Traição - Parte I

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Direitos autorais da imagem deste capítulo: https://www.deviantart.com/nahkuman/art/Kayle-Come-Again-490371928

Morgana


O sol estava quente como sempre fora, um calor devastador tornando o local em que viviam mais miserável do que nunca. Morgana e Kayle sobrevivam de caças e venda de mantimentos que elas mesmas cultivavam em seu lar — se é que podemos chamar os escombros da batalha assim.

Morgana estava preparando o almoço, Kayle sairia para caçar, era o turno dela naquele dia. Morgana tinha muita sensibilidade ainda à luz. Se pelo menos sua mãe ainda estivesse viva, teria treinado e aprendido a suportar o calor. Mas a dor e a dificuldade eram tantas que Morg nunca podia se dar ao prazer de expor a pele para tomar um pouco de sol.

Kayle era o oposto. Tinha medo do escuro, medo da noite e do que as aguardava lá fora. O pai delas vivia contando histórias sobre monstros que sondavam na noite, defendendo o porquê de preferir a luz do dia, pois sempre estaria frente a frente com o inimigo, sem perigo de ser pego de surpresa numa área sem acesso à luz do sol, por exemplo.

Ambas se invejavam nesses aspectos. Enquanto Morgana sonhava em poder passear durante o dia, Kayle queria a bravura de se aventurar pela noite fria e solitária. Mas ela não era solitária, pelo contrário, era rodeada de amigos que viviam nas regiões mais próximas, as Vilas Mortas, como foram denominadas — um território que não tinha domínio de nenhum dos dois lados dos reinos que habitavam aquelas terras.

Morgana pensara em ir morar lá, mas seria rejeitada, assim como sua irmã. Solaris e Lunaris não eram bem-vindos. Por isso se disfarçavam sempre que iam fazer compras e vendas. Por segurança. Por medo.

A bruxa das trevas rangeu os dentes. Sua vida nunca fora tão tediosa antes. Mas onde estava sua irmã que não voltava? Havia saído horas atrás para buscar as novas encomendas de seus suprimentos para o próximo mês.


Kayle


Ela não notaria, talvez nem desconfiasse. Mas Kayle ouviu. Ouviu toda a conversa entre sua irmã e os tais Deuses Antigos. Era uma desonra, uma ofensa. As únicas Deusas que seguiria seriam Leona e Sigel, os deuses da Lua que fossem para o inferno.

Segurou as duas espadas na mão e entregou para a mulher que esperou anos para conhecer. Leona.

— Isto é tudo o que tem a oferecer? — Perguntou ajeitando sua armadura dourada.

— Isto e minha eterna lealdade, Vossa Alteza, esperei anos para tomar coragem e vir assumir meu lugar de direito.

Sabia que Morgana riria por vê-la falando assim, mas não se importava. Finalmente encontraria seu lar e pararia de brincar de casinha com a adorada da mamãe.

Como ela ousara cogitar ter Kayle como apenas seu braço direito? Sua seguidora, sua... Serva!? O ódio que tomava conta do coração da bruxa da luz era maior que o amor que um dia sentira pela irmã. Não, pensou melhor, nunca amara Morgana, apenas teve piedade com a garota estranha que vivia com medo do dia, com medo do sol, com medo da vida!

Mas não, as coisas seriam diferentes de agora em diante.

— Me informe a localização da bruxa.

Antes que Kayle pudesse dizer, Leona retornou a falar, passando as mãos pelos fios de cabelo acobreados que adornavam seu belo rosto bronzeado.

Virtude: A Verdadeira EscolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora