O escritório de Severus era simples e digno. Exceto pelas quatro estantes lotadas, ele manteve ao mínimo os sinais de seus interesses pessoais.
— Nenhuma árvore? — Potter perguntou enquanto seguia Severus pelas paredes de retratos cochilando.
Severus bufou. Potter estava realmente surpreso?
Antes que ele pudesse formular uma resposta adequadamente contundente, uma voz idosa, mas jovial, soou do retrato mais recente na parede.
— Sim, é uma pena ver estes cômodos tão vazios nesta época do ano. Olá, Harry.
Severus bufou pela segunda vez. Albus não falava com ele há semanas - mas é claro que o velho idiota iria aparecer assim que Potter aparecesse em cena.
— Olá, senhor — Potter respondeu educadamente, aproximando-se do retrato com as mãos nos bolsos da jaqueta. — É bom te ver. Feliz Natal.
— E você também, meu garoto. Espero que você tenha um Natal muito feliz. — Sentando-se mais ereto em sua mesa pintada, o retrato do ex-diretor olhou entre os dois com aquele maldito brilho nos olhos. — Infelizmente, Severus nunca gostou tanto do Natal quanto se poderia esperar.
— Meu castelo inteiro está cheio de azevinhos, enfeites e sinos de prata — Severus respondeu irritado, indo para trás de sua mesa e começando a separar a papelada de final de ano espalhada em pilhas organizadas. — Por favor, permita-me um santuário onde eu não tenha que ouvir sobre boa vontade para com o homem onde quer que eu vá.
Potter tossiu, levantando a mão para cobrir o que era obviamente um sorriso. Severus lançou um de seus olhares mais suaves para o pirralho - que se aguçou e foi redirecionado assim que o retrato de Albus acrescentou em um sussurro em falsete:
— Mas eu acredito que ele secretamente tem uma queda por cantar canções.
— Ah, por... não pense que não vou lavar você com terebintina, velho.
Albus riu, implacável, e Potter disse:
— Talvez não devêssemos testá-lo, senhor. Não queremos estragar a diversão do Professor Snape. — Mas ele olhou para Severus e encontrou seus olhos, como se estivesse compartilhando a piada.
Ele vinha fazendo isso cada vez mais ultimamente. Sempre que algo particularmente absurdo acontecia em uma reunião de equipe ou entre os alunos, Potter olhava para Severus com uma ligeira curvatura nos lábios, quase como se quisesse lamentar. E com o passar do tempo, Severus foi achando cada vez mais difícil retribuir esses olhares com um olhar furioso ou impassível. Em vez disso, ele percebeu que estava esperando por eles. Não ansioso por eles, pelo amor de Deus, apenas... esperando.
— Como você está do outro lado do púlpito, meu garoto? — o retrato perguntou, trazendo os pensamentos de Severus de volta ao presente.
Potter sorriu novamente em resposta, sem se preocupar em esconder desta vez.
— Muito bem, eu acho — ele respondeu suavemente. Ele lançou outro olhar divertido para Severus. — Embora o Diretor possa dizer o contrário.
Severus revirou os olhos, empurrando o recipiente de cerâmica de uma poção volátil para o quadrado de luz solar no canto esquerdo de sua mesa. Ele a preparou na noite anterior, e o próximo requisito era que ela permanecesse em um recipiente de barro sob luz natural por sete dias.
— O Sr. Potter, até o momento, parece ser suficiente para o cargo — disse ele. Afinal, ele detestava ser previsível. — Para uma análise mais detalhada, ele precisará aguardar minha avaliação formal em janeiro.
Uma medida do quanto sua opinião sobre Potter havia mudado nos últimos tempos era que ele não estava nem um pouco surpreso com o fato de o garoto ter se mostrado bom em seu trabalho. De acordo com todos os relatos, suas aulas eram justas, atenciosas e interessantes. De modo geral, os alunos pareciam gostar dele. Até mesmo os Sonserinos.
Vários dos alunos alfa mais velhos haviam reclamado contra aprender com um ômega nos primeiros meses de ensino, é claro. Como sempre, Potter optara pela abordagem direta, oferecendo-se para duelar com qualquer um que quisesse desafiá-lo na frente da classe.
— É uma oportunidade de ensinar — dissera ele a Severus durante o café da manhã, comendo um scone com uma expressão inocente demais.
Severus o deixara à vontade. Os duelos nunca seriam uma grande competição, afinal de contas - e talvez os pequeninos realmente aprendessem alguma coisa vendo a Defesa em ação.
Agora, ele olhou para cima de sua mesa e viu Potter parecendo bastante confuso.
— Oh, não aja como se eu tivesse coroado você como Rainha do Mastro — Severus murmurou rigidamente.
Respirando fundo, ele pediu licença para preparar uma xícara de chá para ambos. Por mais que ele quisesse que Potter fosse embora o mais rápido possível, seus instintos não lhe permitiriam hospedar um ômega no que era essencialmente sua casa sem oferecer alguma forma de alimento.
Ele podia ouvir Potter continuando a conversar com o retrato de Albus ao fundo enquanto colocava a água para ferver na chaleira com aquecimento automático que ele guardava para essas situações, mas ele ignorou isso em favor de se repreender mentalmente. Ele tinha sido muito cordial com o pirralho. Ele precisaria encontrar uma maneira de redesenhar a distância entre eles. Por mais grato que estivesse por Potter ter conseguido acabar com a guerra, Severus não desejava ser a última aquisição do fã-clube do campeão - ou do que restava dele, em qualquer caso.
Quando Severus voltou, o jovem estava empoleirado no lado dos visitantes da mesa de Severus. Severus entregou-lhe o chá sem cerimônia e olhou carrancudo até que Potter entendeu a dica e se sentou na cadeira, então se posicionou em frente ao garoto e colocou as pontas dos dedos sob seu queixo.
— Agora, Sr. Potter, já perdemos tempo suficiente. — Ele estreitou os olhos. — Por favor, explique-me o que você desejava tão desesperadamente discutir.
— Oh, certo. — Encontrando seus olhos, Potter passou a mão pelos cabelos e endireitou os ombros, obviamente se preparando para alguma coisa. Sua garganta balançou. — Primeiro, eu queria...
Ele parou no meio da frase e fechou os olhos por um segundo, soltando um suspiro quando um sulco apareceu em sua testa.
Severus se inclinou para frente. O que havia de errado com o menino?
— Potter, você está doente?
— Hum, não. — O jovem abriu os olhos novamente, oferecendo um sorriso fraco. — Não é nada. Desculpe. Devo ter... voado muito forte agora. — Desviando o olhar de Severus com o que definitivamente era um rubor subindo em suas bochechas desta vez, ele colocou sua xícara de chá na beirada da mesa e pegou o pote de cerâmica próximo.
O que aconteceu a seguir pareceu ocorrer em câmera lenta.
— Este é o açúcar? — Potter perguntou, levantando o pote com uma das mãos.
— Potter, não... — Severus começou, avançando para tirar o objeto das mãos de Potter.
Ele ouviu vidro quebrando.
Potter recuou com o movimento repentino de Severus.
O pote escorregou de seus dedos. Ele caiu na mesa e se quebrou em pedaços, seu conteúdo obscuro se espalhando pelos torsos de ambos.
— Seu idiota — Severus sibilou assim que o silêncio se instalou novamente. — O que é que você fez?
Potter olhou para a bagunça e depois para Severus.
— Ah, merda. Desculpe, professor. — Ele balançou a cabeça com evidente desgosto e então sacou a varinha. — Mas eu vou limpar isso. É só um pouco de poção derramada.
— Esse "pouco de poção derramada", como você tão bem disse — Severus podia ouvir sua voz tremer. — É uma poção experimental altamente potente que tira de todos os que entram em contato com ela a capacidade de realizar magia. Ela também age no ambiente ao redor para bloquear portas. Os efeitos podem durar de horas a uma semana.
Seus olhares se encontraram. As narinas de Potter dilataram e ele empalideceu. Ele sacudiu a varinha em um feitiço rápido e empalideceu ainda mais quando nada aconteceu.
— Oh, porra— ele disse, resumindo os pensamentos de Severus com precisão.
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Holiday Magic | Snarry
FanfictionPara surpresa de ninguém, Severus Snape não gosta muito do Natal. Mas quando ele e Harry Potter ficam presos juntos em uma situação complicada durante as férias, será que ele aprenderá a abraçar o espírito natalino, afinal? [Esta é uma tradução auto...