Secrecy (Shikatema)

Capítulo 3

Shikamaru

Um sonoro e exasperado suspiro escapou de mim antes que eu pudesse evitar. Pensei que fosse receber um descanso ao regressar, algumas horinhas misericordiosas me trariam o alento que eu precisava após mais uma rejeição do conselho de Suna, mas não, claro que não.

Quando vi Yurito, meu assistente, aguardando-me com os ombros completamente tensionados para frente nos portões de Konoha, eu sabia exatamente o que estava me aguardando.

- Sh-Shikamaru-san! - ele choramingou, lágrimas quentes e pesadas desciam seu rosto jovem exasperado. Yare-yare. Yurito tinha um hábito de jogar-se em cima das pessoas quando o desespero o inundava, e eu, desacostumado a lidar com alguém daquele porte achava tudo aquilo muito... problemático.

Ele era, sem dúvidas, competente na maior parte do tempo. Eu acho.

- Yurito, vamos, o que houve? - Em parte por culpa minha, claro. Era difícil ser duro com uma pessoa tão pura.

- O-o Suzuki-san me ameaçou, disse que estava exausto e precisava fumar naquele instante..! - suas mãos tremiam levemente. A encarada nada discreta de Kotetsu e Izumi fez-me querer apertar o passo.

Escutei Yurito falar por alguns minutos e o repreendi o melhor que pude para não ceder a pressões de outros guardas da mansão, em partes já sabendo que Kakashi havia conversado com ele, em outras fingindo que não fazia ideia de nada para andar o mais devagar possível, a fim de evitar a correria e exigência que vinha com o trabalho.

Eu não me sentia obrigado a fazê-lo, claro, eu havia prontamente aceitado o cargo e lutado para mantê-lo nos últimos anos, especialmente para realizar o meu objetivo final: tornar Uzumaki Naruto o Sétimo Hokage. Não só por ele, mas pela vila que merecia alguém como ele para cuidar dos habitantes com zelo e vontade de proteger.

Era apenas difícil visualizar tudo aquilo sob o comando do Rokudaime. Mal nos cumprimentamos quando finalmente cheguei, apenas fui direcionado ao trabalho de refacção dos últimos relatórios. Alguns eu já sabia de cor. Observei-o ao longe ler seu livro favorito enquanto fingia ler ao carimbar os papéis que eu havia passado horas fazendo, e Yurito horas revisando. Qualquer dia, pensei, vou escrever uma receita para dangos de wasabi em um desses e ele sequer vai perceber. No final daquela tarde, fui para casa exausto com calos nas mãos e uma tosse incessante.

Os portões da residência Nara abriram-se para mim, Nara Yoshino me aguardava com o usual: missoshiro, sake, e tempura de vegetais para um dia exaustivo. Era difícil chegar em casa e ser recebido aos gritos para fazer as coisas que eu havia enrolado para fazer antes quando mais novo, mas era quase impossível passar por aquela porta sabendo que ela me dirigiria seus olhos de pena e tristeza. Eu sentia como se o seu desapontamento por más notícias estivesse a torturando lentamente, e qualquer dia desses eu seria responsável por inundar a minha própria mãe em tristeza até o dia de sua morte.

- Oi, filho. Como foi lá? Vejo que Temari não veio contigo dessa vez... - Minha mãe adorava Temari. Sua afinidade com ela foi quase instantânea, e de início eu pensei que fosse por ela apenas querer que eu me casasse logo para ver-se livre dos meus lamúrios, ou sua adoração por crianças e desejar um neto... Porém depois de um tempo ficou claro que elas apenas se davam bem por natureza. Temari até mesmo a ensinou um doce que gostava de comer quando criança e ela sentiu-se encantada pelas habilidades culinárias de uma figura tão importante para outra vila. 'Ninguém cozinhava para vocês?!' sua voz extremamente curiosa a ponto de me deixar envergonhado. Temari sorriu genuinamente, mas logo virou o rosto discretamente para responder: 'Fui ensinada muitas coisas ao longo da vida, mas esta foi uma das memórias que tive com minha mãe.'

- Sim... - respondi servindo-me da comida que me aguardava. Eu não havia percebido quanta fome estava sentindo até ver o vapor subir do missoshiro. Beberiquei com cuidado para não me queimar, evitando o olhar sanguinário da minha mãe. Ela odiava respostas diretas demais. - Tive que retornar às pressas, um problema no escritório...