Exércitos Elementais

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Há milênios...

Odiava a claridade, odiava com todas as forças. Mas tudo ficaria bem, enquanto estivessem de mãos dadas, tudo ficaria bem. Estavam atravessando a floresta para se banharem no rio. As águas eram tão claras que haviam rumores de terem sido batizadas por uma ninfa antiga, uma lembrança e um agradecimento pelo cuidado com seu lar.

— Tá vendo? Por isso ninguém pensa que somos irmãs, você está tão branca que podem te confundir com um fantasma! — apontou Kayle com os cabelos loiros bagunçados pelo vento, com a boca aberta em um sorriso banguelo.

Morgana se eriçou e começou a se afastar dela.

— Pois eu me acho bonita assim, tá bom? Eu lá preciso ficar bronzeada que nem você? — bufou.

Kayle ficou preocupada, estava apenas brincando, a irmã tivera levado como uma ofensa mesmo? Se aproximando devagar das costas de uma pequena e magricela Morgana, foi pega de surpresa. A bruxa atirou litros de água em sua cara.

— Sua...

A empurrou no rio e mergulhou, as duas brincando de jogar água uma na outra até que ficassem com os braços cansados e passassem a boiar, deixando os corpos serem levados pela tranquila correnteza. Afinal, não corriam perigo algum, poderiam voar quando a cachoeira se aproximasse.

Ficaram ali até o fim da tarde, quando o Sol começou a se esconder, provocando arrepios em Kayle.

— Quero ir embora, Morg — anunciou.

Morgana se aproximou da irmã e a abraçou.

— Vai ficar tudo bem, eu estou aqui.

De mãos dadas, voltaram o mais depressa possível para casa e, por um milagre, Morgana conseguiu convencer a irmã de assistir ao show de estrelas cadentes que estava acontecendo naquela noite. Kayle ficara boquiaberta, não fazia ideia de como podiam haver coisas bonitas na escuridão da noite. Nunca tirara muito tempo para observar os pontos brilhantes que pontilhavam o céu acima de sua cabeça. Talvez ela pudesse voar até uma estrela e trazer para a irmã. Sorriu com o pensamento. Sabia que Morgana iria até à estrela mais brilhante, mesmo que queimasse a pele dela, para agradá-la com um pedaço do Sol.

— Kay. — A chamou. — Às vezes, eu me imagino numa guerra, sendo uma bruxa-guerreira de verdade, que nem a mamãe e o papai — confessou sussurrando.

Kayle abriu um sorriso discreto.

— Ah é?

Morgana assentiu.

— E como a princesa Morgana gostaria que fosse o exército dela, vossa majestade? — forçou sua voz para soar como a de um mordomo, provocando uma risada gostosa na irmã.

— Eu não sei... Sempre tenho o mesmo sonho à noite, sabia? — sussurrou mais uma vez, o brilho e o sorriso se apagando.

Ela sabia o que viria a seguir. Os pesadelos. Mamãe e papai nunca disseram como eram os pesadelos de Morgana, mas Kayle sabia que ela aparecia, porque a irmãzinha choramingava por seu nome, pedindo ajuda, pedindo... não conseguia se lembrar.

Permaneceu em silêncio, mas entrelaçou seus dedos, um incentivo silencioso.

Morgana fungou o nariz, parecia estar querendo chorar.

— É uma guerra... horrível. Tem outras de mim, não exatamente com o meu rosto, mas... — suspirou, tentando engolir o embargo na voz — Parece que estão conectadas à mim de alguma forma e... eu as vejo morrer. Morrer por mim.

Virtude: A Verdadeira EscolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora