Parte Onze

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Chicago, 1960

Aquela manhã, depois da primeira vez deles, pareceu se arrastar na mente de Gun.

Era engraçado como a mente funcionava, o quanto quando você procura deletar uma memória, esquecer algo, esquecer alguém...

Podia ser bem sucedido. E então... Aqueles eventos em meio a dor e a angústia, capazes de tirar seu fôlego em um choro soluçado. São todos soterrados por uma pilha de coisas menos importantes, mas aquela dor silenciosa se tornará em raiva.

Ódio.

Rancor.

Gun sabia que... Lina sempre esteve lá. No momento em que estava com o corpo machucado e ensanguentado em seu colo, chorando como uma criança abandonada. Ele soube que sua infância feliz tinha acabado. Ele era o mafioso, o filho do chefe.

Ele se lembrava a forma como suas mãos tremiam, quando ele tirou o blazer do terno, e cobriu o corpo desnudo, afundando o rosto no longo cabelo preto e simplesmente esquecendo como respirar, como falar ou se mexer.

Então Gun permaneceu ali, abraçado com a amiga, até o momento em que o corpo dela foi tirado de seus braços e os seguranças de seu pai o seguraram.

—Não... por favor... chama a ambulância chama... —Ele permaneceu murmurando aquela frase, desde que matou os homens que a machucaram, mas ninguém se moveu, ninguém tentou estender uma mão para o garoto que perdia tudo.

Ele tinha tentado ser forte, colocou seu melhor terno se encarando no espelho grande, a sua mente parecia presa em um ciclo infinito de dor muda, as cenas que passavam diante dos seus olhos pareciam estar em velocidade da luz. Caminhou para dentro da sala da casa dos Adulkitiporn, assistindo a família inteira se silenciar e virar lentamente para encarar o culpado.

Culpado, Gun era o assassino.

Suas mãos pareciam encharcadas de sangue.

Seus olhos vagos encararam o novo chefe da família, que caminhava em sua direção, o rosto duro.

Ele nunca tinha visto Off Jumpol com aquela expressão congelante, fazia seu estômago se afundar dentro de si. A forma como Off o olhava causou a Gun nojo sobre si mesmo. Então a única coisa que ele pode fazer, foi esticar o buquê de rosas brancas, as mãos tremiam mas ele respirou fundo tentando conseguir pedir aquele perdão.

—O que faz aqui? —Jumpol perguntou lentamente, sua voz perfurando o coração de Gun como pequenas agulhas.

—Eu... sinto...

Off não podia dizer mais nada, tudo o que ele desejava era dar um soco no rosto do pequeno a sua frente. Mas ele sentia que isso, o quebraria internamente mesmo com esse rancor que o consumi, aquela raiva de receber a irmã morta estava latente, e mesmo com a certeza de que o quebraria machuca-lo, nem a paixão de adolescência conseguia amenizar.

Então ele simplesmente bateu a mão no rosto do garoto, que aceitou o tapa de bom grado. Agradecendo internamente por não ter acertado um soco, ele não queria machucar o Gun, uma parte da mente dele que estava entorpecida pela perda sabia.

Que Gun era inocente.

Mas Gun... Sempre sentiria como se suas mãos ainda estivessem, sujas pelo sangue dela.

Sua infância e adolescência. Apagadas com um tapa, que ele queria que tivesse sido um soco.

Se ele fosse socado até desmaiar... Doeria menos?

Lina cresceu ao lado dele, Lina e apenas Lina...

—Não existe nada que Gun Atthaphan não deveria fazer. —Respondeu lançando uma piscada marota para o amigo. Lina ao lado do namorado, Tay Tawan apenas riu e disse alto.

—Hey Gun! Seja meu cunhado. —Gun fez um sinal de silêncio para ela, mas piscou novamente rindo.

Antes de ir atrás de Off dez anos antes.

Dormir com Off, uma única noite, trouxe aquilo a tona de forma tão latente, que ele não pode deixar de se perguntar se esse era o plano de Off.

Mas então sua mente o travou.

Por quanto tempo, vai pensar em Off como o vilão da história?

—P'Off... —Gun finalmente murmurou, quando os lábios se afastaram dele, o mais velho, que continuou acariciando seu cabelo. —Você ainda me culpa?

—Gun nunca foi sua culpa. —Jumpol respondeu, segurando o rosto de Gun para o encarar. —Como mais eu posso te mostrar Gun?

—Me deixe... Falar com Pim. —Mais uma vez aquela frase, Off suspirou. —Eu sei eu entendo... Eu só, preciso saber que ela está viva.

Aquela imagem, dele entrando naquele salão, e vendo a amiga nua em meio a uma poça de sangue, ardia.

—Por que você sonhou com Lina? —Off cortou o silêncio antes de sua decisão, eles podiam estar em mais um jogo de manipulação? Off sabia que não, Gun não estava fingindo dormir, muito menos chorar.

Ele sabia que era real, e na verdade ele queria saber o que ele sonhou.

Anos antes, quando Dom Phunsawat teve a coragem de entregar sua irmã mais nova em um caixão de madeira.

Aquele sorriso satisfeito do velho, nossa ele teve que consumir toda a sua fúria em silêncio, já que sua vontade era de esvaziar o pente de balas na cabeça do velho.

—Agora... é bom ficar longe do meu filho. —Com essa frase, ele deixou Off no hall de entrada da mansão, ouvindo os gritos altos de sua mãe e o choro de seus irmãos.

Suas mãos fechadas em punho.

Até então, ele estava realmente confuso com o que sentia sobre Gun, já que o garoto o deixava sem fala e sem ação nenhuma.

Ele odiou sim Gun, naquele instante. Odiou o bastante para estapea-lo na frente da sua família inteira, encarar o olhar culpado com ódio.

Mas ele se arrependeu, no momento em que dias depois o pai de Gun contou pra ele.

As horas que o filho passou chorando abraçado na irmã, que agora a sua ação havia trazido à tona o vigor frio e calculista de um verdadeiro filho de mafioso.

Dom Phunsawat o agradeceu por enxotar o filho do funeral de Lina daquela forma.

E isso só o trouxe o desejo de. Despertar o Gun alegre e divertido que ele conheceu.

Então. Off beijou aqueles lábios grosso novamente, com um carinho demorado, lambendo e sugando a boca.

Antes de dizer.

—Vou deixar telefonar para ela sim.

Gun suspirou aliviado, abraçou Off com força, afundando o rosto no peito quente do amante.

—Papii, obrigado, obrigado, obrigado. —Balançava a cabeça beijando a pele quente. Off o afastou minimamente.

—Não faça isso, se não vou te devorar.

Gun lhe sorriu, as covinhas lindas aparecendo como um bom dia. Os olhos ainda estavam um pouco vermelhos, mas ele parecia aliviado.

E isso era o começo do trajeto de Jumpol para seu coração.

Vendetta • OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora