BASTARDOS

C A P Í T U L O 7

ETHAN STONE

Maldita hora que aceitei essa merda.

Dois dias que estava trabalhando, e há dois dias Naomi Russell estava decidida a acampar em cada minuto do meu tempo. Quando não estava tropeçando e esbarrando nas pessoas por ai, estava tentando me evitar. Só tentando, porque eu sabia que ela estava bem ciente da minha presença ao seu redor.

Ela atiçava as minhas piores memórias, e intensificava o meu ódio pelas tantas coisas que as pessoas ousaram me dizer. Eu odiava o que ela me fazia sentir. Odiava ainda mais por não conseguir evitá-la.

— Você paga de silencioso, arrogante e presunçoso, mas a verdade é que sofre de dor de cotovelo. Esquece, cara. Está para nascer o homem que vai mexer com o coração daquela garota. — Desviando minha atenção da porta que Naomi saiu a poucos minutos, me virei para Gabriel.

Eu tinha um acordo e não podia quebrá-lo, mesmo que quisesse muito deixar alguns hematomas no rosto do funcionário intrometido.

— Aconselho a encontrar aquele receio que você tinha quando me viu pela primeira vez. Espero que guarde seus pensamentos somente para você.

Passando por ele, deixando claro em meu olhar que não estava contente com a sua intromissão, caminhei para o caminhão, começando o meu trabalho.

— Eu não sei qual é o seu problema com ela, mas não estou gostando do rumo que isso está tomando. Você está aqui há dois dias e está bagunçando a vida dela...

— Você não está gostando por que ela me deu mais atenção em dois dias, do que deu para você em sei lá quanto tempo?! — Deixei as caixas no chão em um estrondo, me aproximando dele.

Gabriel devia ter pensado mais no que eu tinha dito, pois agora estava vendo-o como um oponente, como o gladiador via os seus adversários. Eu soube que ele tinha se arrependido assim que meu corpo enraizou em frente ao seu, meu rosto bem próximo dos seus olhos receosos.

— Não tenho tempo para o seu ciúme idiota. — Respirei pausadamente, tentando me controlar. — Não tente comprar uma briga comigo, Gabriel. Você pode acabar se machucando.

— Eu não pareço ser o único com ciúmes aqui. — O seu sorriso debochado dissipou a minha racionalidade, fazendo com que meu punho encontrasse seu rosto. — Você somente confirmou ao fazer isso.

— Tem mais de onde saiu, continue falando e eu não deixarei que fique somente em um soco. — Caminhei para fora, retomando o meu trabalho.

***

Depois de descarregar o novo balcão, vesti meu moletom e cobri minha cabeça com o capuz. Procurei por um cigarro e o acendi, sentindo imediatamente a tensão dessa merda de dia descer por meus ombros.

Caminhando em direção a escola, buscava ocupar a minha raiva com qualquer outro pensamento que pudesse empurrar a forma irracional que ataquei meu colega de trabalho. A minha atitude não envolvia arrependimento, mas, sim, raiva. Raiva por saber que eu quebraria Gabriel, me descontrolaria, tudo porque Naomi Russell ousava me desafiar.

Desfaz essa cara, Stone. Qual é o problema? — Larry perguntou assim que me alcançou.

O treinador adiantou o treino após anunciarem que teria uma visita técnica ao museu. De início, ele mandou que nos aquecêssemos, correndo em volta da quadra cinquenta vezes, completando com trinta flexões.

— Nenhum problema, Larry.

Continuei correndo, deixando alguns do meu time para trás. Mas Larry permaneceu tentando acompanhar o meu ritmo, buscando compreender o que eu nem mesmo estava entendendo.