01. Noite silenciosa

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Final de setembro de 1992

Severus Snape estava patrulhando os corredores muito depois do toque de recolher quando ouviu o gemido abafado.

Sua pele arrepiou e o cheiro o atingiu em seguida. Ômega, seu nariz lhe disse, e então, Criança. Criança angustiada.

A criança em questão estava em falso cio, pelo cheiro – uma simulação de estro sem liberação de óvulos que os ômegas experimentavam durante o início da puberdade. Pelo que Severus entendeu, poderia ser muito doloroso, com todas as cólicas do cio, mas nenhum dos aspectos sexuais, incluindo a capacidade de encontrar alívio ou satisfação.

Ômegas não eram raros, mas seus pais geralmente escolhiam educá-los em casa até que tivessem idade suficiente para encontrar companheiros. Havia apenas um ômega na população estudantil no momento – e ela já havia passado da puberdade.

Então, quem era esse?

Ele virou a esquina e parou abruptamente, vendo um rosto pálido e uma cabeça muito familiar com cachos pretos e rebeldes.

Potter. Por que sempre tinha que ser Potter?

O menino estava sentado em uma alcova escura com as pernas dobradas e a cabeça apoiada nos joelhos. Uma capa cinza que Severus reconheceu com um arrepio de indignação estava colocada em seus ombros, mas estava aberta. Seus olhos estavam fechados, sua respiração irregular, as cutículas de seus polegares rasgadas e sangrando onde suas unhas haviam cravado.

Severus inspirou e exalou, tentando decidir a melhor forma de proceder. O filhotinho arrogante estava violando o toque de recolher novamente. Ele não respeitava regras ou autoridade, assim como seu pai.

Mas ele também estava com dores consideráveis.

Ele ainda não tinha notado Severus se aproximando.

— Potter — o professor disse em tom de advertência.

Para crédito do menino, ele colocou a varinha na mão mais rápido do que a maioria dos adultos que Severus havia duelado.

Severus duvidava que fosse capaz de parecer reconfortante naquele momento, então tentou um tom neutro.

— Afaste isso. Eu não vou machucar você.

— Snape. — O menino olhou rapidamente para a escuridão que os cercava, mas Severus não sabia se estava procurando por aliados ou simplesmente por reflexo. Sua voz era baixa e tensa. — Algo está acontecendo comigo.

— Você é um ômega.

Potter não deu nenhum sinal de reconhecer a palavra.

— Você poderá ter filhos — esclareceu Severus.

Potter respirou fundo de forma audível e sua testa enrugou-se em confusão.

— Vou engravidar? Mas... eu sou um menino.

— Mesmo assim.

Potter continuou a olhar para ele através daqueles óculos absurdos, parecendo confuso e desconfiado e muito jovem.

— Isso significa que você terá certos instintos que tentarão direcionar suas ações. Você precisará aprender a reconhecê-los pelo que são e fazer as pazes com eles. Ignorá-los completamente seria infrutífero, mas ceder a eles sem lutar faria de você menos de você mesmo.

— Eu não entendo.

Claro que não. Severus sorriu levemente com desdém e depois alisou-o. Antagonizar Potter era contrário ao que precisava acontecer agora.

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