Virtude: A Verdadeira Escolhida

Desavenças

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Vale ressaltar que esta fanfic se passa num universo criado por esta autora, podendo divergir da história original e criar vínculos com outras histórias que não têm nada a ver com as originais.

Há milênios...

Kayle

Luz. Sempre gostara tanto da luz, de brincar no jardim de seu lar, colhendo as flores das mais variadas espécies, ganhando novas sardas todos os dias de tanto se expor ao Sol junto do pai, que acompanhava a menina sorridente por todo o campo consigo apoiada em seus largos ombros. Enquanto isso, a mãe e a irmã gêmea se escondiam em capuzes quando eram convidadas a passear, ou simplesmente se retiravam para casa, voltando para a completa escuridão. Kayle não entendia sua irmã, Morgana, e também não entendia como eram gêmeas quando representavam extremos opostos. Morgana amava as trevas, a escuridão e adorava Diana — a Deusa da Lua —, enquanto Kayle odiava o escuro, amava a claridade e adorava Leona — a Deusa do Sol.

Quando pequenas, perderam as contas de quantas vezes se pegaram discutindo sobre qual das duas ganharia uma batalha.

"É óbvio que o Sol é mais forte que a Lua, é mais quente, derreteria a Lua e faria dela queijo derretido e fedido!", berrava Kayle aos prantos.

"Lógico que não! A Lua não é um queijo! E ela é muito mais bonita, deixa tudo frio e não corre o perigo de destruir o planeta com tanto calor!", berrou Morgana de volta, lágrimas roxas deslizando por suas bochechas.

Mihira, apesar de concordar com a menina de cabelos roxos, como os seus, odiava aquelas discussões. Não achava saudável, parecia que suas próprias filhas não se tocavam que, apesar das diferenças, os pais se amavam e tinham abandonado seus povos para viverem juntos por amor, independentemente de suas preferências e crenças.

"Meninas", começara ela, "Nada disso tem importância. O que importa é que vocês são irmãs, são família, e não há nada mais importante que a família", disse as puxando para um abraço.

Se encolheram e a abraçaram com afeto, principalmente Kayle. Apesar de sempre achar a pele da mãe gélida, sempre esperava com ansiedade o momento de ter um toque dela, um abraço ou um beijo em seu rosto. Às vezes, tinha a singela impressão de que apenas Morgana existia no mundo de Mihira, elas se entendiam tão bem e passavam tanto tempo juntas, que Kayle duvidava saber metade das histórias de infância da mãe em comparação com sua irmã.

O ódio brota no coração das pessoas da forma mais inocente possível. Mas é como fogo, vai se alastrando, queimando e dilacerando tudo até que não reste nada. O ódio serpenteou o coração da gêmea loira, mirando com tudo na direção da outra que possuía os mesmos traços faciais que si. Mas ainda a amava, era sua irmã, não podia odiá-la profundamente como tanto desejava.

Somente quando os Lunares e os Solares descobriram o acampamento da família é que o destino pareceu selar a divisão entre as duas que foram sempre tão próximas à sua maneira, apesar da rivalidade sempre presente por ciúmes dos pais. Naquele dia, Morgana e Kayle viram seus pais serem mortos pelos próprios povos que declararam a morte pelo amor proibido vivido às sombras. Encolhidas num canto escuro, viram a espada da mãe se partir em dois pedaços no chão e serem chutadas em suas direções disfarçadamente nos últimos suspiros de Mihira, como se dissesse: "Usem por mim".

Kayle não conseguia controlar o mar de lágrimas que rompera e quase não conteve os soluços se sua irmã não tampasse sua boca com o dedo indicador, implorando com os olhos molhados por silêncio. Saindo do esconderijo e se camuflando no escuro, Morgana recolheu as duas partes de Virtude, a espada que um dia fora de sua mãe, e entregou uma parte para Kayle.