Trilha de Corpos

7 1 0
                                    

Direitos autorais da imagem deste capítulo: https://www.artstation.com/artwork/580GD8

Direito da edição: desta autora


Morgana

Morgana conseguia manter o controle ainda de seu corpo, apesar das inúmeras entidades dentro de si. Fizera um feitiço tão forte e de maneira tão rápida, que sabia que mais tarde haveriam consequências. Mas bastava de fugir, bastava de dor e sofrimento, bastava de angústia pela podridão e pelo desgosto que a irmã vinha lhe dando. Ao descobrir que era tia e que mesmo assim Kayle se recusava a abrir mão do demônio que habitava em seu interior, só constatou o que já temia, que a irmã havia perdido a alma, a sanidade e seu coração. Na verdade, acreditava que Kayle nunca tivera um coração para se perder, pois quem tivesse o instrumento não trairia a própria irmã, a condenando ao exílio, a expulsando de seu próprio lar, construindo o que os pais tanto queriam, assumindo o lugar de direito que Morgana tinha.

Flutuando, Morgana ia seguindo pelo rastro deixado por Kayle, o cheiro de Alpésia no ar, trazendo um enjoo forte e um gosto amargo em sua boca. Não seria difícil encontrá-la, mas a contragosto teria de passar por seu reino antes de continuar. Carregar tantas entidades requeria uma força que ela não conseguiria lidar por muito mais tempo sem ajuda e sem mantimentos. Recorreria ao seu lar, à sua família, às suas irmãs.

— Saiam, por hora — ordenou.

Ao se ajoelhar, as entidades a obedeceram e se retiraram, esgotando quase que com todas as forças de Morgana, a fazendo se sentir fraca, faminta, sendo abatida por uma leve tontura. Sua visão se tornou turva e tudo o que a bruxa das trevas viu antes foram duas sombras, de uma arma tipo besta e um par de chifres. Mesmo perdendo a consciência, esboçou um sorriso e então foi engolida pela escuridão.

Uma voz a circundava no escuro, uma voz sombria que há muito não escutava. Alguém estava em sua mente. Conjurando todas as correntes o mais rápido possível e sua magia das trevas, criou os escudos mais impenetráveis e resistentes de todo o mundo, páreo até mesmo para Ela.

Um arranhão acariciou sua mente, mas ela não cederia. Ouviu-se uma risada feminina sensual e maléfica.

— Uma hora terás de ceder, Morganinha — ronronou Alpésia.

Morgana apenas sorriu para a escuridão.

— Tome cuidado, cara amiga, está em território desconhecido.

Ela riu.

— Estou? Estranho. Tenho a impressão de que já estive aqui antes. — A voz se tornou mais próxima, mais íntima, mais... quente. — Tenho a impressão de já ter arranhado todos esses escudos e de você tê-los abaixado para mim...

Morgana nem fez questão de proteger as imagens, deixou que elas viessem à tona. Imagens das duas tendo suas noites de prazer, Morgana a fazendo gemer e implorar, oferecendo carícias e pura agonia, para deixá-la mais forte e sedenta por mais, sempre mais.

Ambas ficaram em silêncio, apenas assistindo.

— Por que ela? — Morgana finalmente perguntou.

Não obteve resposta e ficou por um bom tempo escutando apenas o silêncio e o vento oriundo de onde quer que ela estivesse. Mas ela tinha todo o tempo do mundo, esperaria.

Tomando um susto, imagens novas apareceram, imagens do rompimento delas.

Há muito tempo...

"Morgana acabara de sair do banho, enrolada numa toalha de seda quase que transparente, oferecendo a perfeita visão de seus bicos eriçados pelo frio, apenas deixando Alpésia mais faminta, mesmo que segundo atrás tenha sido intrusa no banho da bruxa para satisfazer seus desejos.

Virtude: A Verdadeira EscolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora