durante a noite aninhar-se para mais perto, mas não teria como ver ou perguntar se era proposital, ou apenas pelo frio do alto mar noturno.

- Bem, nossa primeira parada é o...

- Médico. - ela respondeu, cortando-me.

- Han? Por que?

Temari bufou e revirou os olhos, e de algum modo eu pude ver todas as engrenagens do seu cérebro forçando-a a manter a calma para não criar um furacão ali mesmo.

- Vou deixá-lo desvendar essa sozinho, gênio. - Ela segurou minha mão com veemência, puxando-me para perto do que parecia uma casinha de informações para turistas, e ao aproximar-me a placa desgastada pela maresia confirmou meu pensamento. - Bom dia, gostaria de informações sobre o hospital mais próximo.

O atendente era um rapaz com a faixa da Aliança no pescoço, seu olhar entediado e cabelo desgrenhado diziam o suficiente sobre seu interesse em estar ali.

- Fica na divisa da Vila, senhora, cerca de 10 km daqui.

Usualmente, a crença em seres divinos e poderes superiores aos já conhecidos na Terra - e na Lua - me era mal visto, porém naquele instante eu agradeci silenciosamente aos poderes do universo. Temari e eu não havíamos discutido, surpreendentemente, sobre a situação no caminho até aqui; na maior parte do tempo, ela e eu pedimos comida no quarto, conversamos sobre diversas coisas, mas a cada chance de indagar-me ela iniciava uma frase e parava, sem mesmo olhar para mim enquanto o fazia.

- Eu... gostaria de ir a praia. - Comentei, sem muita esperança de uma resposta positiva. Seus olhos verdes pairavam no céu atrás de mim, e apenas quando encarou-me diretamente pareceu obter uma resposta.

- Claro. - Ela olhou de volta para o atendente, e mais uma vez as malas no chão. A areia já havia tomado posse de boa parte dos tecidos. Temari mordeu o lábio. - Podemos deixá-las na pousada primeiro?

[...]

Dizem que devemos encerrar capítulos da nossa vida de modo adequado. A depender do quão especial algo tenha sido para você, a expressão 'fechar com chave de ouro' pode ser aplicada, e por esse mesmo motivo a escolha do nosso último local foi embasada no que Temari significava para mim.

A casa de praia nos daria privacidade, mas a ilhota a qual fomos levados pelo próprio dono em seu barco era a forma que encontrei de dizê-la que a queria apenas para mim. A casa possuía dois andares, era essencialmente a beira da praia e luzes delicadas iluminavam de modo que ao longe pareciam pequenos vagalumes nos agraciando com seu pequenino brilho. O dono, senhor Hori, nos deu um tour completo pelos dois andares. Pela quantidade de janelas, a luz do sol tornava desnecessário o uso de qualquer iluminação interna durante o dia; dois quartos espaçosos e banheiros confortáveis, era exatamente do jeito que eu havia imaginado. Talvez melhor.

Secrecy (Shikatema)Onde histórias criam vida. Descubra agora